O jornalista espanhol que em Março de 1974 quase anuncia o 25 de Abril

Houve cinco jornalistas estrangeiros que cobriram o cerco ao regimento nas Caldas da Rainha a 16 de Março de 1974. Pepe Oneto foi um deles.

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De um lado e do outro do muro estavam tropas que não apoiavam o regime DR
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Os jornalistas estrangeiros chegaram e ficaram surpreendidos com a calma do motim DR
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Pepe Oneto em Madrid, 44 anos depois de ter escrito a reportagem DR

Na madrugada de 16 de Março de 1974 uma coluna militar saía do Regimento de Infantaria 5 (RI5), nas Caldas da Rainha, e marchava sobre Lisboa para fazer um 25 de Abril 40 dias antes do tempo. Perto de Sacavém recebe ordens para regressar. De volta às Caldas é cercada por tropas supostamente fiéis ao regime e rende-se ao fim da tarde. As testemunhas são jornalistas estrangeiros. A rebelião portuguesa faz capa da revista espanhola Cambio 16, nove dias depois. José Oneto, o jornalista, recebera uma pista – para ir até Lisboa, mas antes passar pelas Caldas –, foi o que fez. No seu texto, quase anuncia a Revolução dos Cravos, o que incomoda o regime franquista.

Não foi fácil falar com José Oneto. Meses de trocas de e-mails para um interlocutor que viaja constantemente e que responde que agora não pode porque está fora de Espanha. Depois, uma data marcada e duas vezes adiada. “Já não posso na sexta-feira porque convocaram-me para um reunião da administração da Telemadrid, da qual sou conselheiro e à tarde tenho um programa de televisão.” Ou “estou agora mesmo no AVE [comboio] para Málaga para um almoço com os reis eméritos [Juan Carlos e Sofia]. Pode ser amanhã?” À terceira foi de vez. Pepe Oneto está sentado no bar do Club Guisando, num bairro burguês dos arredores de Madrid. Um local selecto num condomínio fechado. “Vivo na casa do Adolfo Suárez [o primeiro governante depois da ditadura de Franco]. Comprei-a ao próprio”. E ri-se. Tem um tablet por onde vai seguindo as últimas notícias sobre a evolução da situação política na Catalunha e fotocópias da Cambio16 de 25 de Março de 1974, o número dedicado a Portugal onde relata o cerco ao Regimento de Infantaria 5 nas Caldas da Rainha.

Como é que num tempo em que não havia telemóveis nem Internet, nem auto-estrada entre Madrid e Lisboa, um repórter espanhol – em rigor eram cinco os jornalistas estrangeiros vindos de Madrid que estiveram nas Caldas – se encontra no coração dos acontecimentos que conduziriam à Revolução de Abril? E como é que numa Espanha que só chegaria à democracia dois anos depois de Portugal, foi possível publicar um artigo que analisava livremente a situação de descontentamento das Forças Armadas portuguesas, que punham em risco o regime de Marcelo Caetano?

José Oneto tinha então 29 anos, mas já era um jornalista reconhecido. Acabara de chegar à Cambio16 e, nesse mesmo número de 25 de Março, o editorial referia a sua recente incorporação destacando-o como “um dos redactores políticos mais bem informados da imprensa espanhola”, pois trabalhara no La Vanguardia e nas agências France Press e Calpisa.

A revista tinha estado parada no ano anterior devido à censura. O seu nome Cambio (mudança, em português) era visto como uma provocação ao regime. “Não foi autorizada a palavra cambio porque tinha conotações políticas e então passou a chamar-se Cambio16 porque foram 16 os accionistas fundadores”, recorda Oneto. “Mas depois acusaram-nos de que isso era uma manobra porque 16 é metade de 32 e 32 é um símbolo maçónico...”, ri-se.

