Oposição dividida tem de enfrentar Maduro até 30 de Abril

Adiantamento das eleições é visto como "mais uma das farsas" do Presidente venezuelano e os opositores ainda não escolheram um candidato.

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Maduro no comício que coincidiu com o anúncio da Assembleia Constituinte Marco Bello/Reuters
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Um manifestante esconde-se durante um protesto em Caracas em Junho EPA/MIguel Gutierrez

Já se tinha especulado sobre a antecipação das eleições presidenciais na Venezuela, país onde uma vaga de manifestações anti-governo fez pelo menos 125 mortos entre a população desde Julho. Agora é oficial: o decreto foi anunciado pela Assembleia Constituinte, toda formada por aliados do Presidente, e dita que os venezuelanos terão de votar até 30 de Abril, o que beneficia e muito Nicolás Maduro.

Cabe agora ao Conselho Nacional Eleitoral escolher a data específica. A recandidatura de Maduro é uma formalidade: ele diz que está disponível se o Partido Socialista o quiser e os líderes destes afirmam que não vão considerar mais ninguém. Certo é que depois de sobreviver aos protestos – tendo mesmo consolidado o controlo das instituições – as sanções externas (como as dos EUA, que proíbem investidores de negociarem dívida venezuelana) e a pressão internacional deram-lhe mais argumentos para defender uma ida às urnas e vencer.

“Face a mais sanções, dizemos mais eleições. Na Venezuela é o povo que decide, não os impérios”, afirmou Maduro num comício na terça-feira à noite. “Estou pronto. Vamos vencer em grande”, diz, numa linguagem a lembrar a habitualmente usada pelo Presidente americano, que não foi esquecido neste discurso. “Donald Trump não é o patrão da Venezuela”, disse o sucessor de Hugo Chávez, numa referência aos comentários de Trump sobre uma possível intervenção militar no país.

Retóricas à parte, há pouco tempo para uma oposição desunida (e com alguns dos seus principais líderes presos ou no exílio) preparar um verdadeiro desafio a Maduro. Para ajudar, a Assembleia Constituinte anunciou ainda que as três principais formações que integram a coligação MUD (Mesa da Unidade Democrática) terão de se reinscrever junto do Conselho Nacional Eleitoral por terem boicotado as municipais de Dezembro.

Ora é este Conselho Eleitoral que deve fixar a data e o mesmo que a oposição acusa de servir os interesses do Governo. “A ditadura não quer eleições livres. Ninguém na Venezuela ou fora do país deve apoiar outra das farsas de Maduro”, afirmou, citado pela Reuters, o opositor Antonio Ledezma, que fugiu da prisão domiciliária e está em Espanha (e venceu o Prémio Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento atribuído pelo Parlamento Europeu). Se figuras como Ledezma apelarem ao boicote, será ainda mais complicado para a MUD encontrar um candidato credível e organizar uma campanha.

A ideia da MUD, que em Dezembro se comprometeu a ter um candidato único, é realizar “eleições primárias em quatro a cinco semanas”, diz um dos seus dirigentes, Henry Ramos Allup. Ramos é um dos que ambiciona ser candidato; outro já anunciado é Henri Falcon. Nenhum agrada a demasiados membros do movimento: o primeiro é visto por muitos como sendo da velha escola, enquanto Falcon levanta suspeitas por ter pertencido ao “chavismo”.

Com o país numa situação de penúria generalizada, onde falta tudo desde comida a medicamentos, o Grupo de Lima (que reúne 12 países latino-americanos) já condenou a antecipação das eleições, com o ministro dos Negócios Estrangeiros chileno, Heraldo Muñoz, a considerar que a decisão “impede o desenrolar de eleições presidenciais democráticas, transparentes e credíveis”.

Era este grupo que mediava conversações entre Maduro e a oposição; a próxima ronda estava marcada para 28 e 29 de Janeiro. A ideia parece ter ficado pelo caminho, já que dois dos pontos em debate passavam por decidir a data e as modalidades das próximas presidenciais.

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