Alimentos com asparagina podem ajudar a disseminar células cancerosas

Investigação conclui que a substância facilita o desenvolvimento de tumores secundários em doentes oncológicos.

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A asparagina encontra-se concentrada em alimentos como os espargos Nuno Ferreira Santos

Há um componente alimentar que pode estar a facilitar o desenvolvimento do cancro da mama. A conclusão é de um grupo de cientistas do Centro de Investigação de Cancro no Instituto de Cambridge, no Reino Unido. Os investigadores olharam para a evolução e disseminação de tumores malignos e concluíram que os doentes com uma dieta privada de asparagina têm menos tendência para ter metástases, reduzindo assim a hipótese de propagação do cancro pelo corpo. O estudo foi publicado esta quinta-feira na revista científica Nature.

A asparagina é um dos aminoácidos, os tijolos que constituem as proteínas. Como o nome denuncia, foi isolada pela primeira vez no espargo comum (asparagus officinalis), onde se econtra em grandes concentrações. No entanto, para além dos espargos, este aminoácido pode ser encontrado em quantidades significativas em aves, soja, produtos lácteos e marisco, uma vez que é um dos cerca de 20 aminoácidos. Os cientistas alertam agora para os riscos do seu consumo em doentes oncológicos e estão a aprofundar uma investigação sobre a influência deste aminoácido na disseminação do cancro e a sua contribuição para a mortalidade dos doentes.

“A maioria das mulheres com cancro da mama não morre devido ao seu tumor primário, mas sim devido às metástases que se formam, mesmo depois da lesão primária ter sido removida”, aponta a investigação. Ou seja, a morte acontece, em muitos casos, devido à propagação da doença para outros órgãos, como pulmões, cérebro e ossos.

Para que as metástases surjam, é necessário que as células cancerosas abandonem o tumor primário e sobrevivam à circulação sanguínea, colonizando outros órgãos. Foi ao bloquear a asparagina em ratinhos sujeitos aos testes que os investigadores observaram a drástica redução da capacidade e velocidade de disseminação das células cancerosas.

Gregory Hannon, o investigador que coordenou o estudo, sublinha que estas observações são “informações vitais para compreender como travar o alastramento de células cancerosas — a razão principal pela qual os doentes morrem”. Assim, no futuro, “restringir o consumo deste aminoácido através de uma dieta alimentar controlada pode ser parte do tratamento para alguns doentes com cancro da mama e outros cancros”, acrescenta o investigador, citado num comunicado sobre o trabalho.

Esta é, no entanto, uma investigação ainda em fase inicial, baseada apenas na observação efectuada em experiências em ratinhos. Importa sublinhar ainda que a investigação não encontrou qualquer ligação entre a eliminação do consumo de asparagina e a prevenção de cancros primários. Ou seja, o papel da asparagina aplica-se apenas aos cancros que se formaram a partir do primário.

O próximo passo será perceber como é que estas conclusões se aplicam aos doentes e quais é que podem beneficiar mais deste potencial tratamento, uma vez que ele não funciona de igual forma para todos os pacientes, conclui Gregory Hannon.

Já em 2017, uma investigação conduzida na Universidade de Glasgow (Escócia) mostrou que a eliminação de aminoácidos como a serina — que pode ser encontrada nos ovos e peixes—, e a glicina — usada como intensificador de sabor, medicamentos e maquilhagem — reduziu o desenvolvimento de linfomas e cancro intestinal.

Martin Ledwick, enfermeiro no Centro de Investigação de Cancro no Instituto de Cambridge, ressalva que não existem ainda provas científicas de que a restrição de determinados alimentos possa ajudar a combater o cancro mas que é importante que os doentes falem com os seus médicos antes de alterarem a sua dieta alimentar durante o tratamento.

Em Portugal, os números mais recentes revelam que em 2016 morreram de cancro 27.900 pessoas. Os dados do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas mostram que o número representa um aumento de 3% em relação a 2015. Anualmente são registados cerca de seis mil novos casos de cancro da mama, o que representa o diagnóstico a 11 novos casos por dia.

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