Metalurgia ainda sem “sinais de alarme” dos clientes nos EUA

Associação portuguesa da indústria metalúrgica acompanha com atenção, mas sem alarme, a intenção da Casa Branca de aumentar as taxas sobre as importações do metal e do aço.

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Nelson Garrido

A economia real trabalha num tempo muito diferente dos soundbites políticos e, por isso, os empresários da área metalúrgica em Portugal, que têm nos Estados Unidos o quinto mercado mais importante do sector, dizem que só começarão a ficar assustados quando “os clientes derem sinal de alarme”.

Não é que não levem a sério as ameaças, nem estejam a fazer orelhas moucas aos anúncios que se vão fazendo, sobretudo nas redes sociais, em particular no Twitter. Mas, explica ao PÚBLICO Rafael Campos Pereira, vice-presidente da Associação dos Industriais Metalúrgicos Metalomecânicos e a Afins de Portugal (AIMMAP), “a verdade é que os anúncios se sucedem, e estão sempre a surgir novas variáveis”. “Apesar de ficarmos preocupados, e percebermos que poderão surgir problemas se se confirmar que haverá uma penalização aduaneira aos produtos manufacturados, só quando os clientes começarem a travar as suas compras é que vamos conseguir perceber o real impacto”, argumenta.

O mercado norte-americano tem uma quota residual das exportações do sector (cerca de 3,3%), mas é um dos que mais cresceu no ano de 2017 (37,3%) e tem sido mesmo uma das principais apostas dos empresários portugueses. No ano passado, as exportações chegaram aos 534 milhões de euros, sobretudo em produto acabado. Os produtos da metalurgia de base (por exemplo, peças fundidas de alta precisão) representaram 82 milhões de euros; as máquinas e equipamentos (como para a indústria agro-alimentar) pesaram 37 milhões de euros, e os produtos metálicos (como estruturas metálicas para energias renováveis — eólica e fotovoltaica) chegaram aos 29 milhões.

"Para já, ainda não temos a notícia confirmada de que haverá aumentos de taxas aduaneiras neste produtos acabados. Por enquanto, o anúncio é apenas para matérias-primas e nós não temos produção siderúrgica relevante”, acrescenta Rafael Campos Pereira.

Mas o dirigente associativo consegue antecipar essa evolução da medida como natural, se se mantiverem as intenções da Administração Trump. “Temos de ter consciência de que esta medida, como foi anunciada, vai prejudicar sobretudo os nossos concorrentes norte-americanos. Porque eles terão, inevitavelmente, de importar matéria-prima do exterior e vão ter de pagá-la mais cara. Não há produção nos Estados Unidos em quantidade suficiente para as necessidades. É natural que haja pressão para taxar os produtos acabados, e aí sim, as empresas portuguesas poderão sofrer um impacto”, argumenta.

Há, porém, outras medidas que poderão vir a diluir esses efeitos - as tais variantes que são anunciadas no Twitter. A mais recente novidade é a intenção de isentar desses aumentos de taxas alguns países, em contrapartida do cumprimento de algumas condições. O Canadá, por exemplo, não seria penalizado nas taxas se aceitasse rever o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA, na designação inglesa). E o México também não, se conseguisse impedir o acesso aos Estados Unidos de alegados traficantes de droga.

“Há muitas variáveis no jogo”, limita-se a sublinhar Rafael Campos Pereira, recordando que há muitas empresas portuguesas instaladas nesses países e a exportar para os Estados Unidos. No México, por exemplo, estão instaladas empresas como a Colep, a Simoldes e a Sunviauto.

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