PSD defende expulsão de diplomatas russos e acusa Governo de posição “condicionada”

Fernando Negrão disse que a actuação do Governo foi "tímida", porque se limitou a condenar o envenenamento do ex-espião russo Serguei Skripal no Reino Unido. BE recusa ter tido qualquer contacto com o Governo sobre este assunto mas acompanha decisão tomada. PS nega condicionamento.

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O presidente do grupo parlamentar do Partido Social Democrata (PSD), Fernando Negrão LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

O PSD acusou o Governo nesta quarta-feira de ter uma posição "tímida e condicionada" pelo PCP e BE no caso Skripal e defendeu a expulsão imediata de diplomatas russos, tal como fizeram a maioria dos países da União Europeia.

Em declarações aos jornalistas no Parlamento, o líder da bancada do PSD, Fernando Negrão, anunciou ainda que o partido vai pedir uma "audição urgente" do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, para dar esclarecimentos sobre esta matéria na Assembleia da República.

Sobre a posição do Governo português, Fernando Negrão classificou-a de "tímida", porque se limitou a condenar o envenenamento do ex-espião russo Serguei Skripal no Reino Unido — cuja responsabilidade Londres atribui a Moscovo — e também "condicionada".

"A única explicação que encontro, num PS que foi sempre atlantista, é de se sentir condicionado pela aliança com PCP e BE", afirmou.

Questionado se o PSD defende a expulsão imediata dos diplomatas russos, Fernando Negrão respondeu afirmativamente. "A posição do PSD é que devemos alinhar com a maioria daqueles com quem temos estado sempre e devemos recomendar ao Governo que expulse os diplomatas russos da sua embaixada", afirmou.

PS recusa condicionamento

O PS reagiu às declarações de Negrão, acusando o PSD de forçar um "inexistente" nexo de causalidade entre a actual maioria de esquerda parlamentar e a posição do Governo português no caso "Skripal".

Para Pedro Delgado Alves, neste caso, "não há condicionamento algum [por parte do PCP e Bloco de Esquerda], mas o PSD está a todo o custo a tentar fazer um caso que não existe".

"O PSD entendeu tomar uma posição incompreensível face ao histórico das relações diplomáticas e àquilo que têm sido as posições prudentes deste e de anteriores governos de Portugal. O PSD revela também desconhecimento sobre as posições que Bloco de Esquerda e PCP têm tomado sobre esta matéria, mas sobre isso não cabe ao PS pronunciar-se", referiu.

Esta posição foi assumida em conferência de imprensa pelo vice-presidente da bancada socialista Pedro Delgado Alves. De acordo com o socialista, está-se apenas perante "uma tentativa muito forçada do PSD no sentido de encontrar nexos de causalidade e condicionamentos que, manifestamente, não existem por parte do Governo português, que encarou a questão como muitos outros Estados aliados".

Na perspectiva do dirigente da bancada socialista, "o Governo, com muito bom senso e com aquilo que são as melhores práticas, solicitou a vinda do embaixador de Portugal na Rússia para consultas - uma medida perfeitamente adequada tendo em vista a obtenção de informação sobre o caso".

"A posição do Governo português não é distinta daquela que foi adoptada por vários países aliados que tomaram decisões similares compatíveis e totalmente razoáveis face às circunstâncias que o caso exige", disse, em outra nota de demarcação face aos países que optaram pela expulsão imediata de diplomatas russos.

Ainda em defesa da posição do Governo, Pedro Delgado Alves referiu que o caso deve ser acompanhado "no contexto multilateral" e que, para já, "não há razões para outras medidas para além destas".

BE repudia ter condicionado Governo

Quem repudiou pouco depois a a acusação de condicionamento do Governo foi o Bloco de Esquerda. "Não tivemos nenhum contacto com o Governo nem transmitimos sequer qualquer ideia sobre esta temática", afirmou o líder parlamentar, Pedro Filipe Soares, no final da conferência de líderes.

Mesmo sem ter havido conversas sobre o assunto, o BE está de acordo com a decisão tomada pelo Executivo. "Consideramos que o Governo actuou de forma correcta ao, por um lado, pedir opinião ao embaixador para ter mais conhecimento do conteúdo, e por outro, não acompanhando uma escalada de tensão que tenderá a não ter bons resultados no futuro imediato", afirmou o líder parlamentar.

Mas deixou claro que também o seu partido também "condena com toda a clareza a tentativa de assassinato de um espião que não pode ser branqueada neste processo".

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