Na escola mais moderna de Lisboa, os alunos comem em pratos de plástico

A Escola Maria Barroso não tem a potência eléctrica suficiente para que sejam confeccionadas refeições e lavada a loiça. A situação deve estar resolvida "até ao fim do ano lectivo", diz a câmara.

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A inauguração da escola foi também um momento de homenagem a Maria Barroso e contou com a presença dos filhos e do primeiro-ministro Margarida Basto

A cozinha está equipada e os funcionários estão prontos para cozinhar, mas os alunos da Escola Básica Maria Barroso almoçam refeições fornecidas por uma empresa em cuvetes de plástico, com talheres e copos também de plástico. O motivo? A escola foi inaugurada sem a potência eléctrica necessária para confeccionar pratos ou lavar a loiça.

Pelas contas da recém-formada associação de pais, desde o início do ano lectivo já foram gastos 432 quilos de plástico desnecessariamente. “Venderam-nos esta escola fantástica, mas pouco tempo depois do início das aulas começámos a saber que os alunos comiam em pratos de plástico. Disseram-nos que era uma situação pontual, que demoraria um mês ou mês e meio a resolver-se”, explica Catarina Ramalho, presidente da associação de pais.

No entanto, a situação não deve ser ultrapassada antes do Verão. “O cabo de electricidade que serve a escola é o mesmo que servia a obra”, explica o vereador da Educação da Câmara Municipal de Lisboa, Ricardo Robles. A escola funciona no edifício do antigo Tribunal da Boa-Hora, no Chiado, que também é usado pelo Instituto de Registos e Notariado. Para que a escola tenha um quadro eléctrico próprio, “o posto de transformação tem de ser alterado”, diz Robles.

A obra vai demorar pelo menos dois meses, até porque está sujeita a acompanhamento arqueológico, obrigatório nesta zona da cidade. A inauguração da escola esteve inicialmente prevista para 2013, mas só aconteceu em 2017 – e um dos motivos do atraso foi a descoberta de “vestígios arqueológicos relevantes”, disse a câmara no ano passado. Mas o vereador do Bloco de Esquerda diz ter a expectativa de que “até ao final do ano lectivo os trabalhos estejam concluídos”.

Por agora, os cerca de 120 alunos do jardim-de-infância e do primeiro ciclo vão continuar a almoçar como até aqui. “A comida sai da empresa, vem ser aquecida à Escola das Gaivotas e depois é transferida para a nossa escola”, descreve Rita Gouveia, que faz parte da direcção da associação de pais. Acresce que as crianças se queixam da qualidade da comida. “Os miúdos estão a comer muito mal. Um dia saí daqui com a minha filha às três e meia e, ainda não tínhamos chegado ao metro, ela correu para uma pastelaria e pediu uma empada, porque estava cheia de fome”, relata a mesma mãe.

A desilusão é ainda maior porque, no início do ano lectivo, os encarregados de educação foram informados de que a Escola Maria Barroso ia ter um projecto de alimentação saudável, à semelhança do que então existia na Escola Convento do Desagravo, entretanto parado. O objectivo deste projecto é o de ensinar os miúdos a terem cuidado com o que comem e que isso não implica passar fome. A escola até tem feito algumas iniciativas neste âmbito, mas, com a cozinha parada, falta o ponto fulcral do plano: refeições saudáveis no próprio estabelecimento de ensino. Entretanto, a câmara aprovou na semana passada a constituição de uma equipa especial que, entre outras coisas, tem como missão elaborar um Plano Municipal de Alimentação Escolar Saudável.

A falta de energia eléctrica suficiente tem trazido ainda outros problemas, descrevem Teresa Amaral e Luísa Sol, também dirigentes da associação de pais: os aquecedores não se podem ligar ou são ligados com parcimónia. “Eu tirei o meu filho das Gaivotas para o trazer para aqui”, desabafa Catarina Ramalho.

A Escola Maria Barroso foi inaugurada em Maio de 2017, depois da requalificação de 30% do antigo tribunal (o restante foi vendido pela câmara ao Estado), que custou 2,6 milhões de euros. A cerimónia serviu também para homenagear a professora, actriz e ex-primeira-dama, que nesse dia teria completado 92 anos de vida. Por esse motivo estiveram presentes o presidente da câmara, o primeiro-ministro, o ministro da Educação e os filhos de Maria Barroso e Mário Soares, Isabel e João Soares.

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