Ter civilização a mais sobre os ombros

Normalmente, não se é estúpido porque se quer ser estúpido. É-se estúpido porque não existe alternativa, porque não se perderam uns segundos a ponderar aquilo que se acabou a dizer

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Meia dúzia de dias atrás e a internet partia-se em três, depois de Pedro Arroja (esse mesmo, o das "esganiçadas" do Bloco de Esquerda) ter regressado com uma carrada de idiotices a propósito da adopção de crianças por casais homossexuais, dizendo que as pessoas andavam a afrontar as supostas vontades divinas. Permitam-me o especial enfoque para esta: Arroja, pleno de sabedoria a cheirar a mofo e sabe-se lá mais o quê, diz que deus é que o fez homem porque a mãe não sabe fazer pénis. Sim, isso mesmo. É tão irreal que era impossível inventar. O vídeo está aqui e vale por cada segundo.

Normalmente, não se é estúpido porque se quer ser estúpido. É-se estúpido porque não existe alternativa, porque não se perderam uns segundos a ponderar aquilo que se acabou a dizer. Ou, pelo contrário, perderam-se horas a reflectir naquilo que se afirmou - mas, nesses casos, é-se só estúpido a triplicar. Até porque vejamos a lógica do sujeito: deus é exclusivo responsável por certas coisas, incluindo ter produzido um Arroja – já que, como se vê, a mãe de Arroja não sabe fazer Arrojas. Ora, tendo em conta o que diz Arroja, das duas uma: ou deus gosta de fazer, de tempos a tempos, uns rascunhos de gente, ou não tem o mínimo jeito para o desenho. (in)Felizmente, não precisávamos de Arroja para chegar a esta conclusão, visto está que deus já pôs os pés pelas mãos demasiadas vezes na história deste planeta. Tenho cá para mim que a humanidade julga que deus tem as costas largas porque serve de desculpa para tudo. No meu entender, Arroja é tolo por culpa própria.

Arroja é apenas um exemplo num mar de gente que tem civilização a mais sobre os ombros. Há quem lhes chame preconceituosos, mas é mais que isso. Este tipo de pessoas está encurralado numa imensidão de regras que, a seu ver, é totalmente inalterável. Ideias de ontem que, crêem, se aplicam ao agora. Esquecem-se, ou nunca lhes explicaram, que a tradição cultural que se traz atrás quando se nasce é feita de toneladas de ideias fabricadas e inventadas, mastigadas e regurgitadas, que de um momento para o outro podem tornar-se obsoletas. E, no fim de contas, acaba-se a ir à televisão dizer que a mamã não sabe fazer pilinhas, que deus nosso senhor é que conhece a receita fálica.

Pouco importa que seja cliché, mas o que é cada vez mais relevante é que a garantia de bem-estar e paz seja assegurada ao máximo a todo e qualquer ser humano. Porque, afinal de contas, a normalidade é um conceito pouco realista e sobrevalorizado. Todos somos meio avariados da cabeça, cada um de nós tem a sua idiossincrasia doentia e incurável. Resta encontrar mecanismos que tornem a existência menos dolorosa do que a sua própria natureza prevê. Que é como quem diz: deixem-se de teorias e deixem a malta estar feliz à vontade.

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