Nova Zelândia vai provocar epidemia viral para acabar com “peste”de coelhos

Os coelhos selvagens são considerados uma praga agrícola em algumas zonas do país, devido à sua facilidade e rapidez de procriação.

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Os coelhos selvagens são considerados uma praga para os agricultores neozelandeses Reuters/MARK BLINCH

O Ministério das Indústrias Primárias (MIP) da Nova Zelândia anunciou esta quarta-feira que, a partir de Março, vai ser propagado pelo país um vírus que mata os coelhos. Os animais são vistos como uma praga para os agricultores, pelo que a disseminação do vírus RHDV1-K5 foi aprovada como uma medida de controlo para travar o crescimento exponencial da população de coelhos selvagens.

Após um requerimento do Conselho Regional do Ambiente de Canterbury – também conhecido como Environment Canterbury (ECan) – para importar e propagar uma nova estripe do vírus da Doença Hemorrágica do Coelho (Rabbit Haemorrhagic Disease Virus – RHDV), o Ministério anunciou que o vírus será espalhado a nível nacional, através de um programa coordenado nas diversas regiões, de forma a que a epidemia se propague com a máxima eficácia.

De acordo com dados divulgados pela Radio New Zealand (RNZ), estima-se que esta estirpe do vírus venha a matar entre 40% a 80% dos coelhos selvagens do país. De acordo com o MIP, citado pela BBC, os coelhos provocam, em média, um prejuízo anual na produção agrícola de 50 milhões de dólares neozelandeses (cerca de 29,5 milhões de euros, na taxa actual de câmbio) e o controlo da peste tem um custo de mais de 25 milhões de dólares neozelandeses (cerca de 14,8 milhões de euros) por ano.

O vírus já tinha sido introduzido na Nova Zelândia, em 1997, por um colectivo de agricultores de forma ilegal. Inicialmente, foi bastante eficaz; no entanto, ao longo dos últimos vinte anos, os coelhos vieram a tornar-se imunes, segundo o site neozelandês Stuff. O RHDV1-K5 é uma nova estirpe coreana que afecta os órgãos internos dos coelhos, causando febre e espasmos, coágulos sanguíneos e insuficiência respiratória, causando a morte dos coelhos dentro de dois a quatro dias depois de serem infectados. O vírus não constitui perigo para outros animais.

As organizações agrícolas mostraram-se satisfeitas com a aprovação do recurso a este vírus, que esperam ser uma arma no controlo do número de coelhos selvagens. Por outro lado, grupos de defesa dos animais contestaram a decisão e levantaram preocupações relacionadas com a crueldade animal e o risco de danos colaterais para coelhos de estimação.

A organização dos Agricultores Federados da Nova Zelândia (Federated Farmers – FF) afirmou que a notícia é um “enorme alívio”, tendo em conta o desespero de alguns agricultores. “Se passa mais um ano sem que o vírus seja introduzido, o dano ecológico para algumas propriedades será incalculável”, disse o porta-voz da organização, Andrew Simpson, à BBC. Já a representante da Sociedade para a Prevenção da Crueldade aos Animais (SPCA), Arnja Dale, afirmou, também em declarações à estação de televisão britânica, que a decisão de libertar o vírus foi decepcionante e que defendem o “uso de métodos mais humanos”, tendo em conta “o sofrimento que causará aos coelhos afectados e o potencial risco para os coelhos de companhia”. A SPCA acrescenta que a vacina que está a ser disponibilizada para os coelhos domésticos não foi ainda “testada adequadamente (…) não existindo ainda provas suficientes de que a vacina proporcionará protecção suficiente.”

No entanto, o Ministério das Indústrias Primárias da Nova Zelândia assegura que os coelhos domésticos vacinados estarão protegidos. Na Austrália, o vírus foi disseminado em 2017 e teve uma eficácia de mais de 40%, não existindo ainda relatos de coelhos domésticos vacinados que tenham morrido devido ao vírus. 

Os coelhos selvagens constituem um problema para os agricultores, uma vez que comem a relva destinada a alimentar o gado e causam danos na terra devido às tocas que escavam. Otago, situada na Ilha Sul, é uma das regiões mais afectadas da Nova Zelândia. O responsável pelo monitorização e operações ambientais do Conselho Regional de Otago, Scott MacLean, disse que a aprovação do vírus é uma boa notícia, uma vez que os coelhos são a peste número um na região. “Dez coelhos podem comer tanta relva como uma ovelha. Eles são uma ameaça para a nossa biodiversidade, já para não mencionar a degradação e a perda de solos causadas pelos buracos e tocas dos coelhos”, afirmou, citado pelo Stuff.

Os principais métodos de controlo da população de coelhos incluem o abate, o envenenamento, a fumigação de tocas – processo realizado através da libertação de compostos químicos ou pesticidas voláteis – ou, de forma menos drástica, a instalação de cercas. No entanto, de acordo com a BBC, as autoridades neozelandeses argumentam que o problema tomou grandes proporções, pelo que esses métodos não têm alcance suficiente.

O responsável pela bio-segurança do Conselho Regional de Canterbury (ECan), Graham Sullivan, afirmou que a decisão foi um importante passo e que a libertação do vírus entre Março e Abril de 2018 é uma óptima altura para aumentar a sua eficácia. No entanto, não é esperado que o vírus erradique totalmente os animais. “Embora não seja a bala de prata para o controlo de coelhos, antecipamos que a nova estripe vai ser uma grande ajuda no controlo das populações de coelhos selvagens, complementando métodos de controlo mais tradicionais”, acrescentou.

O Ministério das Indústrias Primárias da Nova Zelândia garante ter analisado os potenciais benefícios, nomeadamente para o sector agrícola, assim como os impactos que o vírus pode ter, relacionados com o risco para o bem-estar dos animais e saúde pública. “O MIP procurou aconselhamento junto do Comité Nacional para o Bem-Estar dos Animais. Este aconselhamento resultou na aplicação de controlos à venda e uso do RHDV1-K5 para dar uma resposta a preocupações específicas.”, lê-se no comunicado.

Texto editado por Hugo Torres

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