Também na Madeira, o Bloco quer ser um partido charneira

Paulino Ascenção conquistou o BE-Madeira no início do mês, derrotando uma liderança com uma década. Quer tornar o partido mais plural e relevante no arquipélago.

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Paulino Ascenção foi eleito no início do mês Gregório Cunha/Lusa

Existe uma imagem de Roberto Almada e Paulino Ascenção, eufóricos, a festejar a inédita eleição de um deputado do BE-Madeira para a Assembleia da República que resume bem as legislativas de 2015 no Funchal. Menos de três anos depois, a proximidade entre ambos esvaneceu-se e a distância entre Almada e Ascenção não poderia ser maior, pelo menos a que se pode medir, em votos.

No final do ano passado, o deputado bloquista em São Bento desafiou o histórico líder do BE no arquipélago. Almada, que liderava o partido desde Abril de 2008, perdeu. Os números, esses, surpreenderam até o próprio Paulino Ascenção. “Admito que não tinha essa convicção. A de que a diferença seria assim tão marcada”, diz ao PÚBLICO o novo coordenador regional.

Foram perto de 63% dos votantes na VII Convenção Regional do BE, que decorreu no início de Março, a escolher outro rumo para um partido que, na Madeira, é herdeiro directo da UDP. Terá sido mesmo esse património político a fazer a balança pender tão expressivamente para o lado de Ascenção, com Guida Vieira, histórica dirigente da UDP e da esquerda madeirense, a colocar-se ao lado do agora coordenador.

E agora? O que fará Paulino Ascenção com o Bloco? Primeiro, é “preciso organizar” o partido, a pensar nas eleições regionais do próximo ano. “Temos que estudar melhor os dossiers, planear as nossas intervenções e dar espaço de intervenção a mais pessoas, criando porta-vozes sectoriais”, explica o bloquista, que durante a campanha acusou a anterior direcção de funcionar de forma demasiado centralizada.

Uma “sociedade unipessoal” que Ascenção quer agora transformar numa “cooperativa”. Diz que basta olhar para a quantidade de dirigentes que o Bloco deu ao país nos últimos anos. “É isso que queremos fazer aqui na Madeira, abrir espaço para mais intervenção. Para que surjam mais vozes”, diz o deputado que, para já, vai continuar em São Bento. “A direcção do BE-Madeira irá avaliar o momento certo para eu sair”, justifica, rejeitando eventuais atritos com a anterior coordenação, que ocupa os dois lugares que o Bloco tem na assembleia regional.

Almada é deputado e líder da bancada. Ao lado, senta-se Rodrigo Trancoso, que era uma espécie de número dois do partido. Ascenção não antecipa por aí problemas. “As nossas diferenças  são questões de organização, não ideológicas”, sublinha, repetindo o que disse no final de convenção: “Somos poucos e todos fazem falta.”

O objectivo, diz, é aproximar o Bloco do modelo nacional. “Também aqui, na Madeira, temos que ser um partido charneira”, aponta, dizendo que é preciso “eliminar” ou, pelo menos, “reduzir” o desfasamento que existe nas votações do BE, consoante as eleições são regionais ou nacionais. “As pessoas continuam a votar mais no Bloco quando as eleições são nacionais e nós queremos contrariar essa tendência.”

Para 2019, Ascenção - como, de resto, Almada também defendeu na moção que levou à convenção - não quer ouvir falar em coligações pré-eleitorais. “Vamos concorrer com listas próprias, mostrando às pessoas que existem razões para votar em nós. Questões que mesmo o PS não pode resolver”, explica, deixando espaço para entendimentos pós-eleitorais.

No Funchal, onde o Bloco integrou juntamente com o PS e com o JPP a coligação que elegeu Paulo Cafôfo, Ascenção garante que o partido vai honrar o acordo, mas não cegamente. Cafôfo, que entretanto aceitou ser o candidato do PS à presidência do governo madeirense em 2019, veio baralhar a geopolítica do arquipélago. Se antes o Bloco estava confortável na coligação – Rodrigo Trancoso presidiu no anterior mandato à assembleia municipal e foi candidato novamente em Outubro –, agora Ascensão deixa espaço para outras posições...

O Bloco, repete, vai cumprir o acordo, o que não invalida que manifeste a sua discordância sempre que o executivo autárquico tomar decisões contrárias ao que o partido defende. “Paulo Cafôfo posicionou-se como nosso adversário nas eleições regionais, não foi o contrário”, ressalva.

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