No MIL, pelas ruas do Cais do Sodré, entre o festival e a convenção

Entre quarta e esta sexta-feira, o MIL - Lisbon International Music Network tomou conta das ruas do Cais do Sodré, com concertos à noite e debates, apresentações e tudo o que tenha que ver com a indústria musical de manhã à tarde. Este sábado, há ainda uma afterparty.

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Os espanhóis Candeleros tocaram no Sabotage na quinta-feira Afonso Carqueijeiro/MIL
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Uma das conversas do MIL Mariana Ramos/MIL
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O Gringo Sou Eu, que tocou no bar Tokyo Jaime Pires/MIL

O dono de uma sala de concertos em Torres Vedras, entre o público a assistir ao MIL - Lisbon International Music Network, pede ajuda aos intervenientes numa conversa sobre a música que se faz na periferia lisboeta para encontrar mais hip-hop para programar. É que os jovens da sua cidade, diz, não ligam muito ao rock. No dia seguinte, um rapper pede a agentes internacionais que lhe facultem os seus contactos e pergunta-lhes se os festivais que organizam também têm espaço para reggae, dancehall e rap. Este é o tipo de interacção que se pode ver durante o MIL, um híbrido de convenção e festival de música, onde de dia há conversas e de noite concertos em várias salas da zona do Cais do Sodré.

A razão de ser do MIL - Lisbon International Music Network, cuja segunda edição decorreu entre quarta e sexta-feira, é fomentar uma rede de músicos, agentes e pessoas ligadas à indústria musical. Essa parte, que acontece durante as manhãs e as tardes passadas no festival, inclui conversas, apresentações, filmes ou speed meetings para profissionais ou aspirantes a profissionais. São eventos com um bilhete diferente e mais caro do que o mais convencional, que só dá acesso aos concertos nocturnos. Esta componente de convenção no festival acontece entre o Pólo Cultural das Gaivotas e o número 9 da Rua da Boavista, em Lisboa.

Nesta edição, deu para se ficar a conhecer o panorama dos festivais no Brasil, para se discutir o futuro do streaming e dos direitos de autor, a relação entre activismo e música, bem como inúmeros outros tópicos. Por exemplo, na já mencionada conversa do hip-hop, que decorreu na quarta-feira, a ideia era perceber, com o rapper e editor TNT e o investigador e professor António Brito Guterres, como é que alguma da música feita na periferia de Lisboa não tinha reconhecimento oficial, muito menos fácil acesso a palcos convencionais, isto apesar de gerar milhões de visualizações no YouTube. 

Finda a parte das conversas, chegava a programação musical. Neste festival um visitante pode decidir de antemão o que vai ver, escolher ficar só numa das salas de concertos, ou então olhar para o programa e percorrer o Cais do Sodré à procura do que estiver a acontecer a essa hora nos vários palcos. Foi o que fizemos na noite de quinta-feira. Começámos pelo Lounge, onde ouvimos a última canção do barbudo músico brasileiro Maurício Takara. Rumámos ao bar Tokyo para ver um trio de rock instrumental barulhento norueguês com duas guitarras e uma bateria chamado MOKRI/// que, na vontade de tocar, perguntava se ainda tinha tempo para mais uma canção apesar de já estar na hora de acabar. A seguir, passámos pela fila gigante de pessoas que tentavam entrar no Musicbox para ver os brasileiros Boogarins, isto para depois chegarmos ao Sabotage, descermos as escadas e dançarmos com a cumbia e os ritmos afro-caribenhos com toques modernos dos espanhóis Candeleros, facilmente a melhor descoberta que nos passou pelos ouvidos nesse dia.

Depois disso, e ainda não muito tarde, voltámos ao Lounge para espreitar a one-man band alcobacense Mr. Gallini, passámos pelo Tokyo para espreitar o brasileiro radicado no Porto O Gringo Sou Eu, para depois fazer o mesmo com o duo portuense Best Youth no Musicbox a seguir a uma outra passagem pelo B.Leza para ouvir os belgas Phoenician Drive, banda rock que se apropria de sonoridades de outras latitudes, com um oud do Médio Oriente na formação. Ainda deu para vislumbrar os espanhóis Voicello, um duo que junta ópera e pop, com uma soprano e um violoncelista que tocam com um baterista. E, mais para os lados da Rua Cor de Rosa, apanhar o final do concerto lotadíssimo do rapper português NERVE no Viking, para depois voltar ao Sabotage e ver os espanhóis com membros chilenos The Zephyr Bones. E ficar por aí, mais por cansaço do que por falta de hipóteses, já que o Sabotage, o Lounge, o Rive Rouge e o Musicbox tinham DJ sets até às seis da manhã.

O festival propriamente dito acabou na sexta-feira, mas, longe do Cais do Sodré, em Marvila, há ainda uma afterparty neste sábado. É a partir das 18h, na fábrica da cerveja MUSA (que é a patrocinadora do evento), com cachupa para o jantar e uma actuação de Cachupa Psicadélica, o projecto de Luís Gomes, cabo-verdiano radicado na Amadora que junta a tradição crioula ao rock, bem como DJ sets de programadores de festivais, tanto do MIL quanto do açoriano Tremor, o holandês Le Guess Who?, e o goiano Bananada. A entrada é livre – se bem que quem tiver uma pulseira do MIL tem entrada facilitada –, enquanto a comida é paga.

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