Ciganos portugueses são dos que mais se sentem discriminados

Análise da situação em nove países europeus onde vivem a maioria dos ciganos residentes na UE mostra que a discriminação se agravou em Portugal nos últimos anos.

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Portugal tem o pior resultado na discriminação dos ciganos que procuram habitação Enric Vives-Rubio

Entre nove países europeus analisados, Portugal é onde os ciganos mais se queixam de discriminação na procura de habitação, destaca-se num relatório da Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia (FRA).

O documento divulgado nesta sexta-feira, dois dias antes da comemoração do Dia Internacional dos Ciganos, avalia a discriminação destes em nove países (Bulgária, Croácia, República Checa, Grécia, Hungria, Portugal, Roménia, Eslováquia e Espanha) onde vivem cinco dos seis milhões de ciganos da União Europeia.

O relatório recorre a dados recolhidos através de inquéritos, realizados em 2011 e 2016 junto de 34.000 pessoas, para analisar a evolução em indicadores relativos a condições de vida, educação e desemprego jovem.

No que diz respeito à discriminação sentida pelos ciganos que procuram casa, Portugal obteve o pior resultado nos dois anos e aumentou esta taxa entre 2011 e 2016 (de 67% para 75%). O mesmo aconteceu na República Checa (52% para 65%) e em Espanha (35% para 45%).

O relatório Uma preocupação persistente: a romafobia é um obstáculo à integração de ciganos evidencia as desigualdades que afectam os ciganos da Europa.

Um em cada três ciganos é vítima de assédio e as suas condições de vida na UE não se alteraram significativamente entre 2011 e 2016: 80% dos ciganos estão em risco de pobreza, face à média comunitária de 17%, e 30% vivem em casas sem água canalizada.

O acesso à água potável está muitas vezes ao nível das populações do Gana ou do Nepal, adianta ainda o documento.

Também a discriminação sentida na procura de emprego registou um aumento na Croácia e em Portugal (13 e 18 pontos percentuais, respectivamente).

Em termos da percepção de discriminação no local de trabalho, a taxa aumentou na Grécia, Roménia, Eslováquia e Portugal, sendo este o país onde mais subiu, passando de 15% para 40%

O assédio devido à origem étnica foi reportado por 94% dos homens ciganos residentes em Portugal, 93% na Grécia e 90% na Croácia.

A taxa de abandono precoce da educação e formação (sair da escola entre os 18 e os 24, sem ter concluído a escolaridade obrigatória) foi também particularmente elevada em Portugal em 2016, rondando os 90%.

O número de crianças ciganas integradas em turmas totalmente ciganas, revelador do fenómeno de segregação na educação, aumentou globalmente em todos os países, com destaque para a Bulgária (16% para 29%) e Portugal (3% para 11%).

Em termos de saúde, quase todos os inquiridos em Portugal, Eslováquia e Espanha afirmaram estar cobertos por assistência médica.

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