O advogado discreto que se tornou multicampeão

“Além de ser meu amigo, é um grande profissional”, disse em Novembro o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, sobre Paulo Gonçalves – assessor jurídico da SAD do clube que foi detido pela Polícia Judiciária.

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11 é o número de campeonatos ganhos por Paulo Gonçalves. Cinco no FC Porto, um no Boavista e mais cinco no Benfica DR

Paulo Gonçalves pode gabar-se de ter em abundância algo que muitos procuram, mas muito poucos obtêm: títulos de campeão nacional. Sem dar um pontapé numa bola, o advogado celebrou 11 vezes em 23 anos de trabalho directo com clubes de futebol – cinco títulos no FC Porto, um no Boavista, e mais cinco no Benfica. Figura discreta, dos bastidores, Paulo Gonçalves passou a ser o centro das atenções quando o seu nome começou a surgir nos e-mails internos do Benfica revelados pelo director de comunicação do FC Porto, Francisco J. Marques. Numa operação que investiga crimes de corrupção e violação de segredo de justiça, foi ontem detido pela Polícia Judiciária.

Desde a iniciação no mundo do futebol, ainda recém-formado em Direito pela Universidade Católica do Porto, até ao estatuto de braço-direito do presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, houve um longo caminho percorrido por Paulo Gonçalves. A amizade com Alexandre Pinto da Costa, filho do presidente do FC Porto, abriu-lhe as portas das Antas, onde esteve envolvido na constituição da SAD do clube, em 1997. Porém, quando Alexandre caiu em desgraça junto da estrutura dos “dragões”, o mesmo aconteceu com Paulo Gonçalves.

O advogado não foi para longe: mudou-se em 1999 para o Boavista, clube que por essa altura ombreava com os “grandes” do futebol português e participava nas competições europeias. A experiência de Paulo Gonçalves foi um trunfo e, com ele a bordo, os “axadrezados” conquistaram em 2000-01 o único título de campeão nacional da sua história. Mais tarde viriam as acusações dos casos Apito Dourado e Apito Final, baseadas em crimes que reportam à época 2003-04. Quando o Boavista foi despromovido, em 2008, Paulo Gonçalves já não estava no clube.

“A relação que sempre tive com ele, em termos profissionais, era excelente. Reconhecia-lhe muita competência. Foram muitos anos, entrámos no plano pessoal e considerava-o da família, pela forma muito íntima com que sempre lidámos. Respeito-o, admiro-o e fico triste por vê-lo nesta situação. Oxalá as coisas se resolvam para bem dele. Espero que saia ‘limpo’ disto”, confessou ao PÚBLICO o então treinador do Boavista, Jaime Pacheco.

Foi director-geral da SAD do Boavista entre 2000 e 2006 embora as suas competências pudessem ser abrangentes, como escrevia o semanário Expresso em Junho de 2017: “Os relatos cruzados de quem com ele privava na altura são desde então desencontrados: há quem jure que nunca lidou com árbitros, mas também quem afiance que já na altura mantinha ligações subterrâneas com agentes ligados à arbitragem da Liga, presidida por Valentim Loureiro, até ser suspenso de funções em 2004, no dealbar do Apito Dourado.”

Hermínio Loureiro quis levá-lo para a direcção da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) em 2006, mas o convite ficaria sem efeito – meses depois, Paulo Gonçalves assumia funções como assessor jurídico da SAD do Benfica. E foi conquistando a confiança de Luís Filipe Vieira, que passou a delegar no advogado a representação do clube em assembleias-gerais da LPFP.

“Paulo Gonçalves, além de ser meu amigo, é um grande profissional e é um homem que vive e defende intransigentemente o Benfica. Nada se pode apontar ao Paulo”, afirmou Vieira, em Novembro, numa entrevista ao canal de televisão do clube. Mas a Polícia Judiciária viu na conduta do advogado indícios de corrupção e violação de segredo de justiça, entre outros crimes.

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