Na Sicília, a vitória do 5 Estrelas foi demasiado grande

Entre eleitos através do sistema proporcional e os escolhidos directamente, o Movimento não tem candidatos suficientes para os lugares obtidos.

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Reuters

Pode uma vitória ser demasiado grande? Aparentemente, sim, pelo menos para o Movimento 5 Estrelas, pelo menos no caso na Sicília. A lei eleitoral, um complexo sistema misto, uninominal e proporcional, ajuda a perceber o sucedido.

Ora bem, os “grillini”, grandes vencedores das legislativas de domingo, arrasaram no Sul, principalmente nas ilhas. Na Sicília, o movimento elegeu 44 deputados e senadores, 28 através do sistema uninominal, mais 16 parlamentares na quota decidida com as regras de um sistema proporcional.

O problema é que cada lista do partido nos diferentes círculos só podia, por lei, ter quatro nomes e, nalguns casos, o movimento só apresentou três. Como parte destes candidatos, eleitos através dos votos na lista do movimento também venceram no confronto directo com os escolhidos pelos outros partidos (eleição uninominal ou maioritária), o total dos candidatos não chega para preencher os lugares realmente obtidos.

É a “ironia suprema”, diz Raffaella Svizzeretto, restauradora de arte e conselheira municipal em Roma do M5S. “Uma lei disparatada, inventada para beneficiar as coligações, os mesmos de sempre, e nós não só vencemos como temos uma vitória demasiado grande numa região”.

Sucedeu em vários círculos, qualquer um serve de exemplo. No conjunto da Catânia, Giulia Grillo e Simona Suriano venceram na quota maioritária, mas o partido obteve três lugares no proporcional, devendo assim enviar cinco eleitos para Roma. Problema: para além de Grillo e Suriano, na lista total que foi a votos só sobra um candidato, Luciano Cantone. A solução deverá passar pela eleição de suplentes, mas para já só se debate o inaudito dos factos.

Segundo a muito criticada lei, um terço dos membros da Câmara dos Deputados e do Senado foram eleitos através da escolha de um membro por círculo – cada partido ou coligação nomeou um candidato, ganhou o mais votado. Os restantes 398 lugares da Câmara e 199 do Senado foram escolhidos de forma proporcional.

A lei obriga a contas tão complexas que na terça-feira de manhã ainda havia senadores da Liga à espera de saber se tinham sido eleitos. As contas complicam-se mais no caso das coligações, onde a percentagem de votos num candidato eleito de forma directa (sistema uninominal) é depois distribuída pelos diferentes partidos, tendo em conta o resultado que cada um obteve no círculo nesse círculo.

Leis e confusões à parte, o que explica o sucesso do M5S no Sul de Itália? O movimento criado por Beppe Grillo já era forte nas regiões mais pobres do país, de tal forma que o líder, Luigi Di Maio, passou grande parte da campanha no Norte. “O Movimento arrasa no país que está pior. Recebe os votos do mal-estar de uma Itália marcada pelas desigualdades”, escreve o diário económico Il Sole 24 Ore.

Subsídios e legalidade

Os números são impressionantes. Na mesma Catânia onde os candidatos não chegam para os votos obtidos, o M5S sobe de 22,14% em 2013 para 50%. Ao todo, o partido ultrapassa os 48% na Sicília e os 40% na Sardenha. Mas o Sul não são só as ilhas: no círculo Nápoles 1, o deputado Roberto Fico venceu com 58%, chegando aos 75% em bairros particularmente complicados, como Scampia, na periferia norte da cidade, resultados inéditos para qualquer partido por estas zonas.

A explicação óbvia é a promessa que a direita descreve como mais absurda e impossível de concretizar: um subsídio de desemprego mínimo de 780 euros (o mesmo valor que passaria a contar para as pensões mais baixas). Mas em territórios onde a ameaça das máfias se mantém, contou também seguramente a mensagem de legalidade e luta contra a corrupção, uma das bandeiras fundamentais do M5S desde a criação, há quase dez anos.

Mas esta vitória é de, facto nacional, com o movimento a ser o segundo mais votado no Piemonte, por exemplo, atrás da Liga, e o primeiro na Lácio, com 32%. No caso da capital, onde o partido controla a autarquia, terão contado outros factos, como a gestão do mau-tempo e o anúncio, na última semana de campanha, do fim dos carros a gasóleo no centro histórico até 2024.

Claro que a subida extraordinária do M5S é também a derrota calamitosa do centro-esquerda e do Partido Democrático: o PD de Matteo Renzi perdeu 5 milhões de eleitores; destes, um em cada três transferiram-se para movimento no movimento que Beppe Grillo deixou a Di Maio. O partido anti-sistema também foi buscar a maioria dos abstencionistas de 2013 que desta vez decidiram votar. Contados todos os boletins e atribuídos quase todos os lugares, o M5S soma 32,7% na Câmara dos Deputados e 32,2% no Senado.

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