Lula entregou-se à polícia

O ex-Presidente continua a negar as acusações de corrupção contra si no âmbito da Lava-Jato. Viagem para Curitiba foi organizada com a polícia federal.

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O ex-Presidente só conseguiu sair a pé e com os seus seguranças a formarem um cordão Leonardo Benassatto/Reuters
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Apoiantes impedem a saída de Lula num carro da Polícia Federal Leonardo Benassatto/Reuters
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Horas depois de anunciar que iria "cumprir o mandado" de detenção e entregar-se à polícia, Lula da Silva conseguiu finalmente abandonar o edifício do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo, arredores de São Paulo.

Depois de um carro que deveria levar o ex-Presidente para o aeroporto de Congonhas ter sido barrado por apoiantes, Lula acabou por sair a pé, entrando a seguir numa viatura da Polícia Federal. A entrega aconteceu mais de duas horas depois do previsto e após tensas negociações entre líderes do PT e sindicalistas com os apoiantes que recusavam deixá-lo cumprir o mandado.

A saída, por um portão que entretanto fora arrancado por apoiantes, aconteceu entre empurrões e muita tensão. Os seguranças do ex-presidente fizeram um cordão para permitir que ele saísse. 

Do aeroporto, Lula seguiu num jacto da Polícia Federal para Curitiba cerca das 20h45 locais, 00h45 de domingo em Lisboa. Tanto no aeroporto como na prisão da cidade já se encontravam muitos apoiantes à sua espera. Na prisão e Curitiba houve também uma manifestação anti-Lula e a polícia teve de criar áreas separadas. 

Lula confirmara que se iria entregar para ser detido num discurso durante a manhã, depois de uma missa em memória da sua mulher, que morreu no ano passado e que faria 68 anos este sábado. 

Nas palavras que dirigiu aos apoiantes que se concentraram diante da sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (arredores de São Paulo), Lula voltou a negar as acusações apresentadas contra si e pelas quais foi condenado a 12 anos de prisão.

"Quem quiser decidir com base na opinião pública largue a toga e vá ser candidato num partido político", afirmou Lula, dirigindo-se aos juízes dos vários tribunais que confirmaram a sentença e decretaram a sua prisão.

"Não lhes perdoo por terem passado para a sociedade a ideia de que sou um ladrão", disse. Quando acabou de discursar, Lula saiu nos braços dos apoiantes, prometendo não se baixar. "Vou chegar de cabeça erguida."

O juiz Moro tinha emitido uma ordem de prisão para ser cumprida até ao fim da tarde de sexta-feira, mas os advogados de defesa entraram em negociações com a Polícia Federal para adiar por um dia.

Pouco antes do discurso de Lula, o Supremo Tribunal Federal rejeitou um pedido apresentado pela defesa do ex-Presidente, com o objectivo de travar a sua detenção.

Lula é "uma ideia"

A partir de agora, disse Lula, "a luta fica nas mãos" de todos os que ali se reuniram para homenagear a sua mulher e para o apoiar. "A morte de um combatente não pára uma revolução", afirmou à multidão. Antes, o ex-Presidente afirmara que já não é só "Lula", uma pessoa, mas "uma ideia". 

Logo depois do fim da sua intervenção, enquanto era levado em braços e os músicos presentes cantavam a música de Chico Buarque Apesar de você, a actual presidente do PT, Gleisi Hoffmann, pegava no microfone e gritava "Eu sou Lula", nova palavra de ordem entre os apoiantes. Hoffmann afirmou que Lula ia preso mas lhes deixava a todos "uma missão", que inclui "ocupar Curitiba", cidade onde o ex-chefe de Estado vai ficar detido.

"O centro do Brasil será lá, em Curitiba, enquanto o nosso Presidente estiver preso", afirmou ainda Hoffmann, explicando que alguns "companheiros já se encontram na cidade". Ao mesmo tempo, "estaremos também na Praça dos Três Poderes, em Brasília", acrescentou, "numa campanha nacional e internacional".

Esta praça, na cidade construída de raiz para ser capital, se erguem as sedes dos três poderes: o Palácio do Planalto (poder executivo), o Supremo Tribunal Federal (judiciário) e o Congresso Nacional (legislativo).

Hoffmann quis apelar também a uma campanha de boicote à Rede Globo, acusando a televisão de ser "responsável pelo ódio que actualmente existe no Brasil". "Vamos começar uma campanha de deixar de assistir à Rede Globo. Essa safada está ganhando dinheiro cobrindo esse acto, cobrindo a injustiça que ela própria ajudou a impor. O povo não vai aceitar", afirmou a dirigente. A assistência que a ouvia gritou, em resposta, "a Rede Globo apoiou a ditadura".

Lula estava já entretanto no interior no sindicato e Hoffmann ainda falava à assistência e explicava que o ex-Presidente "está com a família, com os advogados", e "já teve o banho de carinho" que merecia. Lula almoçou com a família antes de se entregar à Polícia Federal.

Hoffmann despediu-se dos apoiantes, mas a vigília ("vigília de resistência e apoio a Lula", como se referem à iniciativa vários dos presentes" continua, com gritos de "Lula não se prende, Lula é a gente" e música.

Com Lula estiveram muitos actuais dirigentes do PT e partidos aliados, sindicalistas, ex-ministros, deputados e a ex-Presidente Dilma Rousseff. Alguns destes dirigentes permanecem em cima do palco e falam aos apoiantes para apelar "à continuação da luta" até "libertar Lula" e permitir que "ele regresse à presidência".

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