Orlando Figueira: “Este processo toca directamente no coração de Cândida Almeida”

Foi a actual procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, quem retirou Cândida Almeida da direcção do DCIAP.

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LUSA/MÁRIO CRUZ

O ex-procurador Orlando Figueira, que responde em tribunal por corrupção, disse esta quinta-feira à tarde no Campus da Justiça, em Lisboa, que o processo conhecido por Operação Fizz “toca directamente no coração de Cândida Almeida”, a magistrada que durante vários anos dirigiu o Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP).

Suspeito de ter recebido luvas do ex-vice-presidente de Angola Manuel Vicente, o arguido relacionou a substituição de Cândida Almeida à frente do departamento que investiga a grande criminalidade económico-financeira, em 2013, com a sua implicação neste processo.

Foi a actual procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, quem retirou Cândida Almeida da direcção do DCIAP. Um processo que o suspeito compara a uma sangria, pela quantidade de magistrados escolhidos pela procuradora para ali trabalharem com ela que saíram também do departamento na mesma altura. Seguiu-se, contou em tribunal, uma “noite de facas longas”, cheia de “ajustes de contas”.

A trabalhar no DCIAP desde 2008, também a convite de Cândida Almeida, Orlando Figueira havia de sair da magistratura antes disto tudo, em Setembro de 2012, para ir trabalhar para o BCP, banco com capitais angolanos. O facto de a maioria das investigações que tinha no DCIAP versarem precisamente interesses relacionados com Angola fez levantar suspeitas.

"Já não pertenço ao Ministério Público"

Em 2014, ano e meio depois da sua saída do DCIAP, chega às autoridades uma denúncia anónima: “Esse senhor procurador tinha processos de grandes figurões angolanos e recebeu dinheiro para fazer favores”. Teve início a Operação Fizz, cuja acusação defende que Manuel Vicente pagou a Orlando Figueira 760 mil euros para que este arquivasse duas investigações de que era alvo no DCIAP, uma das quais relacionada com a origem dos 3,8 milhões de euros com que comprou um apartamento de luxo no Estoril.

“Cândida Almeida esteve até à última para ser procuradora-geral da República. Mas foi ultrapassada pela direita por Joana Marques Vidal”, referiu o ex-procurador, numa referência ao facto de a segunda magistrada ter sido indicada por um Governo PSD/CDS. “Este processo toca directamente no coração de Cândida Almeida. E tocarem-me a mim é o mesmo que tocarem nela”.

Em breve a magistrada, que agora está no Supremo Tribunal de Justiça, passará pela sala de audiências onde Orlando Figueira está a ser julgado para prestar depoimento na qualidade de testemunha, uma vez que acompanhou o processo de saída do procurador do DCIAP. O arguido não tem, porém, grandes esperanças de que o seu depoimento sirva para o ilibar: “Ela veste a camisola do Ministério Público a 100%. Sempre pôs a mão por debaixo dos magistrados e deu o corpo às balas, mesmo em casos muito discutíveis. Mas como eu já não pertenço ao Ministério Público…”

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