Camisaria Pitta é mais uma loja histórica a fechar na Baixa

A histórica alfaiataria da baixa lisboeta está em “liquidação total” a preparar-se para fechar as portas no final do mês de Maio. Aberta no final do século XIX, é mais uma loja centenária que fecha na cidade.

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Fabio Augusto
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Sebastião Almeida

Sobram poucas casas assim em Lisboa, onde ainda se riscam, cortam e cosem tecidos em oficinas que têm ar de museu. As casas com alfaiates e costureiras tradicionais contam-se pelos dedos das mãos e não há quem queira pegar-lhes nas tesouras. É mais uma loja, onde se fazia por vender o que é feito à medida, que tem o fim anunciado. A Camisaria Pitta, que ocupa os números 195 e 197 da rua Augusta, na baixa de Lisboa, fecha no fim de Maio. 

O anúncio foi feito pelo gerente da alfaiataria, Ricardo Teixeira, na sua página de Facebook. “Venho comunicar com muita tristeza a todos os meus amigos que a nossa loja Camisaria Pitta na Baixa vai encerrar, iniciaremos a liquidação total de imediato”, escreveu. 

É o ponto final na história daquela que será a camisaria mais antiga da Península Ibérica. Foi em 1887 que A. M. Pitta foi buscar inspiração às casas inglesas, para criar o negócio. E que se instalou, primeiro, na rua de São Julião, mas que havia de passar, em 1903, para a rua Augusta, onde foi esculpida a fachada em madeira, com o detalhe de nela se poder procurar por dois colarinhos esculpidos. Serviu a realeza e, mais tarde, vestiu o corpo diplomático da presidência e as elites da capital. 

O gerente da alfaiataria não quis prestar qualquer declaração ao PÚBLICO sobre as razões para o encerramento. 

A histórica alfaiataria integra o programa “Lojas com História”, promovido pela câmara de Lisboa, para “preservar e salvaguardar os estabelecimentos [de comércio tradicional] e o seu património material, histórico e cultural”. No entanto, essa distinção não tem impedido que vários negócios "com história" encerrem na cidade. Ainda no início do ano, o PÚBLICO dava conta do fecho da Livraria Aillaud & Lellos na rua do Carmo, que ali abriu em 1931. O aumento do preço das rendas, por conta da pressão imobiliária na cidade, tem obrigado muitas destas casas a fechar as portas. 

A Camisaria Pitta começou por ser uma casa que privilegiava o que é feito à medida, tendo em atenção que cada ombro é um ombro, cada manga é uma manga, cada corpo é um corpo. Onde tudo se podia personalizar - do colarinho ao punho ou ao pesponto. Mas a alfaiataria tradicional, que começou por ser um ofício desprezado - diz quem sabe - tornou-se um luxo pouco acessível. Que ainda é procurado por quem têm medidas fora do que o padronizado pronto-a-vestir oferece ou por quem pode pagar milhares de euros por uma "obra de arte" que assenta no corpo como uma segunda pele. 

Culpa dos tempos, das modas, da abertura ao mercado internacional, algumas casas obrigaram-se a apostar no pronto-a-vestir para sobreviver. Foi o caso da Pitta, onde ainda se vendem casacos, camisas, polos, blusões, fatos completos, chapéus e gravatas para homem. 

Agora, afixados nas montras estão pequenos cartazes que anunciam as “promoções e grandes descontos” que se podem encontrar no interior. Manter-se-á assim até ao final do mês de Maio. 

Mas a memória da casa há-de ficar perpetuada no filme O Leão da Estrela (1947), quando António Silva elogia a indumentária de outro personagem: “São camisas de qualidade, são Pitta”. 

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