À Ordem dos Médicos têm chegado "queixas de Norte a Sul do país"

São relatos de problemas relacionados com a falta de profissionais, funcionamento das urgências e pressão sobre médicos internos. Bastonário diz que recebeu carta de clínicos do Hospital de São José e quer fazer uma visita à unidade.

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"Temos um acesso pior, com mais tempos de espera para consultas e cirurgias”, afirma Miguel Guimarães, bastonário dos Médicos Enric Vives-Rubio

Ao bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, têm chegado queixas “de hospitais de Norte a Sul do país relacionadas com a falta de recursos humanos e com as condições das urgências”. O responsável adianta que quer visitar o Hospital de São José o mais brevemente possível na sequência de uma das cartas que os médicos daquela unidade enviaram ao conselho de administração e à Ordem, queixando-se de falta de condições nas urgência e de pessoal.

“Temos de sensibilizar os dirigentes das unidades de saúde. Tenho recebido várias queixas de falta de condições de trabalho e de exploração de médicos internos. A urgência é o serviço com mais regras próprias, para a composição das equipas, para o número de horas semanais que devem ser feitas e, sobretudo, os médicos mais novos são imensamente pressionados a fazerem mais horas, turnos consecutivos e, em situações mais graves, a trabalharem sozinhos sem a presença de especialista. Isto não pode continuar”, afirma o bastonário, que conclui: “Quando analisamos, tem tudo a ver com a enorme falta de recursos humanos."

São os hospitais com mais internos, afirma Miguel Guimarães, que “têm  tendência" para deixá-los a trabalhar sozinhos, sem acompanhamento, "contrariando a legislação e o código deontológico”.

O responsável adianta que lhe têm chegado “situações reportadas em vários hospitais, de Norte a Sul do país, relacionadas com as condições das urgências e de falta de pessoal médico”. Situações que aumentam a insegurança no exercício da medicina e, consequentemente, a segurança dos cuidados prestados aos doentes.

“Todos os partidos já perceberam que é preciso fazer alguma coisa na saúde. Mesmo o livro escrito pelo António Arnaut e o João Semedo fala que faltam cinco mil médicos na saúde e que só há 18 mil médicos especialistas no SNS. Enquanto não começarmos a corrigir a falta de recursos humanos e de equipamentos, não vamos estar a prestar bons cuidados às pessoas. Temos um acesso pior, com mais tempos de espera para consultas e cirurgias”, afirma Miguel Guimarães, lembrando que ainda não foi aberto o concurso, para colocação no SNS, dos médicos especialistas que terminaram a formação no ano passado.

Foi a falta de condições no serviço de urgência e de profissionais para reforçar as equipas, além de situações de desigualdades em relação a outros médicos do hospital, que levaram a equipa fixa da urgência do Hospital de São José a escrever uma carta à administração, com conhecimento do bastonário e que Miguel Guimarães já analisou.

“Queremos visitar o Hospital de São José na sequência da carta que recebemos, confirmar a situação e falar com os médicos e o conselho de administração”, afirma o bastonário, que pretende fazê-lo o mais breve possível.

Frio pode voltar a criar pressão

No último mês e meio o frio e a gripe colocaram maior pressão sobre as urgências hospitalares, com mais procura e internamentos. Situações que levaram a inúmeras denúncias por parte das ordens dos Médicos e dos Enfermeiros. Ao PÚBLICO, o Ministério da Saúde diz estar “a acompanhar permanentemente a situação das urgências e o funcionamento dos hospitais” e que “prossegue a uma política de contratação de recursos humanos”.

Miguel Guimarães refere que a pressão aliviou com o decréscimo dos casos de gripe, mas com a descida de temperatura prevista para estes dias a situação “vai piorar”. “Já estamos a receber relatos de Faro e Gaia”, aponta.

Nesta sexta-feira, esteve reunido em Bragança com o secretário de Estado da Saúde Fernando Araújo, para discutir problemas do sector, nomeadamente no Interior de Portugal e visitar alguns equipamentos locais. Durante a visita ao hospital local, Fernando Araújo disse estar “extremamente bem impressionado” com o que viu, nomeadamente um hospital sem macas nos corredores.

"Este Inverno, ao contrário de outros no passado, em termos de resposta de tempos nas urgências (...), tivemos realmente respostas com muita qualidade e com tempos de resposta em termos de acessibilidade mais reduzidos do que em anos anteriores", declarou o secretário de Estado, que afiançou que os profissionais continuarão activos para eventuais novos picos na procura ainda durante este inverno. Com Lusa

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