Rússia expulsa 23 diplomatas britânicos em resposta a Theresa May

Decisão surge um dia depois de a polícia britânica abriu uma investigação por suspeita de homicídio de Nikolai Glushkov, um empresário russo que apareceu morto em Londres no início da semana.

A recente tensão foi provocada pelo envenenamento de um ex-espião russo no Reino Unido
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A recente tensão foi provocada pelo envenenamento de um ex-espião russo no Reino Unido LUSA/NEIL HALL
Theresa May acusa a Rússia de envolvimento
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Theresa May acusa a Rússia de envolvimento Reuters/Toby Melville
Boris Johnson acusa Putin de ter ordenado o envenenamento
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Boris Johnson acusa Putin de ter ordenado o envenenamento LUSA/NEIL HALL
A Rússia diz que as declarações de Johnson são "chocantes e indesculpáveis"
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A Rússia diz que as declarações de Johnson são "chocantes e indesculpáveis" LUSA/ALEXANDER ZEMLIANICHENKO /POOL

A Rússia respondeu este sábado, como era esperado, à expulsão de 23 diplomatas russos pelo Reino Unido na quarta-feira. Moscovo respondeu na mesma moeda – o embaixador Laurie Bristow foi chamado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros russo para ser informado de que 23 diplomatas britânicos vão ser expulsos na próxima semana.

Para além da troca de 23 por 23, a Rússia decidiu encerrar o consulado britânico em São Petersburgo e o British Council, duas medidas que não deverão ser vistas no Reino Unido como uma forte escalada da tensão – os consulados britânicos em Moscovo e Ekaterimburgo permanecem abertos, e o British Council já estava a operar abaixo das suas capacidades desde o caso do envenenamento do antigo espião Alexander Litvinenko, em 2006, em Londres.

A mais recente tensão diplomática entre o Reino Unido e a Rússia está também relacionada com um envenenamento – do antigo espião russo Sergei Skripal e da sua filha, Iulia, em Salisbury, no dia 4 de Março. Sergei e Iulia continuam internados em estado crítico – foram envenenados com novichok, uma série de químicos que constitui uma das armas químicas mais poderosas alguma vez criadas, desenvolvida nas décadas de 1970 e 1980 na União Soviética.

A primeira-ministra britânica, Theresa May, acusou o Kremlin de estar envolvido no caso, numa posição que foi partilhada pelos Estados Unidos, França e Alemanha. Na sexta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Boris Johnson, foi ainda mais longe, acusando o Presidente russo de ter ordenado o envenenamento: "Achamos que é altamente provável que tenha sido decisão sua o uso do agente neurotóxico nas ruas do Reino Unido, nas ruas da Europa, pela primeira vez desde a II Guerra Mundial."

Em resposta, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que as declarações de Boris Johnson são "chocantes e indesculpáveis".

A Rússia desmente qualquer envolvimento no envenenamento de Sergei e Iulia Skripal, e disponibilizou-se para integrar a investigação oficial do Reino Unido ao caso. Mas a investigação do Reino Unido está agora a ser feita em colaboração com cientistas da Organização para a Proibição das Armas Químicas, uma organização intergovernamental com sede em Haia que foi distinguida com o Prémio Nobel da Paz em 2013 "pelos seus esforços com vista à eliminação das armas químicas".

Ouvido pelo jornal britânico The Guardian, um químico russo que trabalhou 30 anos no local onde o novichok foi desenvolvido disse que o veneno em causa só poderia ter sido usado "por um cientista de topo", duvidando da tese de que o ataque foi lançado por uma organização criminosa, por exemplo. "Não acredito nisso", disse Vil Mirzaianov, de 83 anos, actualmente a viver no exílio em Nova Jérsia, nos Estados Unidos.

Suspeita de homicídio

Nas últimas horas soube-se também que a polícia britânica suspeita de homicídio no caso do empresário russo encontrado morto em sua casa, em Londres, na passada segunda-feira. Segundo o relatório da autópsia, Nikolai Glushkov morreu devido a uma compressão no pescoço. As autoridades sublinharam que até ao momento não há nada que ligue a morte de Glushkov ao envenenamento dos Skripal.

Nikolai Glushkov era próximo do oligarca Boris Berezovski, um inimigo de Vladimir Putin que também apareceu morto em 2013 em Londres — a investigação a este caso não foi conclusiva, mas a polícia britânica admitiu que Berezovski se terá suicidado, um cenário em que Glushkov nunca acreditou.

Nos anos 90, Glushkov trabalhou na companhia estatal russa Aeroflot e na empresa LogoVaz, pertencente a Berezovski. Já numa altura em que Berezovski tinha caído em desgraça junto de Putin, Glushkov foi acusado de fraude e lavagem de dinheiro, tendo sido condenado a cinco anos na prisão. Quando foi libertado, em 2004, pediu asilo político no Reino Unido, onde viveu nos últimos anos.

Nikolai Glushkov deveria comparecer em tribunal na segunda-feira à tarde, em Londres, para responder a novas acusações de fraude pela Aeroflot. Em 2017, foi julgado e condenado na Rússia, à revelia, a oito anos de prisão — acusado de ter roubado 123 milhões de dólares à companhia aérea. Depois disso, a Aeroflot levou-o a tribunal em Londres, mas Glushkov apareceu morto na manhã do dia marcado para a sessão em tribunal.

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