Petição exige demissão de directora regional de Cultura do Centro

Directora regional, Celeste Amaro, elogiou companhia que não “incomoda” administração central com pedidos de apoio. Declarações geraram indignação

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Realizadores, encenadores, actores, dramaturgos e produtores culturais estão entre os 110 primeiros subscritores da petição que pede a demissão da directora regional de Cultura do Centro (DRCC), Celeste Amaro. Em causa estão as declarações da responsável, que na sexta-feira, em visita a Leiria, elogiou a companhia Leirena Teatro por esta não “incomodar” a administração central com pedidos de apoio.

O documento, lançado esta quinta-feira, defende que que a directora da DRCC “não tem condições para continuar no cargo” e apela ao ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes para que aja “em conformidade e com urgência”. A petição tem também o apoio do movimento Manifesto em Defesa da Cultura.

Na origem da indignação, estão as declarações de Celeste Amaro. “Apresentaram tudo o que fazem e não me pediram dinheiro", afirmou em Leiria, referindo-se a uma reunião anterior com a companhia teatral.

Questionada pelo PÚBLICO, a responsável afasta a hipótese de demissão, colocando o assunto nas mãos do ministro da Cultura. “Ainda bem que há companhias que vivem e que subsistem com outros apoios que não o da administração central”, sublinhou. E argumenta: “Se as pessoas levam à letra tudo aquilo que se diz, então não podemos falar de nada.”

Os subscritores da petição consideram “no mínimo inusitado que uma funcionária do Estado com estas responsabilidades profira tais declarações”, entendendo que estas “ofendem os profissionais que têm trabalhado no serviço público financiado pelo Estado”. Contactado pelo PÚBLICO, o gabinete do ministro diz que Castro Mendes está a acompanhar a situação, mas que não fará comentários sobre o caso.

O Bloco de Esquerda já questionou o Governo e também o grupo parlamentar do PCP anunciou que vai requerer a presença de Celeste Amaro na Comissão da Cultura da Assembleia da República e confrontar o ministro da Cultura "com o conteúdo inaceitável e [as] ilações políticas a retirar das declarações da directora regional". Em comunicado enviado esta quinta-feira às redacções, a Direcção da Organização Regional de Leiria do PCP manifesta "indignação e repúdio" por declarações que "denotam um profundo desrespeito pelo conjunto dos artistas, companhias de teatro e outras estruturas artísticas que com inúmeras e enormes dificuldades desenvolvem esforços notáveis para promover a cultura, a sua fruição e produção". "As declarações de Celeste Amaro são ainda mais condenáveis quando desfere, por comparação, um ataque às companhias de teatro profissionais com tiradas claramente incompatíveis com as suas responsabilidades políticas, e que irresponsavelmente iludem o facto de as companhias profissionais de teatro do Distrito de Leiria viverem enormes dificuldades resultantes do subfinanciamento e da burocracia", acrescentam os comunistas.

Também esta quinta-feira, a DRCC emitiu um comunicado em que garante que as declarações de Celeste Amaro “em circunstância alguma pretenderam pôr em causa o trabalho desenvolvido por todos os profissionais de teatro, independentemente das formas que encontram para financiar a sua actividade”. E sublinhava que “elogiar uns nunca é criticar outros”. 

Entre os subscritores da petição estão vários dos responsáveis pelos principais equipamentos culturais da região. António Augusto Barros, da companhia Escola da Noite, Isabel Craveiro, d'O Teatrão, e Fernando Matos Oliveira, do Teatro Académico de Gil Vicente, programam os três maiores espaços de Coimbra (excluindo o Convento São Francisco, que ainda não tem modelo de gestão definido); Paula Garcia dirige o Teatro Viriato, em Viseu. 

Assinaram igualmente o documento docentes universitários, como Abílio Hernández, que presidiu à Coimbra Capital Nacional da Cultura em 2003, e dramaturgos e escritores como Abel Neves, Patrícia Portela, Jacinto Lucas Pires ou Nuno Camarneiro. A jornalista Diana Andringa, o realizador António Ferreira e a actriz e encenadora Natália Luíza são outros dos nomes que pedem o afastamento da directora.

Amaro destacava na sexta-feira a existência de uma companhia que “consegue ser profissional com outros sítios onde vai buscar dinheiro” e que “consegue subsistir porque vende os seus espectáculos”. Em comunicado emitido na sequência da polémica causada pelas declarações daquela responsável, o director da Leirena, Frédéric da Cruz Pires, referiu as “inúmeras dificuldades” da companhia para prosseguir a actividade e explicou que pretende concorrer ao próximo quadro de apoios da DGArtes. O responsável justificava o convite feito à directora da DRCC como um acto em “desespero de causa”, tendo como intenção dar a conhecer as dificuldades da companhia.

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