Alegado criador da bitcoin processado em oito mil milhões

Craig Wright, o australiano que outrora disse estar por detrás do pseudónimo Satoshi Nakamoto, é acusado de roubar quatro mil milhões de euros em bitcoins a um parceiro de negócios que está morto.

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Craig Wright nunca apresentou provas de ter criado a bitcoin Reuters/MARCO BELLO

Um dos alegados criadores da bitcoin foi acusado de roubar mais de quatro mil milhões de euros na moeda digital ao seu parceiro de negócios, que morreu em 2013. Craig Wright, o australiano que outrora disse estar por detrás do pseudónimo Satoshi Nakamoto, o misterioso inventor da bitcoin, terá falsificado a assinatura de Dave Kleiman para conseguir obter as criptomoedas deste. Agora, a família pede dez mil milhões de dólares a Craig Wright. É o equivalente a oito mil milhões de euros.

A queixa vem do irmão de Kleiman, cinco anos após a sua morte. “Não é claro se o Craig, se o Dave, ou ambos criaram a bitcoin”, lê-se no documento apresentado por Ira Kleiman num tribunal da Florida, nos EUA. “Porém, é inquestionável que tanto o Craig como o Dave estiveram envolvidos na bitcoin desde o seu começo, e ambos acumularam uma vasta riqueza em bitcoins de 2009 até 2013.”

Em vida, Dave Kleiman era um antigo militar do exército dos EUA, paraplégico desde 1995, que se dedicava à programação, geria a empresa de cibersegurança W&K Info Defense Research (dele e de Wright), e era ocasionalmente consultado por estações de televisão sobre segurança informática.

Até 2015, porém, o seu nome nunca tinha surgido associado à bitcoin. A atenção mediática chegou com a notícia de que as autoridades australianas estavam a investigar o envolvimento de David Wright com a bitcoin, levando a suspeitas que fosse o criador da tecnologia. O norte-americano David Kleiman era o destinatário de vários emails de Wright. Em Março de 2008, meses antes do artigo publicado por Satoshi Nakamoto sobre a bitcoin, Wright escreveu a Kleiman pedindo “ajuda para editar um texto académico” sobre “uma nova forma de dinheiro electrónico.” Desde 2000 que Kleiman também escrevia em fóruns que foram, mais tarde, utilizados por Satoshi Nakamoto para divulgar informação sobre a bitcoin.

A associação, porém, nunca foi provada. Em 2013, muito antes do nome de Wright chegar à atenção dos media, Kleiman foi encontrado morto na sua própria casa, em Miami. As autoridades descreveram a cena como “arrepiante”: o corpo estava em decomposição, rodeado de garrafas de álcool e uma arma. Um buraco de uma bala, no tapete, parecia indicar que Wright se tentou suicidar, mas a causa oficial de morte foi a infecção com uma bactéria resistente à penicilina, que o afectava a décadas.

Kleiman estava falido, apesar de um documento indicar que controlava um fundo com 1,1 milhões de bitcoins. De acordo com Ira Kleiman, na altura, Wright também contactou a família para dizer que “se tinha juntado ao Dave para criar e minerar bitcoins” e fundar uma empresa associada à tecnologia. Foram informados de que poderiam vender as acções dentro de meses. A data, porém, nunca chegou.

Foi só em 2015, com as autoridades australianas de olho nas bitcoins de Craig Wright, que a família de Kleiman percebeu o nível de envolvimento de Kleiman na tecnologia. Agora, querem justiça. “Desde que fugiu [da Austrália] para Londres, o Craig vive uma vida de fama e fortuna. Em Maio de 2016, identificou-se como o alegado criador da bitcoin. E actualmente trabalha como investigador de topo na nChain [uma empresa da tecnologia blockchain]”, lê-se na queixa recente. Embora se desconheça o número de bitcoins exacto que o ex-militar possuía, Craig Wright terá admitido, em emails enviados a Ira Kleiman, que o irmão tinha pelo menos 300 mil bitcoins e 50% e da W&K.

A identidade de Craig Wright como criador da bitcoin ainda é questionada. Se fosse o criador, seria fácil provar a sua identidade: qualquer transacção com bitcoins é pública e assinada com a combinação de uma chave pública e privada. Para provar que alguém é o misterioso inventor da bitcoin, basta assinar digitalmente outra transacção com a mesma chave privada de Nakamoto. Wright nunca o fez.

Não se sabe se o australiano irá ao tribunal da Florida para prestar declarações sobre a acusação de Ira Kleiman.

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