Com que idade começam as raparigas a pensar em ser pilotos?

Até 2020, a companhia aérea easyJet quer que 20% dos seus novos pilotos sejam mulheres.

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MIGUEL MANSO

Com que idade começam as raparigas a pensar “Quando for grande, quero ser piloto de aviões”? Nunca antes dos 16, ao passo que os rapazes antes dos dez já têm certezas sobre o seu futuro, num cockpit, a voar. Esta é uma das conclusões de um estudo que a companhia aérea easyJet fez e que tornou público nesta quinta-feira.

Ao todo foram inquiridos, pela Internet, 556 pilotos daquela companhia aérea: 489 homens e 59 mulheres; entre os 20 e os 30 anos (43%), os 31 e os 40 anos (31%) e os 41 e os 50 (26%). A companhia emprega mais de 3000 pilotos que voam mais de 265 aviões Airbus em mais de 870 rotas em 31 países. A easyJet é a que tem mais mulheres com esta profissão, diz a companhia aérea em comunicado, e pretende até 2020 que 20% dos seus novos pilotos sejam mulheres, numa política de igualdade de género, acrescenta. Segundo a Sociedade Internacional de Mulheres Pilotos, apenas 4% são mulheres, na easyJet são 13%.

Mais de metade dos pilotos homens (55%) sabia que queria sê-lo antes dos dez anos. Aliás, pouco mais de um quinto (22%) já o sabia antes dos cinco anos, porque já tinha viajado e visto uma cabine por dentro, porque tinha alguém da família ou amigos na área – a maioria responde que o pai (40%) ou o avô (46%) era piloto  –, ou porque a tecnologia o fascinava.

Com as mulheres que têm esta profissão é ligeiramente diferente. Entre as 59 inquiridas, quase metade (44%) já tinha mais de 16 anos quando pensou na ideia de ser piloto. “Eu queria voar e assumi que, como rapariga, seria hospedeira. Foi o meu pai que me disse que eu podia ser piloto”, respondeu uma profissional de 32 anos, no aeroporto de Gatwick, Reino Unido. Os exemplos de familiares, mais uma vez os pais ou avós, do sexo masculino, foi o que as inspirou para uma carreira no ar.

Não é um trabalho para mulheres

Contudo, algumas mulheres contam que foram dissuadidas de prosseguir o seu sonho, com a justificação de serem raparigas. “Na escola disseram-me que era um trabalho masculino”, conta uma piloto, de 30 anos, que trabalha em Luton, no Reino Unido. “Os meus pais disseram-me que não era um trabalho para uma mulher. Não queriam pagar-me a formação. Os professores diziam-me que não era uma profissão”, responde outra piloto, 29 anos, de Lisboa. “A psicóloga da escola aconselhou-me a aprender línguas para ser hospedeira”, recorda uma profissional de 45 anos, de Gatwick. 

Os estereótipos continuam a existir e são uma barreira para as mulheres, não só para ingressar como para progredir nesta carreira, reconhece a easyJet. “Colegas [homens] cadetes desejaram-me ‘boa sorte’ de forma sarcástica. E, naquela altura, quando a Cathay Pacific estava a recrutar, dizia claramente ‘só para homens’”, lembra uma piloto de 48 anos, de Luton. 

Em 2015, a easyJet criou a Iniciativa Amy Johnson, homenageando uma das primeiras mulheres que pilotaram aviões, a primeira a viajar de Inglaterra para a Austrália na década de 1930. O objectivo desta iniciativa é “inspirar uma nova geração de mulheres piloto”, explica David Morgan, director de operações de voo da companhia aérea, acrescentando que com os resultados deste estudo pretendem “mudar a percepção da sociedade e encorajar ainda mais as mulheres a prosseguir esta carreira gratificante, disponível para qualquer pessoa com as habilitações e atitudes correctas”.

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Algumas das propostas feitas pelos inquiridos passam por ir às escolas, referem 64% das mulheres e 47% dos homens. Outra das prioridades é ver nesta profissão um modelo a seguir, apontam 57% dos homens e 51% das mulheres. Por fim, propõem que se dê mais destaque à imagem pública das mulheres como pilotos, sugerem 51% das mulheres e 39% dos homens.

Nos últimos dois anos, a easyJet levou a Iniciativa Amy Johnson a 140 escolas e universidades, para divulgar o perfil desta carreira. “O meu avô era piloto e os meus pais foram incríveis no apoio às minhas escolhas de carreira, e é graças a este modelo de inspiração que tive que estou onde estou”, testemunha a piloto principal da Iniciativa, Marnie Munns.

A iniciativa serve ainda para ajudar as candidatas interessadas em prosseguir os seus estudos, fazendo-lhes empréstimos, os termos e as condições para esses planos de empréstimo variam de acordo com a entidade bancária e o país em que estão disponíveis, "mas são planos flexíveis", assegura a companhia.

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