O episódio que vai permitir alguma abertura à imprensa é o mesmo que vai também desencadear as sementes da transição em Espanha: o assassinato de Carrero Blanco, o presidente do Governo, em 20 de Dezembro de 1973, às mãos da ETA, num atentado que José Oneto diz ter muito de duvidoso. “A ETA fá-lo voar em circunstâncias muito raras. Ele morre precisamente no dia anterior à chegada de Kissinger [o secretário de Estado norte-americano, o equivalente a ministro dos Negócios Estrangeiros] a Madrid. E matam-no a escassos cem metros da embaixada dos EUA. Ele saía da igreja quando lhe fizeram explodir o carro. Não se explica que durante oito meses tenham estado a escavar um túnel (onde colocaram a bomba) a cem metros da embaixada, quando se sabia que vinha o Kissinger e que ele iria ficar alojado naquele local. Nessas circunstâncias, aquela zona deveria estar muito vigiada, especialmente nos dois meses prévios à sua chegada”, justifica.

Pepe Oneto é dos que acredita na teoria da conspiração de que a CIA esteve envolvida no atentado. Carrero Blanco era contra as bases militares americanas em solo espanhol e os EUA teriam interesse em livrar-se dele. Curiosamente, no mesmo número da Cambio16 há uma discreta chamada na primeira página ao assunto das bases militares e das relações entre os dois países. “Este atentado teve circunstâncias tão estranhas que o homem encarregue de proteger Carrero Blanco, que era o ministro do Interior, Carlos Arias Navarro, ascendeu a presidente do Governo, sobretudo por influência da mulher de Franco”, prossegue o antigo jornalista.

Mas, ao contrário do que se esperava, Arias Navarro inicia uma política de abertura, apesar de ter sido um homem de mão de Franco e de ter ficado conhecido pelo cognome "Carnicero de Málaga" durante a Guerra Civil, pela forma dura como reprimiu e condenou à morte os republicanos derrotados. “Ele inicia um discurso supostamente de abertura, em que começa uma nova etapa e nós na Cambio16 apostamos nessa abertura”. E é nesse período de “Primavera marcelista à espanhola” que José Oneto integra a revista.

O advogado madrileno

Carrero Blanco morre no final de 1973, Oneto entra na Cambio16 em Fevereiro de 1974 e o golpe das Caldas dá-se a 16 de Março do mesmo ano. A época é propícia para fazer uma boa reportagem sobre as aspirações portuguesas à mudança de regime, igualmente desejada nos dois países. A oportunidade surge com uma dica fornecida por um advogado madrileno – Mariano Robles Romero-Robledo.

“É ele que nos passa uma informação dizendo para estarmos atentos porque em Portugal vai passar-se algo, que há movimentos militares e que devemos ir para Lisboa, mas primeiro que passemos por Caldas da Rainha”, conta José Oneto, que parte para Portugal acompanhado de um grande amigo, Walter Haubrich, correspondente do alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung.

Por que motivo José Oneto confiou em Mariano Romero-Robledo? A pergunta é ingénua. Vale a pena determo-nos na figura deste advogado, opositor a Franco e que estava intimamente relacionado com militares portugueses. Romero-Robledo tinha sido amigo íntimo e advogado de Humberto Delgado. Militava no Partido Socialista Popular (que em 1978 se integra no PSOE) e defendia, em tribunal, os opositores à ditadura franquista.

A sua amizade com o General Sem Medo levou-o a escrever nesse mesmo ano o livro Humberto Delgado – Assassinato de um Herói, em co-autoria com o jornalista José Antonio Novaes, correspondente do Le Monde, e que será um dos cinco jornalistas estrangeiros vindos de Madrid e que estarão junto aos muros do RI5 das Caldas da Rainha no 16 de Março de 1974.

Romero-Robledo tem um percurso idêntico ao do seu amigo português Delgado. Ambos foram pilotos aviadores e conviveram bem com as respectivas ditaduras numa fase inicial das mesmas. O espanhol lutou ao lado dos franquistas na Guerra Civil, mas em 1958 retira-se da vida militar já em confronto com o regime, assinando petições pela amnistia dos presos políticos. Torna-se conhecido pela acérrima defesa dos opositores a Franco.

