Atletas russos perdem recurso horas antes da abertura

O escândalo do doping russo adiou a decisão final sobre o número de compatriotas de Putin em Pyeongchang até ao dia da cerimónia de abertura. Recurso dos atletas russos foi recusado.

Foto
A presença dos atletas russos em Pyeongchang está envolta em polémica LUSA/FILIP SINGER

Foram os Jogos Olímpicos mais caros de sempre, pensados como um instrumento de propaganda política e desportiva para um país. Apesar de nem todos os parafusos estarem bem aparafusados nos primeiros dias (alojamentos incompletos, falta de neve), Sochi 2014 cumpriu o seu papel. Foi um sucesso organizativo e desportivo para a Rússia, que se mostrou ao mundo como um país moderno e a potência dominante nos desportos de Inverno. Mas este sucesso imediato rapidamente se transformou em infâmia devido ao doping e, quatro anos depois, na iminência dos Jogos de Inverno, em Pyeongchang, continua a ser uma sombra muito negra que paira sobre o movimento olímpico internacional. Esta sexta-feira, primeiro dia da competição, o Tribunal Arbitral do Desporto recusou o pedido de 47 atletas e treinadores russos para participarem nos Jogos de Pyeongchang.

Foi um jogo de decisões e recursos entre o Comité Olímpico Internacional (COI) e os atletas russos implicados nas denúncias de 2016 sobre um sistema de doping e encobrimento no desporto do país com patrocínio estatal durante os Jogos de Sochi. A decisão inicial do COI foi banir a Rússia dos Jogos de 2018, mas deixou a porta aberta para os russos que provassem estar limpos e, nesta condição, foram convidados 169 atletas para irem à Coreia – 168 disseram sim ao COI – com a designação de “Atletas Olímpicos da Rússia” e sem direito a bandeira na cerimónia de abertura e hino nas cerimónias de atribuição de medalhas. Ainda se falou de boicote dos atletas autorizados a competir, mas acabou por não acontecer.

No entender do COI, as denúncias e as provas eram o suficiente para a suspensão da Rússia como país e da suspensão vitalícia de vários atletas russos, que foram expurgados dos resultados de Sochi, incluindo alguns medalhados. Era assim que as coisas estavam até uma decisão do Tribunal Arbitral do Desporto ter “desautorizado” o COI em várias das suas decisões, entendendo que não havia factos suficientes para provar as violações de 28 atletas, referindo que o seu mandato, neste caso, não era de “determinar a existência de um sistema organizado para permitir a manipulação de amostras no laboratório de Sochi” em 2014, mas avaliar os casos individualmente.

Para esta decisão significar um lugar em Pyeongchang, os atletas em causa teriam de receber um convite do COI dada a suspensão da Rússia, e o organismo liderado por Thomas Bach não o fez.

Corria até esta madrugada um recurso de vários atletas russos, não apenas dos que foram banidos por doping, mas também de outros que não chegaram a ser convidados pelo COI e que argumentavam ter sido excluídos injustamente.

Neste segundo grupo estava Viktor Ahn, um múltiplo campeão olímpico (incluindo três medalhas de ouro em Sochi) e mundial da patinagem de velocidade. Ahn, um sul-coreano naturalizado russo que iria terminar a carreira no país onde nasceu, nunca foi envolvido directamente nos escândalos de doping de Sochi.

O Tribunal Arbitral do Desporto considerou que as decisões foram justas e não foram conduzidas de forma discriminatória ou arbitrária.

Um porta-voz do Comité Olímpico Internacional elogiou a decisão judicial, que considera trazer “clareza” para todos os atletas, cita o Guardian.

"É desolador ainda estar a falar disso na véspera dos Jogos Olímpicos de Inverno", apontou Hugh Robertson, da Associação Olímpica Britânica. "Mas a decisão é reconfortante. Queremos que os nossos atletas estejam a competir contra o melhor, mas sabendo que enfrentam atletas ‘limpos’".

Mesmo sem bandeira e sem hino, a Rússia é o quarto país com mais atletas (168) nestes Jogos que têm início nesta sexta-feira, apenas atrás de EUA (242), Canadá (226) e Suíça (169). com Liliana Borges

Sugerir correcção
Ler 1 comentários