O enorme desafio de Rui Rio

Rui Rio usou o silêncio durante um mês para criar uma expectativa. Mas não terá uma segunda oportunidade para causar uma boa primeira impressão. Domingo veremos.

Se o PSD fosse uma corrida de Fórmula 1, dir-se-ia que Rui Rio tinha ganho um bom lugar na grelha de partida. E não era fácil gerir bem o mês que passou depois das directas: o partido vem de um luto de poder, de uma derrota autárquica e também de uma campanha que deixou marcas. Um mês de silêncio depois de tudo isto podia ter tido efeitos difíceis de reverter.

A verdade é que não teve. Porque Rui Rio usou habilmente a melhor arma que tinha à disposição, o silêncio, para atingir o objectivo: criar uma expectativa. Teve sorte, porque o Governo ficou à sua espera, na expectativa de ter um novo parceiro para dialogar. 

Dito isto, é bom ter a expectativa - e muitos olhos vão estar postos no congresso do PSD deste fim-de-semana. Mas mais importante é usá-la, porque não há uma segunda oportunidade de criar uma boa primeira impressão - uma das máximas mais conhecidas da política. E o desafio de Rui Rio não é pequeno. É enorme.

Claro que o novo líder não pode sair do congresso da Junqueira sem ter a casa arrumada (e aí o nome de Fernando Negrão é uma saída limpa para um problema grave na bancada). Nem sem mostrar uma renovação aberta a gente nova e qualificada. Rui Rio também não pode deixar de dizer para que consensos está disponível, ou deixar uma ou duas propostas que nos deixem ver que terá um caminho pensado. Tudo isto é importante, claro que sim, mas não é o essencial, que é recuperar o eleitorado que o PSD perdeu em 2015. 

Um inquérito coordenado pelos politólogos Pedro Magalhães e Marina Costa Lobo, que hoje recuperamos, identificou o pressuposto: PSD e CDS perderam mais de 700 mil votos, quase 12 pontos percentuais. Sobretudo entre os que têm (ou tinham) baixo nível de vida, entre os desempregados e os pensionistas mais pobres. 

Se era assim em 2015, hoje não será melhor. O Governo de Costa, com a ajuda das esquerdas, conseguiu ter o país a crescer 2,7% no último ano, o maior crescimento em 17 anos; baixou o desemprego para cerca de 8%, níveis que não se viam há dez anos. E tem recuperado as pensões mais baixas, com dois aumentos extraordinários em dois anos.

O ponto de partida é, portanto, difícil. E com uma fotografia muito nítida, vinda da última sondagem: Rui Rio parte com uma imagem simpática, quase ao nível de António Costa; mas o PSD está bem abaixo do PS, nem perto dos 30% do eleitorado - face a 40% dos socialistas. Ninguém poderá exigir ao novo líder uma poção mágica que resolva num fim-de-semana o que não se resolveu em dois anos. Mas pelo menos que dê um sinal de que sabe para onde vai - e quem tem que recuperar. E atenção: só falta ano e meio para as próximas legislativas.

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