Presidente da Cambridge Analytica suspenso após escândalo da recolha de dados

Empresa defende uma investigação completa ao caso da recolha de dados de milhões de perfis com o objectivo de espalhar propaganda política.

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Alexander Nix na Web Summit de Lisboa em 2017 LUSA/ANTONIO COTRIM

O britânico Alexander Nix, fundador da Cambridge Analytica, a empresa de recolha e tratamento de dados que é acusada de ter influenciado as eleições norte-americanas, foi suspenso nesta terça-feira.

Em causa está a acusação de que a empresa recolheu informações pessoais de mais de 50 milhões de utilizadores do Facebook em 2014 e 2015 para usar essas informações em campanhas de propaganda política. A suspeita já era antiga, mas só agora chegou a confirmação. Os dados terão sido usados para influenciar eleitores norte-americanos na corrida eleitoral para as presidenciais de 2016, ganhas por Donald Trump.

"De acordo com a perspectiva da direcção, os comentários do senhor Nix gravados em segredo pelo Channel 4 — entre outras alegações — não representam os valores e a conduta da empresa e a sua suspensão reflecte a seriedade com que a empresa vê a sua violação", lê-se“A direcção irá acompanhar a situação de perto, e trabalhar com o Dr. Tayler [chefe executivo da gestão de dados da Cambridge Analytica] para garantir que a Cambridge Analytica, em todas as suas operações, cumpre os valores da empresa e executa serviços da mais elevada qualidade aos seus clientes”, acrescenta a nota.

Depois de uma reportagem publicada pelo New York Times e pelo londrino Observer que dava a conhecer a recolha de dados pela consultora recrutada para prever e direccionar intenções de voto nas eleições norte-americanas, o canal britânico Channel 4 revelou declarações do fundador da Cambridge Analytica, Alexander Nix, recolhidas após meses de investigação à empresa que acentuaram a polémica. As revelações foram recolhidas quando os repórteres se apresentaram como potenciais clientes, disfarçados de membros de um partido político no Sri Lanka à procura dos serviços da consultora.

No encontro com os repórteres, Fix afirma ter-se encontrado com Donald Trump “muitas vezes” e revelou algumas das estratégias usadas pela empresa “através de vários veículos”. "Fizemos toda a pesquisa, todos os dados, todas as análises, toda a segmentação. Executámos toda a campanha digital, a campanha de televisão e os nossos dados informaram toda a estratégia", afirmou Alexander Nix, durante uma reunião gravada pelos repórteres.

“Tem de acontecer sem que alguém pense ‘isto é propaganda’, porque no momento em que pensas ‘isto é propaganda’ a próxima questão é ‘quem é que a pôs cá fora’?”, explica Nix. O fundador da consultora revelou ainda recorrer a um sistema que apaga as pegadas digitais deixadas pelo processo. “Enviamos o email e, depois de ser lido, duas horas depois, ele desaparece. Sem deixar qualquer prova ou traço. Nada”, acrescentou. 

Face à polémica e gravidade das acusações, o presidente do Parlamento Europeu chamou formalmente Mark Zuckerberg a responder sobre o uso de dados de cidadãos europeus. Horas antes, uma comissão parlamentar no Reino Unido anunciou também ter convocado o fundador da rede social para responder a perguntas sobre a utilização de dados. 

As notícias sobre o uso abusivo de dados de milhões de utilizadores do Facebook levaram a ameaças de desactivações de contas na rede social e o movimento #deletefacebook tornou-se popular na segunda-feira. 

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