Profissionais de saúde devem receber duas doses de vacina contra o sarampo

Entre os 21 casos de sarampo confirmados, quatro não estavam vacinados e três tinham o esquema vacinal incompleto. São todos doentes adultos, 19 dos quais são em profissionais de saúde.

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REUTERS/Lucy Nicholson

Os profissionais de saúde são o único grupo a quem são recomendadas duas doses de vacina contra o sarampo, independentemente da sua idade, segundo uma norma da Direcção-Geral da Saúde (DGS), actualizada a propósito do surto actual.

O número de casos de sarampo confirmados na região norte subiu para 21, segundo os últimos dados da DGS. Dos 51 casos suspeitos de sarampo, entre os quais estão os 21 confirmados, 45 têm ligação laboral ao Hospital de Santo António, no Porto.

A DGS actualizou nesta sexta-feira a norma dirigida aos médicos e enfermeiros do sistema de saúde sobre os procedimentos em unidades de saúde, na qual é recordado o número de doses de vacina recomendados, de acordo com a idade.

Aos menores de 18 anos, são recomendadas duas doses de vacina VASPR (anti-sarampo, anti-parotidite e anti-rubéola), aos 12 meses e aos cinco anos de idade.

Para os adultos a recomendação é de uma dose aos nascidos em 1970 ou após este ano, não sendo recomendada qualquer dose para os nascidos antes de 1970, uma vez que cerca de 99% da população nascida antes desta data tem protecção contra o sarampo, de acordo com o Inquérito Serológico Nacional 2015/2016.

A excepção vai para os profissionais de saúde a quem são recomendadas duas doses, independentemente do ano de nascimento.

Outras medidas além de campanhas

No seguimento do número de casos suspeitos de sarampo que atinge vários profissionais de saúde neste surto, o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH) defendeu um consenso alargado com as ordens e sindicatos dos profissionais de saúde para uma campanha pelo cumprimento do Programa Nacional de Vacinação.

Alexandre Lourenço admitiu, contudo, que, se não resultar, os hospitais podem tomar outras medidas.

"Temos de saber dosear a problemática sem entrar na liberdade de cada um e começar pela sensibilização. Se não for um sucesso, temos de pensar noutro tipo de medidas, que podem passar pela definição de requisitos para o exercício da profissão", afirmou, em declarações à Lusa, o presidente da APAH.

O responsável insiste que se devem tomar medidas em conjunto com as ordens e os sindicatos, lembrando que sem estarem vacinadas as pessoas sujeitam-se a"consequências muito graves". Alexandre Lourenço recorda que noutros países foram encontradas soluções, dando o exemplo do Estado de Nova Iorque, "onde chegaram a acordo com os sindicatos para que os profissionais que não fossem vacinados para a gripe usassem sempre máscaras".

O bastonário dos Médicos admite que possa vir a ser obrigatório para os profissionais que trabalhem em unidades de saúde estarem vacinados, mas lamenta que o ministério não tenha avançado com uma campanha nacional de vacinação. Em declarações à agência Lusa, Miguel Guimarães adiantou ainda que vai nesta sexta-feira à tarde visitar o Hospital de Santo António, local com o qual têm ligação laboral a maioria dos suspeitos de infecção de sarampo.

O bastonário reconhece que é complexo defender a obrigatoriedade da vacinação dos cidadãos e que pode nem ser a medida mais eficaz, mas entende que em determinados locais, como as unidades de saúde ou escolas, poderá ter de ser obrigatório aos profissionais apresentar o boletim de vacinas para comprovar o estado vacinal.

"Têm de ser dadas indicações para ser feita uma ampla campanha nas unidades de saúde. Também para que os médicos de medicina de trabalho chamem todos os profissionais de saúde à consulta e a primeira coisa que têm de ver é plano de vacinação. E depois considerar a hipótese de a pessoa estar vacinada para trabalhar numa unidade de saúde", afirmou Miguel Guimarães.

O bastonário lamenta ainda que, depois do surto do ano passado, o ministério não tenha avançado com uma "verdadeira campanha nacional" pela vacinação, generalizada a toda a população.

Em 2017 Portugal teve dois surtos simultâneos de sarampo (num total de 29 casos), que chegaram a provocar a morte de uma jovem de 17 anos.

Vacinação para proteger

Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), "cada nova pessoa afectada pelo sarampo na Europa relembra que crianças e adultos não vacinados, independentemente de onde vivam, continuam em risco de contrair a doença e de a passar a outros que possam ainda não estar vacinados".

O sarampo é uma doença grave, para a qual existe vacina, contudo, o Centro Europeu de Controlo de Doenças estima que haja uma elevada incidência de casos em crianças menores de um ano de idade, que ainda são muito novas para receber a primeira dose da vacina. Daí que reforce a importância de todos os outros grupos estarem vacinados de forma a que não apanhem nem transmitam a doença.

Segundo os dados de 2017, mais de 87% das pessoas que contraíram sarampo não estavam vacinadas.

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