Promessas de diálogo em tom militar encerram Olimpíadas de Inverno

Presidente sul-coreano encontrou-se com o general norte-coreano acusado de crimes de guerra antes da cerimónia de encerramento dos Jogos de Pyeongchang

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O Presidente sul-coreano com o general Kim Yong-chol EPA

O anúncio da disponibilidade da Coreia do Norte em iniciar conversações com os EUA, para desanuviar o clima de tensão entre os dois países, marcou este domingo a cerimónia de encerramento das Olimpíadas de Inverno, em Pyeongchang, na Coreia do Sul. Após 16 dias em que o desporto descongelou alguma da tensão entre os dois países que dividem a península do nordeste asiático, o Comité Olímpico Internacional (COI) elogiou a mensagem de esperança deixada pelos Jogos.

“O desporto enviou uma mensagem de paz ao mundo. O desporto constrói pontes, o desporto une as pessoas num mundo frágil”, assegurou Thomas Bach, presidente do COI, perante uma audiência de perto de 40 mil espectadores no Estádio Olímpico. Destacando a boa vontade demonstrada pelas duas coreias, o dirigente desejou que a aproximação entre o Norte e o Sul prossiga no futuro.

Uma esperança reforçada antes da cerimónia pelo anúncio de que o Governo de Pyongyang estaria “muito disposto” em encetar conversações directas com os EUA. Uma revelação feita pelas autoridades da Coreia do Sul, na sequência do encontro do Presidente Moon Jae-in com o general Kim Yong-chol, responsável pelo departamento de relações inter-coreanas do belicoso vizinho do Norte.

Mas a presença do militar, que representou o seu país na cerimónia de encerramento dos Jogos, dividiu os sul-coreanos, com muitos a encará-la como uma provocação, motivando fortes protestos. É que Kim Yong-chol foi também o antigo chefe dos serviços secretos norte-coreanos, sendo apontado por Seul como um criminoso de guerra, responsável pelo afundamento da fragata “Cheonan”, em 2010, que provocou a morte a 46 marinheiros.

Alguns observadores têm uma leitura contrária, considerando que ao enviar o general, um dos peritos do programa nuclear da Coreia do Norte, o governo de Kim Jong-un poderá estar a dar um forte sinal de que quer mesmo negociar. Até porque, na última sexta-feira, os EUA reforçaram a pressão sobre o regime de Pyongyang, anunciando novas sanções, “mais duras do que nunca”.

A iniciativa de Washington poderá ter refreado alguma da harmonia que se viveu há duas semanas na cerimónia de abertura dos Jogos. Na altura, as duas coreias apresentaram uma delegação conjunta, algo que não acontecia desde os Jogos Asiáticos de Inverno de 2007, vestindo os mesmos equipamentos e sob uma bandeira com uma imagem da península. Desta vez, os desportistas voltaram a caminhar juntos, mas os 22 atletas norte-coreanos envergaram os seus próprios uniformes.

O cenário na tribuna de honra foi também diferente. No primeiro acto, a 9 de Fevereiro, os EUA enviaram o vice-presidente Mike Pence que “contracenou” com a jovem irmã do líder norte-coreano, Kim Yo-jong. Desta vez, os papéis inverteram-se um pouco. Donald Trump fez-se representar pela sua filha, Ivanka Trump, que foi bem mais efusiva do que o sorumbático Pence, aplaudindo entusiasticamente os atletas das duas coreias. Já Kim Jong-un apostou no impopular general, que rivalizou em matéria de simpatia com o vice americano.

Qualquer leitura sobre o futuro próximo das relações entre as duas coreias será ainda prematura, mas a “trégua” olímpica vai prolongar-se por mais alguns dias. Pelo menos enquanto se vão disputar os Jogos Paralímpicos de Inverno, que irão durar até ao próximo dia 18 de Março.

Em relação à cerimónia de encerramento, propriamente dita, a festa oscilou entre o moderno e o tradicional, com a música típica da península a alternar com o pop sul-coreano, não faltando as homenagens aos atletas e países mais condecorados (Ver caixa). A chama olímpica invernal voltará a acender-se daqui a quatro anos em Pequim, apenas mil quilómetros a leste de Pyeongchang.

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