D. Manuel Clemente e o sexo dos recasados

Ao que parece, D. Manuel Clemente não está em condições de abandonar o tremendismo com que a Igreja aborda o sexo. É pena. O Papa abre e há quem feche.

A Igreja nunca conviveu bem com o sexo, sempre o viu como algo de que se devia desconfiar. Afinal porque Adão e Eva procriaram e constituíram o início do que viria a ser a nossa Humanidade, segundo a doutrina cristã. A diabólica Eva atraiu Adão e levou-a à desobediência e, por tal pecado, pecou toda a Humanidade para toda a eternidade. Lançados do paraíso para o vale de lágrimas, todas e todos os que vieram passariam a ser filhos do pecado, porque resultantes da cópula sexual; isto é, os que vieram, chegaram já “amaldiçoados” pelo ato responsável pela existência dos seres humanos. Somos assim, crentes e não crentes, segundo a Igreja, todos filhos de um ato pecaminoso.

Vale a pena ir ao tempo em que Cristo andou por este Médio Oriente ocupado, na ocasião, pelo império romano, e constatar que os primeiros cristãos e os discípulos eram casados e como tiveram filhos, copularam. Só mais tarde é que a instituição inventou esta coisa dos padres não poderem casar e ter mulher, embora as tivessem, alguns às claras, outras às escondidas.

Agora, por obra do novo Papa, veio a Igreja abrir a porta fechada aos cidadãos que, casados catolicamente, se divorciassem e voltassem a casar ou a viver em união de facto, permitindo-lhes em certas circunstâncias, restritas, segundo D. Manuel Clemente, ter acesso aos sacramentos.

De que é que havia de se lembrar D. Manuel Clemente? De que se tal sucedesse, se voltassem a recasar ou a viver em união de facto, se abstivessem de ter relações sexuais. Um casal que se ama, que se casa ou se junta para viver uma vida nova, com felicidade, onde o sexo é uma componente, entre muitas outras, é, à partida, para D. Manuel, desaconselhável… Mas não será desaconselhável, nesses casos, colocar o acento tónico na falta de ajuda, na necessidade de colocar a relação familiar em primeiro lugar?

A ideia de vir prevenir que os casais recasados não devam ter relações sexuais é próprio de alguém que está longe da essência da vida. Não está em condições de compreender que uma relação harmoniosa num casal torna-o mais forte, mais solidário, mais fraterno e tal relação passa também por uma vida sexual mutuamente consentida e desejada.

O sexo é tão importante que sem ele não haveria a tal criação humana de Deus, na ótica dos crentes, pois é condição para a reprodução, em geral. Parece que o Deus da criação embirrou com os filhos da sua própria criação e que lhes deu sexo, não para o usarem, mas para os castigar e obrigá-los a pecar sempre que o usam para seu bem-estar, fruindo-o. Por que razão o ser humano veio constituído com sexo para esta conceção?

A História confirma que a Igreja viveu sempre sobressaltada por não saber encará-lo como uma realidade que pode ser altamente compensadora e fonte de equilíbrios. De tal forma que dentro da própria Igreja os que pregam a abstinência sucumbem, alguns do pior modo, criminalmente.

Ao que parece, D. Manuel Clemente não está em condições de abandonar o tremendismo com que a Igreja aborda o sexo. É pena. O Papa abre e há quem feche.  

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico  

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