Sugestões profissionais para guardar melhor as suas fotografias

Ferramentas e métodos para não perder as suas recordações.

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Há casos de arquivos digitais que se perdem em segundos bruno lisita

Há a ideia de que o digital é eterno, mas não é bem assim. “Acordei de manhã e tinha, essencialmente, perdido todas as fotografias que tinha tirado ao longo dos anos”, recorda o fotógrafo profissional Tod Seelie ao PÚBLICO.

O disco rígido, onde guardava tudo em suporte electrónico, tinha-se estragado durante a noite depois de uma viagem a fotografar artistas pelo rio Mississípi, nos EUA. O pior, eram as imagens que lá tinha. Mais do que memórias, eram o registo de anos de trabalho em mais de 25 países.

“Não ter um backup dos ficheiros é estar a pedir sarilhos. Não é uma questão de ‘se’ um disco rígido ou uma câmara se vai estragar, é uma questão de ‘quando’”, diz o norte-americano, que mudou completamente os hábitos de armazenamento de ficheiros digitais. A história não é exclusiva de fotógrafos profissionais. Só no último mês, encontram-se inúmeras variações de “Ajudem-me, o meu computador estragou-se e tinha lá as fotografias todas", ou "A minha câmara caiu à água com as imagens das férias". Os apelos surgem nas comunidades online da Apple, do site de fotografia Flickr, e no fórum Reddit. Uma utilizadora, por exemplo, perdeu as fotografias todas do falecido marido. 

O PÚBLICO reuniu algumas recomendações para prevenir estes casos. 

Um disco nunca vem só

Para evitar o dilema de Seelie no Mississípi, o fotógrafo do PÚBLICO, Nuno Ferreira Santos recomenda começar sempre o novo ano com dois novos discos externos. "Quando se perde ou se estraga um, há sempre o outro."

Seelie também já não põe tudo num só disco, mas opta por um “esquema em tríade”. Além dos dois discos externos que tem em casa, guarda um terceiro fora de casa, no carro.Têm todos quatro terabytes (aproximadamente 4000 gigabytes) e permitem armazenar milhões de fotografias dependendo da resolução. Custam perto de 130 euros cada, mas o  fotógrafo norte-americano alerta que "se não têm toneladas de terabytes de fotografias, como um profissional, é relativamente barato ter pelo menos um disco externo e uma cópia”. Algumas versões mais pequenas, com um terabyte, rondam os 50 euros.

Seelie sugere criar uma “uma versão caseira” de um RAID1, sigla inglesa para Conjunto Redundante de Discos Económicos. No fundo, são discos rígidos conectados que partilham, automaticamente, toda a informação. A vantagem é que a informação é toda duplicada, a desvantagem é que dois discos de um terabyte só guardam um terabyte e para os conectar (nas definições do sistema) é preciso formatá-los.

Já Nuno Ferreira Santos copia manualmente a informação de um disco para outro: “Há formas mais sofisticadas de o fazer, mas não demora tempo nenhum. É o tempo de ir descalçar os sapatos depois de chegar a casa”

Saber encontrar

Ter tudo guardado em imensos discos rígidos é inútil se não for fácil encontrar as fotografias que se quer. “Quando há um grande armazém digital, é essencial fazer um bom arquivo. Antes mesmo de guardar as fotografias, convém catalogá-las bem com legendas”, diz Nuno Ferreira Santos. 

O Lightroom CC, da Adobe, é um programa de catalogação que inclui uma ferramenta com inteligência artificial para dar palavras-chave às imagens automaticamente. Isto facilita a localização das fotos: aparecem em miniatura com metadados sobre a fotografia – como a data, dimensão, e a câmara em que foram tiradas – e o local onde estão armazenadas.

Os preços dos pacotes do Lightroom CC variam entre os 13 euros e os 26 euros por mês. Há, porém, versões gratuitas para quem não precisa de software muito sofisticado. Nuno Ferreira Santos sugere o Flickr, que também permite arquivar as fotografias gratuitamente até um terabyte.

Usar a nuvem 

Para Seelie, manter uma cópia fora de casa é essencial. “Perguntem-se: se perderem todos os discos rígidos em casa, depois de um fogo ou um roubo, ainda têm cópias da informação?”

As redes sociais não são solução. As fotografias que se publicam na Internet – por exemplo, no Facebook e no Instagram – raramente têm a mesma resolução que as originais. Os sites comprimem-nas automaticamente para poupar espaço. 

O Flickr é um exemplo de site que oferece armazenamento em nuvem (cloud, em inglês). No fundo, são sistemas em que os ficheiros pessoais dos indivíduos não estão guardados nos seus computadores, mas em máquinas de grandes empresas acessíveis da Internet. O Google, a Apple, a Microsoft, e a Amazon também oferecem as suas próprias versões.

Cada sistema tem vantagens e desvantagens. O Google Photos, por exemplo, é grátis e usa inteligência artificial e reconhecimento facial para catalogar fotografias. O sistema consegue reconhecer caras de pessoas nas imagens que o utilizador põe na nuvem e juntá-las em álbuns que mostra aos utilizadores em datas específicas (por exemplo, no aniversário de um amigo que aparece em muitas fotografias). Por outro lado, o Google diminui por defeito a resolução de fotografias com mais de 16 megapixéis. 

Depois, muitos destes sistemas cobram para continuar a armazenar fotografias depois de se atingir um limite de espaço. No iCloud, da Apple, começa-se a pagar a partir de cinco gigabytes.

O digital não é para sempre

O espaço e a qualidade, porém, não são os únicos problemas. Há casos de arquivos digitais que se perdem porque os sites ou serviços onde estavam deixam de existir. A galeria online da Kodak, por exemplo, encerrou em 2012 quando a empresa declarou falência.

O melhor é mesmo utilizar vários métodos em simultâneo. "No digital é muito mais fácil duplicar o trabalho", diz Tod Seelie. “Quando tirava fotografias com rolo a única forma realística de guardar o trabalho era imprimir as importantes. Era caro e demorava tempo. O maior desafio agora é gerir a quantidade enorme de fotografias que temos – e preparar-nos para o facto de que há casos em os discos se estragam e os dados se perdem.”

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