Arguido da Operação Fizz: “Rosário Teixeira disse-me que processo era uma trapalhada”

Banqueiro Carlos Silva desmente depoimentos de suspeitos que o implicam. Vai ser chamado a esclarecer tudo em tribunal na qualidade de testemunha.

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Paulo Blanco, advogado e arguido da Operação Fizz LUSA/MÁRIO CRUZ

A conversa terá tido lugar, ao que conta o arguido da Operação Fizz Paulo Blanco, durante as buscas feitas ao seu escritório de advogados. A 23 de Fevereiro de 2016 a Polícia Judiciária foi ao número 84 da Avenida da República, em Lisboa, à procura de documentos que comprovassem que tinha sido ele a intermediar um negócio de luvas pagas pelo ex-vice-presidente de Angola Manuel Vicente ao procurador Orlando Figueira, para que este arquivasse duas investigações em que o primeiro era suspeito. Foi nesse dia que se tornou pública a existência do processo judicial.

Rosário Teixeira, do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), era um dos magistrados que dirigia as buscas, apesar de não ser titular do processo. Conhecia o advogado por este ser visita habitual dos corredores do DCIAP, na qualidade de representante legal do Estado angolano em casos em que este surgia como queixoso, e que eram investigados naquele departamento.

Paulo Blanco relatou esta segunda-feira em tribunal ter ouvido o magistrado dizer ao telefone para uma colega que “afinal” havia documentos no escritório de advocacia, numa referência aos comprovativos de rendimentos apresentados por Manuel Vicente para justificar a compra de um apartamento de luxo no Estoril, transacção investigada por Orlando Figueira que redundou no tal arquivamento. É que depois de analisar os comprovativos este procurador do DCIAP tinha-os devolvido ao advogado, em vez de os manter no processo judicial em que se investigava a proveniência das verbas com que fora adquirido o imóvel, procedimento que havia de levantar suspeitas.

“Rosário Teixeira disse-me durante as buscas que aquilo começava muito coxo. E comentou: ‘Este processo não é meu, é da [colega] Inês Bonina. É uma grande trapalhada!”. Uma trapalhada agravada pelo facto de o ex-vice-presidente de Angola não estar a ser julgado, apesar de todas as suspeitas que impendem sobre ele, pelo facto de as autoridades angolanas invocarem a sua imunidade para se recusarem a notificá-lo para comparecer em tribunal.

Para aumentar a confusão, Orlando Figueira assegura que nunca conheceu Manuel Vicente, defendendo que quem devia estar no banco dos réus era o banqueiro Carlos Silva, por o ter contratado para ir trabalhar para Angola sem nunca ter honrado o compromisso.

Tribunal vai notificar banqueiro

Os juízes vão notificar o banqueiro angolano para se apresentar em tribunal para prestar esclarecimentos, na qualidade de testemunha, uma vez que também tem morada em território nacional. Enquanto isso não acontece, Carlos Silva já reagiu às declarações de Orlando Figueira que o implicam. Defende-se das suas acusações “oportunistas” que pretendem “adulterar a realidade” e assentam “em insinuações falsas”.

Garantindo que nunca ofereceu sequer emprego ao procurador, que conta ter-se desvinculado do DCIAP em 2012 para ir trabalhar para o banqueiro, Carlos Silva desmente de forma peremptória um encontro que o arguido assegura ter tido lugar no hotel Trópico, em Luanda, ainda em 2011, em que o angolano estaria de calções. “O grau de fantasia dessa estória vai ao ponto de inventar um suposto encontro num hotel, no qual me descreve como envergando uma indumentária que, quem me conhece, sabe que jamais utilizaria num local deste tipo”, reagiu Carlos Silva sobre um episódio que Paulo Blanco também assegura não ser de todo ficcional. 

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