Afonso Oliveira é coleccionador e quer contar a história da perfumaria portuguesa

O coleccionador ganhou reconhecimento dentro e fora de portas. O frasco mais antigo é de 1850

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O coleccionador junto a um dos seus armários cheios de frascos Sebastião Almeida
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O frasco de "Merry Christmas" da Benoit Sebastião Almeida
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A última aquisição de Afonso Oliveira Sebastião Almeida

Na casa do coleccionador Afonso Oliveira, em Lisboa, mais de dois mil frascos e miniaturas de perfumes, com as mais variadas formas, tamanhos e imagens, estão alinhados nas prateleiras dos móveis de uma das divisões. Vieram de todos os cantos do mundo. Muitos deles chegam a ser autênticas relíquias dos anos 1850 a 1970, que contam histórias e levam o nariz a viajar por cheiros de outros tempos.

Muitos destes frascos estão ainda guardados nas suas caixas originais, outros contêm perfume no interior e outros tantos estão vazios mas libertam fragrâncias no ar. Quando Afonso Oliveira abre as portas dos armários, os perfumes de diferentes marcas misturam-se no ar e despertam os sentidos.

O frasco mais antigo é de 1828, da francesa Guerlain. O mais recente, conta, “é um frasco Versace, Dylan Femme, inspirado numa ânfora da mitologia grega com a Medusa, o símbolo de Versace”. Mas o seu preferido é o frasco de Merry Christmas, da marca Benoit, que salta logo à vista entre as mais de mil miniaturas e igual número de frascos de perfumes nacionais e internacionais que colecciona há quatro décadas. “É muito raro. Tem uma tampa com a imagem da Nossa Senhora, com o Menino Jesus ao colo, que remete para a religiosidade”, descreve. Foi este que o fez “entrar nesta grande aventura de coleccionador”, recorda.

Então, Afonso Oliveira tinha 20 anos e já trabalhava no ramo da perfumaria. Desde sempre que se lembra de estar rodeado de perfumes. “Fui decorador de montras, sócio de um grupo de lojas nos anos 1980, maquilhador, promotor, formador e sou relações públicas de uma empresa” de distribuição de perfumes, enumera o profissional de 61 anos, que é vice-presidente da International  Perfume Bottle Association, que tem mais de mil sócios em 21 países, informa. “Represento o clube, a nível internacional, junto de outros coleccionadores, museus e feiras ou leilões de perfumes.”

Estreou-se com as miniaturas, que hoje ultrapassam as mil; e só há uma década é que passou a juntar frascos de perfumes. O pontapé de saída deu-o durante uma viagem a Cuba, em 2008, quando um amigo lhe ofereceu três frascos que, garante, “são muito cobiçados por coleccionadores”. Foi assim que viu aguçar, cada vez mais, a curiosidade por “este fascinante” mundo. Foi comprando mais frascos em leilões, antiquários, feiras de antiguidades e velharias. Actualmente tem quase tantos frascos de perfume como de miniaturas. Duas centenas são de origem portuguesa dos anos 1890 até 1940. “Sempre que viajo, vou à procura de novos frascos”, diz.

Esta paixão levou-o a querer saber mais sobre a perfumaria portuguesa. Começou por pesquisar, recolher frascos e vários tipos de documentação, como publicidade em revistas antigas nacionais, que deverá compilar num livro a publicar em Dezembro deste ano. Por essa altura, tem prevista a organização de uma exposição no Museu do Vidro da Marinha Grande com parte da sua colecção de frascos.

Durante as suas pesquisas, Afonso Oliveira encontrou três dezenas de fábricas de perfumes em Portugal que operavam há muitos anos. “Descobri que a primeira fábrica de perfumes em Portugal, a Phomaz e Mendonça e Filhos, Lda, surgiu no ano de 1850, em Lisboa.” Desde então muito mudou, diz, incluindo o mercado da distribuição. E conclui?: “Há dez anos tínhamos mais de 20 distribuidores de perfumes em Portugal e agora só temos cinco ou seis.”

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