Trabalhadores da Google opõem-se a trabalho para o Pentágono

“Achamos que a Google não deve estar no negócio da guerra. Por isso pedimos que o projecto Maven seja cancelado", escreveram os trabalhadores numa carta enviada ao director executivo, assinada por 3100 pessoas.

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A Google diz que a tecnologia não vai ser usada para disparar armas Reuters/Mike Blake

Um grupo de trabalhadores da Google (incluindo alguns engenheiros) estão a fazer circular uma carta em protesto contra o envolvimento da empresa num programa tecnológico do Pentágono. Na carta assinada por 3100 pessoas (das mais de 70 mil que trabalham na empresa), os empregados da Google pedem à administração que cesse o programa de desenvolvimento de inteligência artificial para interpretação de imagens em vídeo dos drones do departamento de Defesa norte-americano.

“Achamos que a Google não deve estar no negócio da guerra. Por isso pedimos que o projecto Maven seja cancelado, e que a Google rascunhe, publicite e defenda uma política clara que afirme que nem a Google nem os seus contratados irão construir tecnologia de guerra”, lê-se na carta, dirigida ao director executivo da Google, Sundar Pichai, disponibilizada pelo New York Times.

O projecto Maven, dizem os trabalhadores da empresa, entra em conflito com a cultura empresarial da Google, que defende uma abordagem mais pacifista. O objectivo deste projecto é criar um mecanismo de vigilância que ajude a detectar veículos e outros objectos nos vídeos captados pelos drones do Pentágono.

Em comunicado, citado pelo NY Times, a Google já veio esclarecer que a tecnologia não vai ser usada para “operar ou fazer voar drones”, que “não será usada para fazer disparar armas” e que não vai ser usada sem supervisão humana.

“A tecnologia usada para identificar imagens para revisão humana foi feita para salvar vidas e impedir que alguém tenha que desempenhar trabalho entediante”, lê-se no comunicado, citado pelo NY Times

A empresa diz que o projecto Maven é “não ofensivo”, ainda que a tecnologia de detecção por vídeo do Pentágono seja usada para operações de contraterrorismo, cita o NY Times. E de acordo com a informação disponibilizada pelo Departamento de Defesa norte-americano, será mesmo esse o fim do projecto Maven.

O mote da Google é “Don’t be evil” ("Não sejam malvados", em português) e, dizem os trabalhadores na carta, este “contrato coloca a reputação da Google em risco e opõe-se directamente aos seus valores nucleares”. Os redactores da carta defendem que trabalhar para o Pentágono pode prejudicar o negócio por alienar potenciais clientes e talento.

“O facto de outras empresas também estarem a participar não faz com que seja menos arriscado para a Google”, acrescentam os empregados. Várias empresas do sector tecnológico (como a Amazon e a Microsoft) tornaram pública a sua intenção de participar em projectos na área militar.

O programa-piloto do projecto Maven começou em 2017 com o objectivo de acelerar a aplicação militar de inteligência artificial. O orçamento previsto para o primeiro ano cifra-se em menos de 70 milhões de dólares, de acordo com a porta-voz do Pentágono ouvido pelo NY Times. O objectivo desta carta é dissuadir a Google de entrar no negócio a longo prazo.

Num comunicado, a Google diz que “qualquer uso militar de inteligência artificial levanta preocupações válidas” e que vai estar a “promover activamente uma discussão deste tópico” na empresa.

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