Terá sido através de Humberto Delgado que estabeleceu contactos entre os militares portugueses da oposição, contactos que manteve nos anos após o 25 de Abril. Quando morre, subitamente, em 1976, aos 66 anos, os jornais referem que tinha acabado de regressar de Lisboa onde acompanhava de muito perto a situação política portuguesa.

Não surpreende, assim, que dois anos antes, no estertor das duas ditaduras, José Oneto confiasse tanto neste homem. “Quando saímos de Madrid não sabíamos o que se iria passar, mas quando chegamos às Caldas inteirámo-nos que havia um levantamento militar, que o quartel estava cercado, que as pessoas estavam na rua”, recorda o jornalista.

“No quartel não conseguimos chegar ao portão de entrada, mas estivemos perto. Foram muito amáveis. Tão pouco se notava que aquilo fosse uma revolução ou uma rebelião. Decorria tudo num ambiente bastante relaxado. É o que eu recordo do comportamento das pessoas e das forças públicas. Quando dissemos que éramos jornalistas, trataram-nos bem, mas, claro, disseram-nos que não podíamos passar, que havia um incidente, que estava quase a terminar, que era uma situação que estava quase a ser controlada e efectivamente ao final da tarde estava controlado”, descreve.

Quarenta e quatro anos depois, José Oneto recorda sobretudo o ambiente tranquilo que ali se viveu, apesar de haver dois lados em confronto e GNR em redor do quartel. “O ambiente era muito relaxado. A mim o que realmente me surpreendeu é que não havia nenhum sintoma de confronto, de tensão. Fiquei admirado. Até pensei que isto pode ser próprio do carácter português, que é muito pacífico. Se há uma intentona militar, uma tentativa de revolução, o normal é que se note a tensão, não é? Mas não. Inclusivamente as pessoas na rua contemplavam o que se estava a passar como se fosse um espectáculo, como se estivessem a ver um filme.”

Hoje sabe-se que os militares do cerco não disparariam sobre os seus camaradas que estavam no quartel. Muitos dos oficiais participariam, 40 dias depois, no 25 de Abril. O próprio Salgueiro Maia integrava o grupo dos supostos fiéis ao regime e tinha como missão manter a estrada cortada, a umas centenas de metros a Sul do quartel, no Alto das Gaeiras. “Uns e outros estavam tranquilos. Aquilo parecia uma conversa entre colegas. E até a mim me surpreendeu que pudéssemos chegar tão perto da porta do quartel e falar com os que estavam a controlar a entrada”, conta.

Os cinco jornalistas estrangeiros falaram com quem quiseram sem que alguém os impedisse. Na sua reportagem, Oneto cita um capitão das tropas de cerco que veio de Santarém, mas não se recorda do nome. Salgueiro Maia? “Não, não era esse o nome”. No dia seguinte Oneto e Haubrich seguem para Lisboa onde ficam dois dias. As reportagens de ambos mostram que tinham bons contactos e que falaram com as pessoas certas – prova disso é que a administração da Cambio16 leva um puxão de orelhas do Ministério da Informação espanhol.

Um resumo do livro Portugal e o Futuro, de António de Spínola (1910-1996), ocupa duas páginas da revista. José Oneto leu-o e descreve o autor, o futuro Presidente português: “Um general com monóculo e um carro de luxo, carregado de medalhas e de experiência africana. Um pequeno De Gaulle português que escreveu um livro com o qual sacudiu as consciências dos militares.”

Nele, Spínola diz que a Guerra no Ultramar não pode ser ganha militarmente e defende uma República Federal Portuguesa do Minho a Timor. Acredita que os povos africanos, “depois de uma preparação adequada, escolherão, através de um referendo, a sua vontade de continuar a ser portugueses”.

Citando fontes da oposição, José Oneto diz que as teses de Spínola “são sobretudo realistas” e constata que o livro “foi um autêntico detonador de uma revolução dentro do Exército”. E referindo-se ao 16 de Março, diz que “desta vez não triunfou” e que haverá provavelmente no Governo uma guinada à direita, “mas o processo é imparável”.

