OGMA precisa de mais técnicos formados em Portugal para crescer

Empresa propõe programa nacional de formação de técnicos de aeronáutica.

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Enric Vives-Rubio

A OGMA está e crescer em volume de negócios e de postos de trabalho, mas a falta de mais mão-de-obra especializada é, segundo o seu presidente, o principal travão dos planos de crescimento da empresa.

Com cerca de 1750 funcionários e perto de 200 milhões de euros de vendas anuais, a indústria aeronáutica de Alverca celebra em 2018 o seu primeiro centenário. Marco Túlio Pellegrini, presidente do conselho de administração, garante que a OGMA é, hoje, uma empresa “sólida” e com um “grande potencial” de crescimento, mas assume, em declarações ao PÚBLICO, que tem procurado sensibilizar as autoridades portuguesas para a criação de um programa de formação de técnicos de aeronáutica que dê garantias de resposta às necessidades do sector.

É que, segundo Marco Túlio Pellegrini, a OGMA já foi obrigada a recusar algumas oportunidades de negócio porque não tinha garantias suficientes de que conseguiria ter disponível a mão-de-obra necessária. E os planos da empresa para os próximos anos vão depender em grande medida da existência desse plano de formação de técnicos de manutenção, de motores, de componentes e de fabrico de aeroestruturas.

“Nós crescemos bastante na aviação comercial e executiva (manutenção de aeronaves) ao longo de 2017. E certamente na área da defesa também há oportunidades. Mas precisamos de ter quantidade e possibilidades de aumento da força de trabalho, de técnicos especializados, porque sem o crescimento desse recurso nobre não temos possibilidade de [fazer] crescer o negócio”, admite Marco Túlio Pellegrini, engenheiro mecânico de origem brasileira que está à frente da OGMA desde Abril de 2017, depois de ter liderado o departamento de aviação executiva da Embraer – grupo brasileiro que detém 65% do capital da OGMA, pertencendo os restantes 35% ao Estado português.

A indústria aeronáutica sedeada em Alverca criou mais cerca de 300 postos de trabalho nos últimos anos, sobretudo na área de fabrico, que representa actualmente 30% do seu volume de vendas. A manutenção continua a ser o segmento mais relevante e ocupa cerca de 1200 funcionários. Por isso, a substituição dos que atingem a idade de reforma e as necessidades associadas ao eventual crescimento exigem um volume de entrada superior a uma centena de técnicos especializados por ano. Como a formação base de um técnico de aeronáutica demora pelo menos cinco anos, Marco Túlio Pellegrini sustenta que é preciso começar já a trabalhar num plano alargado de formação se Portugal quiser apostar no crescimento significativo do seu sector de manutenção e construção aeronáutica.

“É essencial que exista aqui em Portugal um programa de formação de técnicos de aeronáutica, que permita um crescimento sustentado do sector ao longo de muitos anos. Essa é a principal chave: como assegurar que geramos uma formação de técnicos de manutenção, de motores, de aeroestruturas em quantidade suficiente”, defende o administrador da OGMA, explicando que tem colocado a questão a representantes dos governos local e central e às autoridades de formação profissional. “Tem que ser um trabalho conjunto, não conseguimos simplesmente crescer o volume de técnicos de aeronáutica se não for um trabalho conjunto das autoridades de formação e das empresas privadas”, constata Marco Túlio Pellegrini, explicando que a OGMA tem algumas parcerias com a Secundária Gago Coutinho de Alverca e com o Instituto do Emprego e da Formação Profissional, mas que não são suficientes para responder às perspectivas de crescimento que a empresa portuguesa pode ter num mercado internacional em grande desenvolvimento.

“Interessa-nos claramente fazer parte desse sistema. Seria possível explorar um processo onde o job trainning [formação] em contexto de trabalho) fosse realizado nas instalações da OGMA, sob supervisão”, sugere o presidente da indústria aeronáutica, afirmando a disponibilidade da empresa para ceder instalações e dar apoio aos programas de formação. “Temos infra-estruturas, temos possibilidades de crescer, mas o grande limitador hoje é a mão-de-obra especializada. Em determinados processos tecnológicos e em determinadas situações, a OGMA acabou recusando trabalho por falta de recursos humanos. São investimentos feitos numa visão de médio e longo prazo e você não pode assumir compromissos com um cliente sem ter recursos e uma actividade de manutenção aeronáutica é uma actividade de mão-de-obra intensiva. Não fazemos manutenção com computadores ou com um robot, são pessoas que fazem. É fundamental ter o número suficiente de pessoas com formação”, conclui Marco Pellegrini.

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