Depois de meses paradas, câmara diz que obras no Hotel Netto já recomeçaram

Os trabalhos pararam devido a um “desentendimento” entre o promotor e o empreiteiro. Com um novo responsável pela recuperação do hotel, a autarquia garante que as obras já recomeçaram.

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O histórico hotel junto ao Palácio Nacional de Sintra está em ruínas há mais de 40 anos Sebastião Almeida
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O histórico hotel junto ao Palácio Nacional de Sintra está em ruínas há mais de 40 anos Sebastião Almeida

Depois de mais de quatro décadas votado ao abandono, há muito que a recuperação do histórico Hotel Netto é aguardada pelos sintrenses. Há dois anos, com a venda do hotel em hasta pública à empresa Restelo Azul, ficou a promessa de que o edifício do século XIX seria recuperado para albergar um hotel de quatro estrelas com 34 quartos. As obras ainda arrancaram mas, meses depois, pararam, deixando a população a questionar por quanto tempo mais as ruínas do hotel, que foi casa do escritor Ferreira de Castro, serão uma "mancha" na paisagem que envolve o Palácio Nacional, no centro histórico da vila de Sintra. A autarquia diz agora que os trabalhos já recomeçaram. 

Apesar da grua e dos andaimes, ao que o PÚBLICO apurou, a recuperação do edifício está suspensa desde Junho. “De facto os trabalhos estiveram parados durante algum tempo devido a um desentendimento entre o promotor da obra e o empreiteiro”, disse ao PÚBLICO fonte do gabinete de comunicação da autarquia liderada por Basílio Horta.

O "desentendimento" terá levado ao afastamento do anterior construtor, estando agora os trabalhos a cargo da construtora San Jose. No local, que o PÚBLICO visitou no final da semana passada, estão já afixadas as placas que indicam o novo dono da obra. No entanto, não foram vistos trabalhadores. O PÚBLICO tentou, sem sucesso, entrar em contacto com o proprietário do imóvel.

Nos últimos anos, o edíficio com fachada horizontal, de linhas sóbrias, rasgada por longas fileiras de janelas rectangulares e por varandas balaustradas em ferro, tem passado de mão em mão. 

No final de 2013, a Parques de Sintra-Monte da Lua, empresa de capitais públicos da qual a autarquia é accionista e é responsável pela gestão dos parques e monumentos de Sintra, quis comprar, por 600 mil euros, o hotel em ruínas à empresa Tivoli Hotels & Resorts, que o detinha. A ideia era a adaptação do antigo hotel a uma “residência jovem/hostel, de modo a viabilizar a sua recuperação e vitalizar o centro histórico de Sintra”. No entanto, a autarquia decidiu exercer o direito de preferência, impedindo a aquisição da Parques de Sintra - Monte da Lua, dirigida, na época, por António Lamas.

Na altura, Basílio Horta, dizia à agência Lusa que a aquisição do Hotel Netto revelava que a câmara ia "assumir as suas responsabilidades na requalificação do centro histórico da vila de Sintra e em todo o concelho”. Porém, a autarquia nunca avançou com as obras e acabou por decidir-se pela venda, perante o elevado custo de manutenção da fachada.

O imóvel acabou por ser vendido, em Março de 2016, em hasta pública, à empresa Restelo Azul – Exploração Turística, detida pela ex-mulher do empresário Carlos Saraiva, um dos sócios maioritários de um grupo imobiliário e turístico, onde estava integrada a cadeia hoteleira CS que já na altura se sabia estar em situação de insolvência e foi, mais tarde, integrada na Nau Hotels & Resorts. 

O antigo hotel foi arrematado à única proposta apresentada à hasta pública, pelo valor de um milhão de euros. A intervenção no edifício consistiria na criação de um hotel de quatro estrelas com 34 quartos, incluindo três suítes, num total de 68 camas. 

O negócio assentou na modalidade de pagamento diferido. Assim, a Restelo Azul pagou apenas 20% do montante da transacção, ou seja 200 mil euros. Seriam pagos mais 30% quando a unidade abrisse portas e duas prestações de 25% aos seis meses e após um ano da entrada em funcionamento do novo hotel, que beneficiaria de isenção de taxas municipais por envolver a recuperação do edifício.

Numa reunião do executivo em Novembro passado, o vereador da CDU, Pedro Ventura, questionou o presidente da câmara sobre a paragem na empreitada. Na resposta, Basílio Horta disse estar a acompanhar a obra “com muita preocupação”. “A obra não está inteiramente parada, mas está a andar muito, muito devagar. Parece estar parada, mas não está. Eu fui lá e estão a trabalhar por dentro duas pessoas. Por aquele caminho, nunca mais o hotel Netto é arranjado. Vamos realmente ter que intervir porque o contrato diz que se as obras não forem feitas naquele prazo há uma resolução do contrato, eles perdem o dinheiro que já deram e nós ficamos outra vez com o hotel”, explicou. 

Questionada pelo PÚBLICO, a autarquia garantiu estarem a ser cumpridos os prazos legais da empreitada. No termos da adjudicação, em Julho de 2016, o promotor dispõe de 30 meses para concluir o hotel, "após emissão do alvará de construção ou licenciamento da operação urbanística".

De acordo com a câmara de Sintra, “encontram-se concluídas todas as demolições, executada a contenção de fachada (uma das fases mais difíceis), contenção periférica com execução de pregagens e parte das escavações”. O valor de obra executada até ao momento é de aproximadamente 600 mil euros. Os trabalhos estão agora a cargo da construtora San Jose, que estará “a trabalhar no local para concluir os restantes trabalhos de estrutura, cobertura, alvenarias, cantarias e revestimentos exteriores”. 

O projecto prevê a instalação da unidade hoteleira com a preservação da fachada, com 34 quartos. O hotel, que seria de quatro estrelas, será agora uma unidade de cinco estrelas, uma “decisão da responsabilidade da Direcção Geral de Turismo”, sustenta a autarquia. A cumprirem-se os prazos, a recuperação do antigo Hotel Netto terá de estar concluída no final deste ano. 

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