Presidentes da Apple e do Facebook trocam acusações

Tim Cook disse que nunca estaria na mesma situação que o Facebook. Zuckerberg respondeu que a rede social "não é só para pessoas ricas."

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O fundador do Facebook diz que “o modelo de anúncios é o único modelo racional” LUSA/Alberto Estevez
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Tim Cook, presidente da Apple Jason Reed/Reuters

Mark Zuckerberg classifica as críticas recentes do presidente executivo da Apple, Tim Cook, ao Facebook como “simplistas” e “ao lado da realidade”. A semana passada, o líder da Apple aproveitou o lançamento das actualizações de segurança do novo sistema operativo do iPhone – o iOS 11.3 – para criticar a política de privacidade da rede social e defender a da sua empresa.

Há semanas que o Facebook está sob os holofotes devido a acusações de que a rede social permitiu a exploração de dados pessoais de milhões de utilizadores para campanhas políticas pela empresa de consultoria Cambridge Analytica. Aos olhos do líder da Apple, a rede social é a maior culpada: numa entrevista conjunta à revista Recode e ao canal de televisão norte-americano MSNBC, Tim Cook diz que “nunca estaria na mesma situação” que Mark Zuckerberg porque a Apple não vê os seus clientes como produtos.

“Podíamos fazer toneladas de dinheiro se 'monetizássemos' os nossos clientes, se os clientes fossem os nossos produtos,” disse Cook, numa referência ao modelo de negócio do Facebook que depende da publicidade apresentada no site. “Nós escolhemos não fazer isso… Não vamos traficar a vida pessoal das pessoas.”

Zuckerberg não hesita e defende o seu sistema de anúncios, frisando que o Facebook “não é só para pessoas ricas”. Numa entrevista recente à Vox – uma de muitas comunicações recentes com os media –, o fundador do Facebook diz que “o modelo de anúncios é o único modelo racional” que pode suportar os serviços que a sua plataforma oferece. “A realidade é que se queremos construir um serviço que ajude a conectar todas as pessoas do mundo, há muitas pessoas que não podem pagar os custos”, explica Zuckerberg. “No Facebook, fazemos definitivamente parte do grupo de empresas que trabalham para cobrar menos às pessoas e oferecer um serviço gratuito.”

A Apple não está sozinha a criticar o Facebook: com o eclodir do escândalo Cambridge Analytica, a empresa é alvo de uma investigação pelo Parlamento Europeu, e já foi chamada a depor no Congresso norte-americano e no Parlamento britânico. Mas a opinião da Apple sobre a privacidade dos seus utilizadores – que Tim Cook descreve como um “direito fundamental” – não é nova ou isenta de críticas. Em 2016, a empresa foi alvo de atenção negativa por se recusar a desbloquear o telemóvel do responsável pelo tiroteio em San Bernardino, EUA, a pedido das autoridades (o FBI teve de pagar mais de um milhão de dólares a uma empresa externa para conseguir entrar no iPhone usado por um dos terroristas).

Em comum, porém, tanto o Facebook como a Apple, começam a admitir que regulação pode ser a única solução para as grandes tecnológicas de Silicon Valley. “A auto-regulação é o melhor tipo de regulação, mas acho que já passámos esse ponto”, admite Tim Cook, na entrevista com a MSNBC. As novas actualizações de segurança da Apple incluem um ícone que reúne toda a informação que o utilizador dá à Apple quando utiliza os seus serviços. Já Zuckerberg diz que “adorava ver regulamentação sobre transparência na publicidade.”

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