Bem-estar dos professores deve ser prioridade para os Governos

Como garantir que os docentes se sintam bem com o trabalho é uma das questões em debate numa cimeira que reúne em Lisboa representantes governamentais e sindicais de mais de 30 países.

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Cimeira é organizada em conjunto pelo Ministério da Educação, a OCDE e a Internacional da Educação Adriano Miranda

O bem-estar dos professores deve ser entendido pelos Governos como “um tema político de primordial importância”, já que está demonstrado que quando os docentes “se sentem bem com eles próprios podem fazer uma diferença positiva no ensino dos seus alunos”.

O desafio foi lançado pela organização Internacional da Educação (IE), uma federação de associações e sindicatos de professores de 171 países, que espera ter resultados para mostrar no final da cimeira sobre a profissão docente que, nesta quinta e sexta-feira, reunirá em Lisboa delegações de mais de 30 países.

A cimeira é organizada em conjunto pelo Ministério da Educação (ME), a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e a IE. Segundo as informações divulgadas nesta quarta-feira pelo ME, cada delegação nacional integrará representantes governamentais e dirigentes sindicais.

“Não se deve perder a oportunidade de colocar o bem-estar dos professores no centro das políticas de todos os países que participam nesta cimeira”, exortou o secretário-geral da IE, David Edwards, numa nota a propósito do encontro de Lisboa. Neste documento, Edwards lembra que a OCDE só começou “a relacionar o stress dos professores, o seu bem-estar e os resultados dos alunos” nos últimos três anos, mas que o tema tem vindo a ganhar importância no seio daquela organização, estando agora a ser estudada a realização de um inquérito específico ao bem-estar dos professores.

Também a edição de 2018 do TALIS (Teaching and Learning International Survey), o inquérito aos docentes que, de cinco em cinco anos, é feito pela OCDE, inclui já perguntas sobre as causas e efeitos do stress para o professor. Os resultados deverão ser conhecidos no próximo ano.

Satisfeitos ou exaustos?

No último inquérito, realizado em 2013, só 10% dos professores portugueses consideraram que a sua profissão era valorizada pela sociedade, quando a média na OCDE para esta questão foi de 30%. Apesar desta percepção, 70,5% dos docentes portugueses (média na OCDE foi de 77,4%,) indicaram que as vantagens de ser professor ultrapassavam claramente as desvantagens.

No que respeita à avaliação do seu próprio desempenho na escola onde exercem funções, os docentes portugueses apresentaram níveis de satisfação mais elevados do que a média dos valores registados no TALIS (97,4% para uma média de na OCDE de 91,2%).

Um inquérito mais recente, realizado em 2016 pela Fundação Manuel Leão, dá contudo conta de um panorama bem diferente. Um terço dos 2910 professores inquiridos preferia deixar de dar aulas num futuro próximo, em vez de continuar na escola. Um pouco mais, 35%, diziam-se exaustos, desiludidos, baralhados ou (mais residualmente) desesperados ou com outros sentimentos negativos quando lhes foi pedido para descreverem a sua relação com o trabalho. E muitos (60%) sentem que os alunos estão mais desmotivados do que no passado.

“É como se um pessimismo endémico tivesse tomado conta da educação escolar”, descreveu então o investigador Joaquim Azevedo, que coordenou o inquérito. Também o secretário-geral da IE considera que “as causas do stress dos professores são frequentemente endémicas dos próprios sistemas educativos”. E incluem, entre outras, “reformas constantes impostas à profissão de professor, sistemas de responsabilização e de avaliação que são sancionatórios e confusos, e turmas com excesso de alunos”.

No seu documento sobre a cimeira de Lisboa, David Edwards é peremptório: “É necessário procurar a informação sobre as causas do stress dos professores em cada país e as políticas relativas aos docentes precisam de responder a essa informação mesmo que isso signifique que alguma políticas adoptadas pelos governos tenham que ser extintas”.

 

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