Homens, mulheres e crianças a pé por estradas de pó: começou o êxodo de Ghouta

Milhares de pessoas dirigem-se ao território ocupado pelas forças governamentais. A guerra entrou no ano oito.

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Uma criança síria é transportada dentro de uma mala OMAR SANADIKI / Reuters
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Milhares fazem-se à estrada YOUSSEF BADAWI / EPA
Um grupo de civis abandona os escombros de uma cidade em Ghouta Oriental
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Um grupo de civis abandona os escombros de uma cidade em Ghouta Oriental MOHAMMED BADRA / EPA
Civis deslocam-se para território controlado por Assad
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Civis deslocam-se para território controlado por Assad EPA
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Multidão abandona posições rebeldes OMAR SANADIKI / Reuters

Milhares de civis começaram a fugir esta quinta-feira de Ghouta Oriental, passando para zonas controladas pelo Exército sírio, no maior êxodo do enclave rebelde desde que as forças de Damasco e suas aliadas (Rússia) deram início, há um mês, ao assalto final para reconquistar a região.

Ao fim da manhã o Observatório Sírio para os Direitos Humanos estimava que o número de civis em fuga fosse superior a três mil. Mas, citado pela agência noticiosa russa RIA, um general do exército russo disse que o número de deslocados deveria chegar aos 13 mil antes do final do dia.

“Homens, mulheres e crianças cambaleavam sob o peso de cobertores, sacos e malas, caminhando ao longo de uma estrada em direcção às posições do Exército nos arredores da cidade de Hammouriyeh”, relata a Reuters. “Alguns choravam”.

Um homem carregava um bebé numa mala. “Temos estado presos em caves de onde não nos atrevíamos a sair”, disse outro homem que passou da zona rebelde para a controlada por Damasco. 

A estação de televisão al-Mayadeen — pró-Bashar al-Assad, o Presidente sírio — mostrou imagens destas pessoas caminhando a pé pelo meio de escombros e estradas de terra.

O destino destes civis apanhados no fogo cruzado da guerra síria são os territórios controlados pelo exército do regime de Damasco, que nos últimos dias conseguiu reduzir a ocupação rebelde em Ghouta Oriental a apenas três bolsas e abriu um corredor humanitário para a evacuação das cidades sitiadas.

No final de Fevereiro, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou um cessar-fogo de 30 dias para todo o território sírio, mas a decisão nunca foi verdadeiramente respeitada — muito por culpa da argumentação oferecida por Assad de que está a combater “grupos terroristas” em Ghouta Oriental.

Segundo o Comité Internacional da Cruz Vermelha, na bolsa mais a norte, controlada pela facção Jaish al-Islam, entraram recentemente 25 camiões munidos de alimentos e medicamentos. Citada pela Reuters, a porta-voz da organização Iolanda Jaquemet diz que os veículos se dirigem a Douma e transportam comida suficiente para alimentar mais de 26 mil pessoas durante um mês.

A guerra civil síria entrou esta quinta-feira no seu oitavo ano consecutivo, sem grandes perspectivas de poder vir a terminar num futuro próximo. O conflito já tirou a vida a pelo menos 465 mil pessoas (segundo os números apresentados pela televisão pan-árabe Al Jazira) e obrigou à fuga de mais de 5,5 milhões de civis do país e à deslocação de outros 6,5 milhões dentro das fronteiras da Síria.

O êxodo pode tornar-se o momento chave para Ghouta Oriental, onde se trava uma das maiores batalhas desta guerra de sete anos e onde a sorte dos civis encurralados pelo cerco do Exército de Assad e o posicionamento dos grupos rebeldes tem sido central para o desfecho da operação. A ONU estima que no território que os rebeldes tentam manter nos arredores de Damasco estejam 400 mil pessoas.

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