Os BAFTA a preto e tanto: tantos prémios para Três Cartazes, tantos vestidos contra o assédio

Última paragem principal da temporada de prémios dominada pelo movimento Time’s Up e pelo favoritismo do filme de Martin McDonagh, e de quatro actores que parecem já ter o Óscar na mão.

Fotogaleria
Allison Janney esconde-se atrás da estatueta dos BAFTA ANDY RAIN
A equipa de Três Cartazes À Beira da Estrada, longa-metragem vencedora de cinco BAFTA
Fotogaleria
A equipa de Três Cartazes À Beira da Estrada, longa-metragem vencedora de cinco Bafta ANDY RAIN
Fotogaleria
Sam Rockwell Reuters/HANNAH MCKAY
Fotogaleria
Gary Oldman LUSA/NEIL HALL
Fotogaleria
Daniel Kaluuya LUSA/ANDY RAIN
Fotogaleria
Angelina Jolie LUSA/NEIL HALL
Fotogaleria
Reuters/PETER NICHOLLS
Fotogaleria
Kate Middleton e o príncipe William LUSA/NEIL HALL

Os prémios da Academia Britânica de Artes e Ciências Cinematográficas (BAFTA, na sigla original) contam duas histórias. Uma é a de como uma vez mais o momento #MeToo e o movimento Time’s Up serviram de fio condutor da passadeira vermelha até à cerimónia e a outra é de como Três Cartazes à Beira da Estrada voltou a ganhar ímpeto na corrida para os Óscares. Guillermo del Toro voltou a ser o melhor realizador, Frances McDormand e Gary Oldman os melhores protagonistas.

A temporada de prémios de 2018 tem esta marca, a da representatividade no feminino, e cada um dos seus capítulos é observado sob essa lupa da narrativa mais alargada - a passadeira vermelha foi palco de que tipo de conversas?; elas chegaram ao palco propriamente dito?; que sinais emitem os vencedores?
Frances McDormand proclamou um sonoro “Power to the people” no seu discurso de aceitação do BAFTA, no Royal Albert Hall em Londres domingo à noite; o seu colega de elenco Sam Rockwell quis lembrar que tudo deve a “mulheres fortes, inteligentes e justas”. Cá fora, a esmagadora maioria das actrizes, nomeadas e convidadas vestiu novamente de negro, a cor do protesto inaugurada nos Globos de Ouro em Janeiro, à excepção bastante notada da duquesa de Cambridge. E tal como nos Globos, muitas nomeadas escolheram como par activistas feministas ou pela diversidade, rostos de protesto fabril ou editorial.

Quase tão escrutinada quanto a lista de vencedores, a lista de quem usou no corpo o sinal do protesto teve duas excepções notórias. Frances McDormand usou um vestido negro, mas com outras cores - “tenho um problema com a conformidade”, explicou - e o curioso caso do verde escuro de Kate Middleton explicar-se-á pelo estrito protocolo da família real impede que quaisquer causas políticas sejam apoiadas por um dos seus membros. Mas voltando ao interior do Royal Albert Hall, o espectáculo continuou.

No palco, a anfitriã Joanna Lumley evocou o trabalho das sufragistas, que considerou as construtoras dos alicerces da “resistência e protesto poderoso que hoje continua com o movimento Time’s Up, e com ele a determinação de erradicar a desigualdade e o abuso sobre as mulheres em todo o mundo”. Para alguns observadores da noite, o movimento Time’s Up “eclipsou” a cerimónia de prémios, como escreve o New York Times. Esta foi precedida por uma carta aberta publicada no semanário britânico The Observer em que o âmbito da luta dessa organização fundada na esteira do escândalo Weinstein e da catadupa de denúncias sobre assédio sexual se alargava oficialmente para o combate à desigualdade salarial na indústria, entre outros temas.

Três Cartazes recebeu cinco prémios, saldando-se como o aritmético “vencedor da noite”, entre os quais o de melhor filme, melhor actriz, melhor actor secundário (Sam Rockwell), melhor argumento original e melhor filme britânico - esta última é a mais específica das categorias dos BAFTA, acompanhada do prémio Rising Star, para o novo talento Daniel Kaluuya. O jovem actor de origem ugandesa está nomeado para o Óscar de Melhor Actor por Foge e actualmente a fazer uma volta vitoriosa ao mundo a propósito da estreia do seu mais recente papel, em Black Panther.

