Três anos depois, polícia investiga partilha de vídeos de sexo. As vítimas “não estão contentes”

Dois jovens filmados contra sua vontade estão desconfortáveis com a atenção suscitada pela investigação. Mas a polícia dinamarquesa acredita que este caso servirá para alertar as gerações mais novas que partilhar vídeos de teor sexual sem consentimento é um crime.

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As imagens foram partilhadas no Messenger, ferramenta de conversa do Facebook NELSON GARRIDO

Dois adolescentes que foram filmados a ter relações sexuais numa festa 2015, quando tinham 15 anos, não estão satisfeitos com a atenção mediática e com o ressurgimento do interesse nos vídeos provocado pelo facto de a polícia dinamarquesa ter anunciado que estava a investigar 1004 jovens — grande parte deles menores de idade — por terem partilhado aquelas imagens.

Os mais de mil jovens notificados durante este mês poderão ser acusados de distribuição de pornografia infantil, já que partilharam imagens e vídeos de conteúdo sexual explícito entre dois menores.

“Podemos perguntar ‘não estarão eles contentes que a polícia esteja finalmente a fazer alguma coisa’?”, indagou Helle Hald, da firma de advogados dinamarquesa Sirius. “Bem, não, não estão contentes. Claro que isto afecta as vítimas porque as pessoas estão novamente a falar do vídeo. Não creio que qualquer um de nós consiga imaginar o quão terrível isso é”, afirmou, citada pelo Guardian.

Já o superintendente Flemming Kjærside, responsável da polícia dinamarquesa pela unidade relacionada com crimes sexuais no meio digital, defende a actuação das autoridades e sublinha que o mais importante neste caso é fazer justiça pelas vítimas. “Elas sofrerão com isto para o resto das suas vidas”. Kjærside disse ainda que esta tinha sido a primeira vez na Europa que a polícia tinha feito um esforço para travar este tipo de partilhas de conteúdos sexuais, muitas vezes sem permissão dos envolvidos — passando assim a mensagem às gerações mais novas de que partilhar vídeos sexuais sem consentimento é um crime.

O caso tem dividido a Dinamarca: uns defendem os jovens filmados, outros acreditam que poderá afectar negativamente os outros adolescentes que estão agora a ser investigados. Não é provável que esses jovens, se vierem a ser considerados culpados de distribuição de pornografia infantil, venham a ser presos, mas ficarão com esse registo no cadastro durante pelo menos dez anos, o que pode impedir que trabalhem como professores, treinadores de futebol, agentes da polícia ou outros trabalhos que envolvam contacto com menores — e também dificulta a possibilidade de viver no estrangeiro.

“Isto vai arruinar a minha vida”, declarou uma das utilizadoras notificadas, Mira Bech, de 19 anos, ao canal de televisão TV2. A jovem garante que não partilhou o vídeo depois de o ter visto e sabe que várias amigas que também tiveram acesso ao vídeo não receberam uma notificação da polícia. “Na notificação, a polícia nem me disse quais eram as acusações. Quando cheguei à esquadra e me disseram que era o vídeo de sexo, fiquei chocada. Nem me lembrava dele.”

Na altura em que a rapariga que surge no vídeo foi à polícia, em 2015, os dois rapazes que a filmaram e partilharam as imagens nas redes sociais foram processados e obrigados a pagar uma multa de cerca de 260 euros.

No caso de Portugal, foi aprovada nesta sexta-feira o agravamento das penas de prisão para quem divulgar na Internet vídeos ou imagens da intimidade de outras pessoas sem a sua autorização, aquilo a que é vulgarmente chamado de pornografia de vingança. Antes, já estavam previstas na lei penas pela devassa da vida privada ou pela divulgação de imagens ou gravações sem autorização, mas agora passa a estar incluída a referência à Internet.

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