Jovens ainda gostam de ir às lojas, mas 80% já pesquisam na Net antes de comprar

Segundo o Observador Cetelem de 2018, quatro em cinco millennials portugueses pesquisam os produtos online antes de irem a uma loja fazer as suas compras.

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Neil Hall/REUTERS

Os jovens adultos portugueses ainda preferem as lojas físicas ao comércio online. Esta é uma das conclusões do Observador Cetelem de 2018, que estudou os hábitos de consumo dos millennials em 17 países europeus e é divulgado nesta segunda-feira. "Apesar do contexto digital e do crescimento do comércio online, que tem vindo a desafiar os modelos de distribuição tradicionais, os millennials portugueses surpreendem enquanto consumidores quando afirmam que gostam e lhes dá prazer fazer compras e que continuam a preferir as lojas físicas ao comércio online", dizem os autores do estudo. 

Em Portugal, 80% destes adultos na faixa etária entre os 18 e os 34 anos admite procurar os produtos online, mas depois vai a uma loja física comprá-los – este é o valor mais elevado entre os millennials estudados. 

Apesar de preferirem mais as compras em lojas físicas do que os seus pares europeus, os millennials portugueses são os que mais referem interagir com os retalhistas nas redes sociais. Também são os que mais reportam ver vídeos de retalhistas nestas plataformas e colocar questões via Facebook, Instagram ou Snapchat.

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Ainda assim, a importância do contacto físico também se revela ao nível dos hábitos de consumo, uma vez que 86% afirma gostar de ver e tocar nos produtos antes de fazer uma compra, bem como sair da loja com os produtos em mão. Já os tempos de espera para pagar são aquilo que mais demove os consumidores portugueses.

O Cetelem é uma instituição financeira de crédito que realiza anualmente estudos sobre as tendências de consumo – a análise de 2018 foi feita em parceria com a Kantar TNS, uma empresa especializada em estudos de mercado. Para este estudo foi utilizada uma amostra que o Cetelem diz ser representativa da população, composta por 17.200 pessoas, entre os 18 e os 75 anos, em 17 países europeus (França, Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Dinamarca, Espanha, Hungria, Itália, Noruega, Polónia, Portugal, República Checa, Roménia, Reino Unido, Eslováquia, Suécia). Dessas, 3400 são jovens entre os 18 e os 34 anos. Em Portugal, foram inquiridas 1000 pessoas – 440, entre os 18 e os 34 anos, 216 entre os 35 e os 49 anos, 344 entre os 50 e os 75 anos. Os inquéritos foram realizados através da Internet entre 2 de Outubro e 2 de Novembro de 2017.

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Alimentos e mobília

Os jovens adultos portugueses revelam alguma contenção nos gastos que fazem. Para 84% importa limitar os gastos ao que é “essencial” e 80% diz que, em vez de gastar o dinheiro, o coloca de parte para algo “realmente útil”. A média para os outros jovens adultos europeus é de 76% e 73%, respectivamente. O Cetelem sublinha que os jovens adultos portugueses expressam as suas intenções de consumo de forma “racional e moderada, até porque os dados indicam que a maioria considera que os seus rendimentos estão agora estáveis, mas ainda longe do poder de compra que gostavam de ter e, por isso, longe das suas expectativas”.

Quando querem opiniões sobre um produto a comprar, os millennials valorizam mais a opinião dos familiares e amigos, mas também as expressas por utilizadores em comentários online e nos sites dedicados à comparação entre produtos. Mais de metade vê as compras como um “prazer” e 84% gosta de visitar grandes centros comerciais. A média dos jovens europeus que diz gostar de frequentar estes espaços corresponde a 74%.

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Os alimentos e a mobília são os produtos que os millennials portugueses mais compram em lojas físicas. A comida é também o produto menos comprado online. No top das aquisições via web estão os produtos culturais, roupa e sapatos.

No que diz respeito ao consumo colaborativo, os millennials portugueses são os que menos reportam a utilização de aplicações de partilha de boleias. Mas mais de metade já afirma que repara objectos estragados em vez de os substituir por novos e que compra directamente aos produtores. A compra e venda de objectos usados também é comum entre os mais jovens. Para 84%, o consumo colaborativo é positivo.

Os produtos que os portugueses mais consideram alugar em vez de comprar são, à semelhança dos outros jovens europeus, os equipamentos de jardinagem. Os electrodomésticos e os produtos tecnológicos são aqueles em que há menos tendência para a partilha.

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Para visitar lojas físicas com mais frequência, os jovens portugueses dizem que gostariam de ter acesso a produtos originais que não podem ser encontrados em mais lado nenhum e que fosse disponibilizada na loja a mesma informação que é possível consultar no site – como produtos mais vendidos, com melhor qualificação ou comentários.

Menos endividados  

A contenção dos jovens adultos portugueses também se reflecte na sua percepção sobre a sua situação actual. Quando lhes pediram para classificar a sua situação actual de um a 10, os millennials portugueses classificam-na, em média, com um 5,7 – o valor fica abaixo da pontuação média europeia (6,1). Além disso, metade dos jovens adultos portugueses diz que quer gastar mas não tem dinheiro para tal. Um em cada quatro diz que nos 12 meses que antecederam o inquérito o seu poder de compra diminuiu. E mais de metade afirma que não vai gastar mais do que no ano passado.

Mas nem tudo é mau. Para 80% dos jovens adultos portugueses, poupar é parte do plano para 2018. Também são os que menos recorrem a créditos bancários: 71% dizem que não estão a pagar nenhum crédito actualmente. E os que menos afirmam recorrer ao saldo negativo da conta bancária. Além disso, 81% dizem-se optimistas em relação ao futuro.

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Os valores reportados pelos millennials portugueses são semelhantes aos transmitidos pela população das outras faixas etárias, à excepção da intenção de poupar, que se fica pelos 60%.

Num retrato global sobre os consumidores portugueses, o Cetelem conclui que estão “mais optimistas do que nunca e mais confiantes em relação à situação geral do país”. Além disso, “têm grandes expectativas quanto às lojas e acreditam que se tornariam mais agradáveis com ofertas mais originais, pagamentos mais rápidos e sem tempo de espera”.

Os jovens adultos portugueses consideram-se trabalhadores (58%), responsáveis (42%) e felizes (33%), mas as gerações mais velhas não pensam assim. Consideram-nos imaturos (42%), egoístas (36%) e materialistas (35%).

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Curiosamente, os millennials portugueses e a população com mais de 35 anos reportam os mesmos valores: passar tempo com a família, ter um trabalho estável e uma vida saudável.

O futuro

Os millennials portugueses também têm preocupações no que toca às compras em lojas físicas. As mais prementes são o desaparecimento gradual das lojas de bairro e o facto de os espaços comerciais se estarem a tornar cada vez mais semelhantes.

A maioria dos jovens consumidores portugueses acredita que, nos próximos dez anos, as lojas físicas vão alterar-se significativamente e apostam na mudança nos métodos de pagamento, na forma como fazem anúncios e nos serviços que oferecem.

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Além disso, acreditam que será possível fazer compras em realidade virtual, como se estivessem numa loja. No espaço de uma década, as impressoras 3D vão permitir que todos os tipos de produtos sejam feitos em casa, as lojas saberão a identidade dos consumidores e poderão enviar ofertas personalizadas.

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