As nuvens que pairam sobre o universo Montepio

No último ano, acumularam-se os episódios que continuam a pairar sobre os responsáveis do Montepio, com Tomás Correia e Félix Morgado no centro das atenções dos reguladores.

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LUSA/ANTÓNIO COTRIM

Um “insuficiência” de 107 milhões

O grupo Montepio Geral Associação Mutualista (AMMG) fechou as contas consolidadas do exercício de 2015 com capitais próprios negativos de 107 milhões de euros, para além de um resultado negativo imputado aos mutualistas de 251,4 milhões de euros. Números que levaram a KPMG a fazer um forte alerta aos mutualistas, na certificação das contas consolidadas de 2015, de que a associação Montepio Geral enfrentava um quadro crítico, de falência técnica, com necessidades de uma injecção de fundos. Um aviso noticiado pelo PÚBLICO em Março de 2017 e que despoletou o actual movimento de aproximação da Santa Casa.

Dúvidas sobre contas da associação mutualista

A KPMG deixou um novo alerta às contas de 2016 da Associação devido ao valor pelo qual esta contabilizava a posição que tem na Caixa Económica Montepio Geral (CEMG), em torno dos 2,016 mil milhões de euros. Tal como já havia feito em 2015, a KPMG volta a chamar à atenção para os investimentos financeiros da AMMG, “nomeadamente, sobre o registo de imparidades”. Segundo o auditor externo, “os testes efectuados” pela AMMG “relativamente à determinação do valor recuperável das suas participações financeiras tiveram por base pressupostos cuja influência da actual conjuntura económico-financeira e condições gerais do mercado são determinantes”.

Gestão de Félix Morgado sob pressão

O Banco de Portugal tem dúvidas sobre a gestão liderada por Félix Morgado nomeadamente devido ao polémico negócio das Vogais Dinâmicas, que se admite ter tido como objectivo limpar artificialmente as contas da CEMG de 2016 e assim possibilitar à gestão melhorar os resultados da actividade. Mas há mais. Em cima da mesa do departamento de supervisão da entidade liderada por Carlos Costa estão ainda suspeitas de irregularidades nos processos de recuperação de crédito, bem como falhas de controlo interno. Há ainda conclusões retiradas dos testes realizados à CEMG e que apontam para possíveis conflitos de interesse, uma inadequação no reporte ao supervisor, nomeadamente no domínio do risco e da contabilidade. Por tudo isto, Félix Morgado está de saída e toda a equipa está debaixo de fogo do supervisor.

Críticas ao aumento de capital

A 27 de Junho do ano passado, três dias antes de a AMMG comunicar que tinha aumentado em 250 milhões de euros o capital do seu banco, o Conselho Geral da mutualista foi surpreendido por um pedido de José Félix Morgado: a CEMG necessitava de uma injecção de fundos imediata naquele valor. Isto, para cumprir os requisitos de capital fixados pelo BdP a 16 de Dezembro de 2016. Um episódio que gerou críticas internas por prestação insuficiente de informação.

Contestação interna à OPA

A Oferta Pública de Aquisição (OPA) lançada pela Associação Mutualista sobre 26,5% do fundo de participação da Caixa Económica foi contestada por dois conselheiros que solicitaram que o tema fosse mais debatido em sede de Conselho Geral (CG) da mutualista. Em causa estava o facto de este órgão, que teve de aprovar a operação, ter tido conhecimento da OPA quando esta foi tornada pública, uma prática recorrente no grupo. A operação fez-se, mas com críticas.

Nova marca sem desfecho à vista

O Banco de Portugal exigiu a separação das marcas, de tal forma que foi noticiada a intenção de se criar uma nova marca, um tema que colocou em choque Tomás Correia e Félix Morgado. A nova marca ainda não apareceu e a separação de marcas continua por aparecer, com uma permanente confusão no momento de venda de produtos financeiros aos balcões do banco.

Lusitânia retira milhões do grupo

Tomás Correia anunciou um acordo com o grupo chinês CEFC Energy Company Limited com parcerias em várias áreas. E entre elas está a entrada no capital da Lusitânia, a seguradora do grupo, que resgatou 80 milhões de euros da Montepio Gestão de Activos nos últimos anos, para os colocar numa gestora externa, a Mercer. Uma decisão que enfraqueceu o grupo e que causou mal-estar interno.

Nova lei para o Montepio

A revisão do Código das Associações Mutualistas, a legislação que define as regras que se aplicam, entre outras, à Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) continua congelada. Vieira da Silva voltou ao tema ontem, no Parlamento, prometendo um desfecho para as próximas semanas. Os reguladores continuam a pedir este enquadramento legal, que consideram urgente para garantir a adequada supervisão da entidade com 650 mil associados.

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