Arquitectura do (Grande) Porto tem novo guia

Publicação faz o levantamento de perto de duas centenas de projectos construídos nos últimos 75 anos no Porto, Matosinhos, Maia, Gaia e Gondomar.

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Casa da Arquitectura Nelson Garrido

Começa com uma casa de Viana de Lima no Porto, que segue o ideário de Le Corbusier, e termina com a transformação da velha fábrica da Real Vinícola na nova Casa da Arquitectura, em Matosinhos, o arco temporal do novo guia dedicado à arquitectura construída nos últimos 75 anos nos cinco concelhos do Grande Porto.

Cinco anos após a edição do Guia de Arquitectura de Lisboa, 1948-2013, a A+A Books lançou agora o Guia de Arquitectura do Porto 1942-2017, uma edição que segue o modelo da anterior, “mas mais afinado e cuidado”, disse o arquitecto Michel Toussaint, esta quinta-feira, na Câmara Municipal do Porto, que acolheu a apresentação da nova publicação.

Toussaint assegurou, com João Paulo Rapagão, a coordenação científica do guia, que teve coordenação editorial de Maria Melo e design gráfico de Pedro Rufino. Com o formato A5, e edição bilingue português-inglês, o livro oferece-se como um guia muito prático, a lançar também o repto aos turistas interessados nas coisas da arquitectura para uma visita guiada aos edifícios – mas também aos espaços públicos, equipamentos urbanos, pontes, etc – projectados por mais de centena e meia de arquitectos. Entre eles estão naturalmente os nomes maiores da Escola do Porto: do já citado Viana de Lima a Álvaro Siza (o autor mais representado, com 17 projectos), de Arménio Losa a Pedro Ramalho, de Fernando Távora a Eduardo Souto de Moura, de José Carlos Loureiro a Nuno Brandão Costa.

“O Porto é um caso em que o reconhecimento da cidade se mistura com o dos seus arquitectos”, disse Michel Toussaint, que enfatizou a preocupação dos autores de não cingir o levantamento a uma visão “estrita da cidade”. E lembrou que a arquitectura contemporânea “é o património do futuro”, daí que seja preciso “olhar para ele de outro modo”. Recordou, a propósito, o que aconteceu a uma outra obra paradigmática de Viana de Lima, a Casa DRC, na Rua Honório de Lima, que, construída entre 1939 e 1943, se afirmava como o exemplo mais explícito na cidade do seguimento do modelo do Movimento Moderno, mas foi demolida nos anos 60. Hoje já temos a noção de que “vale a pena interrogarmo-nos duas vezes antes de deitar abaixo”, referiu o arquitecto.

João Paulo Rapagão apresentou também este guia como “uma pista para a protecção da cidade”; e lembrou que a sua concretização se deveu ainda muito ao vereador Paulo Cunha e Silva (1962-2015), que em 2014 o considerou um projecto para avançar. Rapagão explicou de seguida o ordenamento do guia por 13 zonas da região – “como uma série com muitas temporadas”, comparou –, com natural ênfase num “Porto seduzido pelo mar e pelo lado poente”. Mas, no final da listagem da obra realizada, e além da empreitada estruturante do Metro, o guia elenca também outros projectos já em curso ou ainda no papel, como a requalificação do Mercado do Bolhão e da Estrada da Circunvalação, o Matadouro e a Estação Intermodal de Campanhã, que, a serem realizados, permitirão reequilibrar uma cidade que parece ainda “envergonhar-se do seu lado nascente”, disse o arquitecto.

Este Guia de Arquitectura do Porto 1942-2017 vem, de algum modo, actualizar duas outras publicações lançadas no início do milénio sobre o mesmo tema: o Guia da Arquitectura Moderna – Porto (1925-2002), de autoria de Fátima Fernandes e Michele Cannatà (Edições Asa, 2002); e Porto 1901-2001 – Guia de Arquitectura Moderna, uma obra realizada no âmbito da Capital Europeia da Cultura e comissariada por Jorge Figueira, Paulo Providência e Nuno Grande (edição Civilização e Secção Regional do Norte da Ordem dos Arquitectos, 2001).

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