A reportagem sobre a tentativa de golpe de Estado abre metaforicamente com a descrição da propaganda do regime: “Cartazes com imagens de Moçambique praia de sonho, Moçambique praia de paz, as Forças Armadas lutam pela paz.” Mas no sábado, 16 de Março, “aconteceu algo que ocupou a primeira página da quase totalidade da imprensa mundial. Algo incompreensível para a opinião pública – ver soldados de metralhadora e camiões militares ao lado dos cartazes propagandísticos que asseguravam que as Forças Armadas estavam a lutar pela paz”.

O cerco ao RI5 das Caldas da Rainha é descrito como um cenário de um espectáculo que acaba por não se realizar: “Os espectadores contemplam impassíveis o quartel onde estão sitiados cinco mil homens. Os pára-quedistas, com metralhadora, confundidos com as forças da GNR, vigiam com tranquilidade”.

Os cinco jornalistas que tentam aproximar-se do quartel “não conseguem ultrapassar as barreiras”, mas Oneto refere que foram impedidos de modo educado pelo coronel Esperança, da GNR, que remete para os seus “superiores de Lisboa” qualquer declaração. “Às nove da noite, após numerosas negociações entre as duas partes, o regimento rende-se às forças de infantaria de Leiria e Santarém, comandadas pelo brigadeiro Pedro Serrano, sem disparar um só tiro e com a detenção de 200 militares, na sua maioria oficiais.”

A reportagem remete para o mutismo de Spínola nos dias seguintes que não se compromete com o golpe, mas não o condena. E faz uma análise da situação económica do país, esgotado pela Guerra Colonial e pela emigração. Um texto secundário é inteiramente dedicado aos movimentos nacionalistas das colónias portuguesas e outro faz uma resenha do Pacto Ibérico de 1939, assinado por Portugal e Espanha que reforçam a amizade entre os dois países, e as alterações posteriores ao tratado.

Citando “um membro da oposição moderada portuguesa sentado numa taberna de Alfama”, Oneto realça que “o sábado passado, 16 de Março, passará à História porque pela primeira vez se mostrou de forma clara que o Exército não está disposto a manter uma Guerra Colonial absurda para a qual é preciso encontrar uma solução civilizada”.

A reportagem faz capa da Cambio 16, mas antes disso, a decisão é discutida na redacção. “Os acontecimentos portugueses não eram um mero assunto de um país estrangeiro que tinha um problema com o seu Exército. No nosso entendimento, o conflito português era também um assunto de política interna espanhola. Havia uma concomitância entre o Exército espanhol e o Exército português que nos levava a valorizar a história e a levá-la à primeira página. E a prova é que acertámos. Muitos dos factos que prevíamos na reportagem acabaram por produzir-se mais tarde, no 25 de Abril”, declara o jornalista.

A reacção do Governo espanhol foi negativa. “Telefonaram do Ministério da Informação. Queriam saber de onde vinham aquelas informações e o que pretendíamos com aquilo ao dar aquele destaque todo a um conflito em Portugal, como se fosse um problema espanhol.” Mas a resposta já estava preparada: “Aquela informação, embora tenha ocorrido em Portugal, tinha a ver com a política interna espanhola.”

Como soube Romero-Robledo?

Quem informou Mariano Romero-Robledo do que estava prestes a acontecer nas Caldas da Rainha, numa altura em que só um círculo restrito de oficiais sabia do plano de operações destinado ao RI5? Do advogado madrileno sabe-se que tinha muitos contactos em Portugal, desde o tempo em que era amigo de Humberto Delgado. 

