O Club de Vila Real voltou a ganhar vida e vai continuar na sede centenária

Apesar das dificuldades financeiras, a associação conseguiu manter as portas abertas e foi agora reconhecida pela Câmara como entidade de "interesse histórico e cultural ou social local". Com obras em curso, o clube quer ser mais do que um palco de concertos.

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Quando em Setembro o programador cultural do Clube de Vila Real anunciou a sua saída e o encerramento do espaço, foram publicadas no Facebook dezenas de mensagens de luto e tributo por parte de artistas que conheceram e pisaram o palco daquela associação cultural. No entanto, no final do ano passado, a direcção do clube recentemente eleita anunciou que, apesar das dificuldades e do cessar temporário da actividade cultural, não fecharia portas. E sabe-se agora que poderá permanecer na sede centenária da Avenida Carvalho Araújo, no coração da cidade.

De acordo com o Novo Regime do Arrendamento Urbano, o clube, a pedido do senhorio, teria de abandonar o espaço em Março de 2018. Mas, neste mês, a Câmara de Vila Real reconheceu a associação como uma entidade de "interesse histórico e cultural ou social local", dando-lhe a possibilidade de estender o contrato de arrendamento por mais cinco anos. Algo que só é possível devido ao esforço financeiro de um conjunto de sócios, que quis manter a associação viva e se “mobilizou para pagar a dívida em atraso ao senhorio”, explica João Gonçalves, actual presidente do clube.

Foi também através do esforço conjunto dos sócios e de vários vila realenses, que se mostraram solidários e ofereceram ajuda, que o clube está a fazer obras e entrou em 2018 com uma sala de concertos, um bar e uma sala multiusos renovados.

Desde Janeiro, já foram realizadas duas mãos cheias de concertos e festas. Mas, com a chegada do reconhecimento da Câmara, a equipa está com ganas de avançar com projectos até agora adiados, adianta Joana Lopes, um dos membros da direcção: “Queremos fazer mais do que concertos. Queremos fazer residências artísticas, exposições, workshops, tertúlias. Não queremos que isto seja só um bar nocturno”. Entre Abril e Maio, o clube, que para já funciona entre as 21h30 e as 2h de segunda a sábado, deverá abrir ao público durante a tarde, para dinamizar as actividades e rentabilizar o espaço, que se pretende que seja autossustentável – “Não queremos ser subsidiodependentes, a actividade tem de aguentar as despesas”, argumenta o presidente da associação.

Entretanto, outras ideias já estão em andamento. Membros da direcção estão a vasculhar o arquivo histórico para que se faça uma crónica acerca da vida da associação de 123 anos, que poderá, no futuro, ser publicada. E se a herança do passado está a ser organizada, no presente forma-se uma nova, revela João Rebelo, também pertencente à direcção: “Estamos a tentar criar um espólio discográfico com todas as bandas que aqui passam e manter isso como um espólio do clube. Quem sabe se daqui a 100 anos não teremos um dos maiores arquivos de CD’s. E quem diz isso, diz fotografias das exposições, diz livros quando aqui forem feitos lançamentos.”

Agradar a miúdos e graúdos

Nunca antes esta direcção juntou gerações tão díspares. Desde a casa dos 20 à dos 70, são várias as mãos no leme da associação. Joana Lopes e João Rebelo são dois dos mais novos. O que os levou a juntarem-se ao projecto foi a vontade de não deixar algo que é “tão importante para a cidade” morrer, explica João: “O clube é muito antigo e já teve muitas identidades. Nestes últimos anos, houve uma dinamização bastante grande no que diz respeito à cultura e criou-se um espaço alternativo que, acima de tudo, funcionava à noite, mas que era importante. E notou-se, quando a atividade cultural parou, que as pessoas que ficaram muito desiludidas. E nós achávamos que havia muito potencial aqui.”

Mas se o clube quer continuar a abrir as portas à gerações mais novas, não vai abdicar de ser um sítio de descanso e convívio para os sócios mais antigos, explica o presidente João Gonçalves: “Queremos funcionar de modo que os sócios que se mantêm possam ver no clube um espaço como aqueles que viram nos anos 60 e 70, um espaço onde possam estar e disfrutar.”

O Sr. Adérito, o sócio número um e o mais velho direcção, diz que tem “milhares de horas passadas” naquele espaço. Confessa que “gostava de continuar a vir com as pessoas amigas, beber um copo”, mas que também “gostava de ver a casa cheia de juventude”. Um confronto de gerações que pode bem ser possível através de uma das propostas que a direcção tem em cima da mesa – a realização de noites de fados regulares.

Sobre o que poderá acontecer depois dos próximos cinco anos, João Gonçalves assegura que a existência do clube nunca vai ser posta em causa independentemente da sua sede. Seja através da sua componente cultural, seja através da secção desportiva, que desde 2012 que tem como sede a escola primária da Araucária. Mas, para já, há eventos agendados até Maio e “os sócios mais antigos continuam a encontrar-se lá [no edifício da Avenida Carvalho Araújo], para lerem o jornal e para jogarem as suas cartas”, adianta o presidente – “O Club de Vila Real continua a laborar.”

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