McDormand e Rockwell - e também o Winston Churchill de Gary Oldman por A Hora Mais Negra - já tinham sido premiados pelos seus pares do sindicato de actores. Os quatro prémios principais já tinham sido entregues ao filme também nos Globos de Ouro, mais um barómetro de sentimento do que uma previsão rigorosa dos Óscares dado que não partilham qualquer votante com a Academia. Já a Academia Britânica partilha sim métodos de votação com a sua congénere de Hollywood e 500 votantes (os Óscares são votados por 7258 profissionais).

Martin McDonagh, realizador e autor de Três Cartazes, não foi nomeado para o Óscar de Melhor Realizador e nos BAFTA viu o prémio ir para o actual favorito, Guillermo del Toro, por A Forma da Água. O realizador mexicano venceu o sintomático prémio do sindicato dos realizadores e tem o filme mais nomeado (combinação de categorias chamadas técnicas, como os efeitos visuais, de um filme de fantasia e de drama que consegue também nomeações nas principais categorias) pelos britânicos e pelos Óscares. Mas recebeu apenas mais dois prémios - a música de Alexandre Desplat, um favorito, e o design de produção.

Ainda assim, McDonagh sentiu-se vitorioso: “Aquilo que mais me orgulha, especialmente neste ano de Time’s Up, é que é um filme sobre uma mulher que recusa aguentar mais merdas”, disse na cerimónia, confirmando que Três Cartazes, até mais do que o inicialmente fulgurante Lady Bird, assume estar na corrida também tematicamente. A Mildred de McDormand é uma mulher que usa os outdoors à entrada da sua cidade para protestar quanto à não-resolução do caso da sua filha, violada e morta.

Allison Janney voltou a ser premiada, como já tinha sido pelo Screen Actors Guild, pelo seu trabalho de actriz secundária em Eu,Tonya, sobre a patinadora Tonya Harding, Chama-me Pelo Teu Nome de James Ivory recebeu o prémio de Argumento Adaptado, que já tinha sido atribuído pelo sindicato dos argumentistas - que no entanto não deram o prémio de Argumento Original a Três Cartazes, como os BAFTA, mas sim a Foge, de Jordan Peele.

Com e Coco e Eu Não Sou o Teu Negro distinguidos na Animação e Documentário, com Dunkirk e Blade Runner 2049 a ganharem discretos prémios de som ou efeitos visuais e outros filmes como The Florida Project e o seu protagonista Willem Dafoe ausentes dos BAFTA, agora será tempo de rever previsões e de, em Hollywood, continuar a campanha de cada um dos filmes - cujo agressivo formato actual tudo deve ao produtor e distribuidor Harvey Weinstein, a figura mais ausente com maior presença nesta corrida com um único destino: os Óscares.

 

A lista completa de vencedores dos BAFTA

Melhor Filme

Três Cartazes à Beira da Estrada

Melhor Filme Britânico  

Três Cartazes à Beira da Estrada

Estreia de guionista, realizador ou produtor britânico

Eu Não Sou uma Feiticeira

Melhor Filme em língua estrangeira

A Criada

Melhor Documentário

Eu Não Sou o Teu Negro

Melhor filme de animação

Coco

Melhor realizador

A Forma da Água, de Guillero Del Toro

Melhor Argumento Original

Três Cartazes À Beira da Estrada, de Martin Mcdonagh

Melhor Argumento Adaptado

Chama-me Pelo Teu Nome, de James Ivory

Melhor Actriz

Frances Mcdormand, de Três Cartazes à Beira da Estrada

Melhor Actor

Gary Oldman, de A Hora Mais Negra

Melhor Actriz Secundária

Allison Janney, de Eu, Tonya

Melhor Actor Secundário

Sam Rockwell, de Três Cartazes à Beira da Estrada

Melhor Banda Sonora Original

A Forma da Água

Melhor Fotografia

Blade Runner 2049

Melhor Edição

Baby Driver

Melhor estrela em ascensão (voto do público)

Daniel Kaluuya de Foge

Maquilhagem e cabelos

A Hora Mais Negra

Figurino

Linha Fantasma

Som

Dunkirk

Efeitos Visuais

Blade Runner 2049

 

Sugerir correcção
Comentar