Rajoy é a “cola” que mantém o PP unido, mas cada vez com menos eleitores

O presidente do Governo diz-se pronto para concorrer a um terceiro mandato, em 2020. Pode ser que uma crise obrigue os espanhóis a votar antes. Ou que dentro do partido se convençam que ele deixou de ser "a sua virtude" para passar a ser o seu "maior problema".

Rajoy chegou ao poder em 2011, com maioria absoluta
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Rajoy chegou ao poder em 2011, com maioria absoluta Juan Medina/Reuters
Com o ministros dos Negócios Estrangeiros, Alfonso Dastis, no Congresso
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Com o ministros dos Negócios Estrangeiros, Alfonso Dastis, no Congresso Juan Carlos Hidalgo/EPA

Faltavam poucos dias para as eleições regionais e autárquicas que iriam testar o anunciado fim do bipartidarismo espanhol, em Maio de 2015. Algo estava a mudar em Espanha e alguns membros da velha política tentavam adaptar-se, enquanto “outros, como os líderes do PP, nem percebem o que se passa e estão a cometer erros atrás de erros”, dizia então numa entrevista ao PÚBLICO José Pablo Ferrándiz.

O sociólogo é o principal investigador do instituto Metroscopia, que faz sondagens semanais no país e realiza os inquéritos publicados no El País. Como a sondagem divulgada pelo jornal a 12 de Janeiro, em que a direita liberal do Cidadãos (C’s), de Albert Rivera, surge pela primeira vez na liderança num cenário de legislativas, somando 27,1% de intenções de voto e deixando o Partido Popular com 23,2%, um pouco acima do PSOE.

Aconteceu muita coisa entre Maio de 2015 e Fevereiro de 2018. No dia seguinte às últimas municipais e autonómicas, Rajoy assumia que teria “gostado de outros resultados”, depois de perder 500 maiorias em câmaras municipais, incluindo bastiões, como Madrid ou Valência, e 10% do seu eleitorado (passou de 37% para 27%). Disse que o partido tem de ser “mais próximo e estar mais perto dos cidadãos” mas assegurou que não haveria mudanças “nem no Governo nem no partido”.

O PP tem perdido eleitores de forma mais ou menos constante desde então, mas Rajoy permanece no poder. Foram precisas duas eleições legislativas para formar Governo em minoria – depois de um pacto com o Cidadãos para ser investido e passar orçamentos –, mas o político que tem como grande virtude “a doutrina da resistência passiva”, nas palavras do colunista Rubén Amón (El País, 15 de Janeiro), lá continua e diz-se disponível para voltar a concorrer a um terceiro mandato, em 2020.

Rajoy finge-se de morto, ignora os inúmeros casos de corrupção (mediaticamente foram abafados pelo processo independentista catalão, mas os processo que envolvem o PP continuam), apresenta-se como o garante de estabilidade face ao desconhecido. Um dos seus problemas pode vir a ser esse: o PP desde nas sondagens e o mesmo se acontece ao Podemos. Com Iglesias a sonhar chegar ao poder, muitos votariam no que consideram o seu oposto – Rajoy.

Já depois do inquérito da Metroscopia, o primeiro barómetro do CIS (Centro de Investigações Sociológicas) pós-eleições catalãs, com a renovação da maioria independentista e o debacle da estratégia de Rajoy, dá o PP em primeiro, mas a descer, com 26,3%. O C’s aqui também sobe, mas não passa de 20,1%. As sondagens são apenas retratos que fixam um momento e este é bom para o C’s, que foi o mais votado na Catalunha (sem apoios para formar governo).

No que respeita à avaliação que os inquiridos fazem dos líderes, no barómetro do CIS Rivera surge como o melhor classificado (Rajoy é penúltimo, só à frente de Iglesias). Muitos analistas consideram que entre os vários erros de Rajoy o maior foi ter desvalorizado Rivera. Quem concorda e o deixou escrito, numa análise publicada pela fundação que dirige, a FAES, é José María Aznar, que critica a “falta de estratégia, discurso e política” do actual Governo.

À espera da Catalunha

Ninguém vai provocar uma crise política em Madrid enquanto a questão do governo da Catalunha não estiver resolvida, mas o pré-acordo para aprovar o Orçamento de 2018 parece ter deixado de valer, com o PP e o C’s a trocaram acusações de responsabilidade. Uma das exigências do C’s é a demissão da senadora Pilar Barreiro, investigada no âmbito da operação Púnica (rede que “movia vontades em vários municípios” para obter “chorudos benefícios legais”, que já levou à demissão de vários dirigentes do PP).

Por outro lado, é preciso trabalhar para as eleições que se seguem: europeias, autonómicas e municipais, em 2019. Só que aqui as expectativas começam a provocar efeitos, com dezenas de membros e cargos do PP a abandonarem o partido, anunciando a intenção de integrar o C’s. O PP desvaloriza, dizendo que é gente que iria ficar fora das listas.

Dentro do PP, membros da direcção ouvidos pela imprensa defendem que Rajoy é a “cola” que mantém o partido unido e que a pior altura para abrir crises é quando se está em baixo, pelo quer não antecipam desafios ao líder. Mas a sua situação parece cada vez mais frágil e pode ser que, como escreve Rubén Amón, Rajou tenha passado de ser “a virtude do PP” para ser o seu “grande problema”. 

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