Grillo abandona o Movimento 5 Estrelas a semanas das eleições

Distanciamento é normal, diz o novo homem forte da formação, candidato à chefia do Governo.

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Grillo em palco num comício do Movimento antes das eleições de 2013 Max Rossi/Reuters
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Grillo a dirigir-se ao Parlamento com um saco de cascas de mexilhões podres, ainda o M5E não se tinha apresentado a legislativas Alessia Pierdomenic/Reuters

Era um adeus anunciado, que o próprio já dissera desejar. Quase dez anos depois de abanar a política italiana com o Movimento 5 Estrelas, a formação anti-partidos e anti-sistema que hoje governa cidades como Turim e Roma e tem hipóteses reais de chegar ao poder, o humorista Beppe Grillo, que em 2015 regressou às digressões, deixa a liderança.

 

A separação, diz o candidato do M5E às legislativas, Luigi Di Maio, não significa que a formação tencione “renegar o passado” nem é sinónomo de “parricídio”.

Quando Di Maio foi escolhido, em Setembro, e passou ser apresentado como líder político do movimento, a questão do papel futuro de Grillo colocou-se de forma mais imediata. “Não deixarei de existir, sou o pai e o fundador”, comentou então o próprio.

O anúncio não veio pela voz de Grillo mas (bem ao seu estilo) mostrou-se através de uma mudança de site. O homem que se tornou conhecido por ter um blogue muito popular e gozar em palco com os governos de Silvio Berlusconi e os problemas da política italiana, mudou de site. O espaço que criou com o falecido especialista em propaganda na Internet Gianroberto Casaleggio (considerado, em grande parte, inventor do movimento) e se tornara uma plataforma para o M5E reaparece agora como site do próprio Grillo, com vídeos seus em que não refere a formação política e datas de digressões.

A defesa da democracia directa e a crítica aos media tradicionais, fez com que a Web se tornasse numa ferramenta essencial para o nascimento e a expansão do M5E, que começou por ter chats que punham em diálogo habitantes dos mesmos bairros e cidades e acabou a escolher candidatos em votações online. Também tem a sua própria televisão online.

A eleição de Di Maio, uma espécie de anti-Grillo com 31 anos, gravata e estilo clássico, já marcara na verdade a separação. O que não quer dizer que Grillo, de 69 anos, não tenha planos futuros por anunciar, ele que sempre gostou de provocar e surpreender.

“O partido agora está avançar com os seus próprios pés e a tornar-se mais forte”, disse também Di Maio, citado na imprensa italiana a propósito do novo site de Grillo.

A verdade é que o M5E mudou muito desde a fundação, quando surgiu com o ambiente e a transparência como grandes linhas programáticas, e Di Maio até se diz disposto a “criar convergências” em redor de certos pontos programáticos depois das eleições de 4 de Março, quando Grillo sempre se opôs a qualquer contacto com a classe política – o movimento exclui-se deste grupo.

Alguns eleitores já tinham questionado a opção de recusar debater com outros partidos já em 2013, quando o M5E foi o segundo mais votado (o primeiro, se tivermos em conta que os restantes concorreram como coligações). Para já, antecipa-se mais facilmente uma frente de direita, que junte o partido de Silvio Berlusconi aos nacionalistas da Liga Norte, mas esta formação xenófoba e anti-imigrantes não põe de lado uma aproximação ao M5E.

Outra grande mudança prende-se com o referendo sobre a saída do euro, que Di Maio deixou de considerar oportuno. A imprensa italiana, que nunca foi muito simpática com o comediante, despede-se dele com tranquilidade. O diário Il Giornale escreve que Grillo parte porque “o feiticeiro se assustou com o monstro que criou”. Já o La Repubblica nota que, ao ver o seu movimento caminhar no sentido da “normalização”, o “patriarca escolhe voltar à utopia”.

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