Alguns oficiais do MFA contactados pelo P2 remeteram para a “malta dos spinolistas” a eventual fonte do advogado espanhol. O general Manuel Monge, que à data assumiu, com Casanova Ferreira (que morreu em 2015, aos 84 anos), o comando do RI5 durante o cerco, disse ao P2 que não fazia ideia de quem possa ter sido. E o coronel Silva Carvalho – então um jovem tenente que era um dos três operacionais que prenderam o comandante do quartel – diz que também não sabe, mas recorda-se de ver jornalistas estrangeiros e que isso pesou na decisão de prolongar o momento da rendição por forma a publicitar o acontecimento. Manuel Monge diz que não foi essa a principal razão. “Ainda tivemos esperança durante algumas horas que outras unidades aderissem e a situação mudasse.” Mas tal não aconteceu.

O que claramente coincide com o relato de Oneto foi a calma com que tudo decorreu. Havia uma certeza de que não haveria tiros de parte a parte. Conta Silva Carvalho: “às tantas o brigadeiro Serrano estava na porta de armas a negociar connosco e aparece um dos nossos e diz com toda a descontração: ‘É pá, e se prendêssemos o brigadeiro?´" Isto revela o grau de confiança dos militares sitiados em relação aos seus camaradas do lado de fora. “Obviamente que o Monge e o Casanova Ferreira disseram que não”. Sem interlocutor do lado de fora, abrir-se-ia um vazio ainda mais incómodo que uma rendição.

Quem eram os jornalistas estrangeiros?

De Madrid partem cinco jornalistas em direcção às Caldas da Rainha: José Oneto, da revista Cambio16; Walter Haubrich, do jornal alemão Frankfurter Allgemeine; Philip Carvallo, da agência France Press; José Antonio Novaes, correspondente do francês Le Monde e outro profissional da agência Associated Press, de que Oneto não recorda o nome.

Oneto viajou com Walter Haubrich e diz que avisou Philip Carvallo que, por sua vez alertou os restantes. Numa altura em que o jornalismo tinha o seu quê de militância política, qualquer sobressalto em Portugal que desafiasse a ditadura, interessava à comunicação social europeia, em particular à espanhola pelas repercussões que poderia ter na ditadura do país vizinho.

Philip Carvallo, que poucos anos depois deixaria o jornalismo e fez carreira na União Francesa das Indústrias do Petróleo, morreu em 2012 com 71 anos. José António Novaes, filho do jornalista português Joaquim Novais Teixeira que foi chefe do Gabinete de Imprensa de Manuel Azaña, o último Presidente da II República Espanhola, morreu em 1993 com 78 anos. É hoje recordado como um jornalista corajoso que publicava no Le Monde aquilo que o regime franquista não queria que se soubesse e, por isso, foi várias vezes detido. Manuel Fraga, que foi ministro da Informação e Turismo entre 1962 e 1969, chegou a retirar-lhe a carteira profissional de jornalista.

Walter Haubrich morreu em 2015 com 80 anos e foi o decano dos correspondentes estrangeiros em Espanha, país onde viveu durante 50 anos, a par de algumas estadias na América do Sul onde, entre outros acontecimentos, fez a cobertura do golpe de Estado de Pinochet, no Chile. O El País diz que os seus 33 anos como correspondente em Madrid do Frankfurter Allgemeine deram-lhe uma perspectiva única da política e sociedade espanholas.

Em 16 de Março de 1974, Haubrich tem 39 anos e uma experiência que lhe permite escrever durante vários dias artigos sobre a situação portuguesa que não diferem muito dos conteúdos que José Oneto viria a publicar na Cambio16 uma semana depois. Ou não tivessem viajado juntos.

O jornalista alemão não faz grandes prenúncios sobre o futuro, centra-se muito na figura de Spínola e da gestão do silêncio do general em torno dos acontecimentos. E não resiste a um relato irónico do levantamento militar: “300 soldados que não queriam morrer em vão em África marcham das Caldas para Lisboa. Um motim – mas um motim à moda portuguesa. Isto significa que decorreu tudo mais suavemente do que seria normal em qualquer outro lugar do mundo. E com boas maneiras. Quando os insurrectos se aproximaram de Lisboa e aí se depararam com as tropas leais ao regime, não houve tiros. Foram, com a cortesia típica dos portugueses, persuadidos de que seria uma boa ideia regressar ao seu quartel. E eles assim fizeram.”

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