Ponta Garça acordou sobressaltada com a terra a tremer

"Desde as três da manhã, estremeceu bastante – a casa, dentro, os móveis, paredes e tudo", conta uma das habitantes da freguesia de Vila Franca do Campo, na ilha de São Miguel.

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joão silva

A população da freguesia rural de Ponta Garça, em Vila Franca do Campo, na ilha de São Miguel, acordou hoje sobressaltada, numa madrugada em que a terra não parou de tremer.

"Senti a partir das 3h [menos uma hora do que em Lisboa], com um intervalo entre os dez minutos e um quarto de hora, sismos fortes. A partir das 4h começaram a ser menos fortes e às 6h15 deu um forte outra vez", relatou João Pacheco à agência Lusa.

O proprietário de uma casa de veraneio em Ponta Garça, na zona central da costa sul de São Miguel, local do epicentro desta crise sísmica, preferiu pernoitar no carro por questões de segurança.

"A minha casa é antiga, com mais de cem anos, e portanto é de pedra, não há placas de cimento. E como tem madeiras estremece muito mais e faz muito mais barulho", explicou.

Helena Pacheco, residente em Ponta Garça, saiu à rua depois de ter sentido "cerca de dez vezes" a terra tremer e vislumbrou alguns dos vizinhos, mas voltou para casa, para junto do marido e do neto, lembrando-se da última crise sísmica, em que "não conseguiu abrir a porta de casa" para poder sair.

"Eu estava a dormir, de repente sinto a cama a estremecer. Eu tenho um quarto antigo, de entabulado antigo, com barrotes, e senti estremecer por três vezes. Deu para assustar porque nós nunca sabemos o que vai acontecer. Pelas seis da manhã senti outro, pensei 'está a começar outra vez'", contou.

Numa casa mais à frente, na mesma rua, Zélia Pimentel confessou que não pregou olho "toda a noite" desde que começou a sentir os primeiros abalos.

"Desde as três da manhã, estremeceu bastante – a casa, dentro, os móveis, paredes e tudo. A minha casa tem duas placas e sentiu-se perfeitamente, foram bastante fortes. Ouvi dizer que era de intensidade de 3,2 [na escala de Richter] e eu até acho pouco. Apesar de estarmos bastante habituados a este tipo de eventos nas nossas ilhas, ficamos sempre assustados", disse.

O lavrador Francisco Medeiros sentiu os primeiros sismos em casa e os seguintes já na sua exploração agrícola, localizada junto à lagoa do Congro. O epicentro dos abalos está entre os vulcões do Fogo e do Congro.

"Quando eu cheguei lá acima eram 4h, foi quando senti um mesmo forte. Senti dois lá em cima, um mais forte do que o outro. Senti o chão a abalar. O que se vê é a água dos tanques a mexer e os animais [as vacas] ficam mais alerta, mais quietas e desconfiadas, e os cães estão sempre a ladrar", relatou.

Centenas de sismos ocorreram na última noite e esta manhã na ilha de São Miguel, nos Açores, e 20 deles foram sentidos pela população, informou hoje a Protecção Civil regional, salientando, ao final da manhã, que a frequência sísmica diminuiu ligeiramente.

"Podemos dizer que em São Miguel, nas povoações entre Água de Pau e Povoação, a sul da ilha, foi onde sentiram mais os sismos, e a norte, entre Rabo de Peixe e Fenais da Ajuda", referiu o responsável regional pela Protecção Civil, Carlos Neves.

Entre as medidas de segurança a adoptar pela população, aconselha-se a que seja mantida a calma, que não seja provocado fogo, devido a possíveis fugas de gás, que sejam desligados os circuitos de gás, electricidade e água, caso haja suspeita de que se encontram danificados, que não sejam utilizados elevadores, e ainda especial cuidado com vidros partidos ou cabos de electricidade e afastamento das praias.

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) registou às 7h17 (hora local) nas estações da Rede Sísmica do arquipélago dos Açores, um sismo de magnitude 3,6 na escala de Richter com epicentro localizado a cerca de seis quilómetros a Sul-Sudeste de São Brás, em São Miguel.

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