Especialista desmente efeitos cancerígenos de novo material usado nas escolas

Poliuretano não é considerado cancerígeno pela Organização Mundial de Saúde, apesar dos alertas que são feitos pela Quercus, afirma responsável pelo Programa Nacional para as Doenças Oncológicas da Direcção-Geral da Saúde.

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Daniel Rocha

Não existem dados internacionais que possam comprovar que o poliuretano, um material sintético que está a ser utilizado nas escolas como alternativa ao amianto, tem efeitos cancerígenos. A garantia é dada pelo director do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas da Direcção-Geral da Saúde (DGS), Nuno Miranda. O produto também não é considerado perigoso pela Organização Mundial de Saúde.

O poliuretano está a ser utilizado para substituir as coberturas das escolas com amianto, cuja utilização está proibida em Portugal desde 2005 porque a exposição a este elemento está associada a casos de cancro. Mas a coordenadora da Quercus — Associação Nacional de Conservação da Natureza, Carmen Lima, garantiu ao PÚBLICO que o poliuretano, além de ser “altamente inflamável”, tem componentes que “são cancerígenos”.

Esta acusação deixou Nuno Miranda “boquiaberto”. “Não tenho sequer dados internacionais sobre um grau provável de efeito cancerígeno dos poliuretanos”, sublinha o director do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas da DGS.

A lista da Agência Internacional de Investigação em Cancro (IARC, na sigla internacional) coloca o poliuretano no grupo 3, ou seja o dos elementos menos perigosos, desde 1987. Isto é, segundo o organismo que pertence à Organização Mundial de Saúde, não existe nenhum tipo de indicação que tenha propriedades cancerígenas em seres humanos.

Contactada pelo PÚBLICO, a coordenadora da Quercus mantém as suas declarações. De acordo com Carmen Lima, à medida que o poliuretano envelhece vai-se “deformando” e nesse processo liberta “compostos orgânicos voláteis” que são “derivados de hidrocarbonetos”, considerados cancerígenos. “Não se sente o cheiro, é uma libertação suave, mas a perigosidade está lá”, assegura.

Nuno Miranda, da DGS, contrapõe com os dados do “maior estudo” já feito sobre estes “compostos orgânicos voláteis”, recentemente publicado, e que envolveu os trabalhadores de uma fábrica de poliuretano na Suécia ao longo de mais de 40 anos. “A conclusão é que não há evidência de aumento de cancro nos trabalhadores deste tipo de indústria”, explica o especialista.

Ministro da Educação dá garantias

Existem, porém, estudos que mostram “alguma toxicidade” do poliuretano em testes de laboratório, mas não está demonstrada a sua toxicidade em humanos.

Também o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, garantiu nesta quarta-feira no Parlamento que, em relação ao poliuretano, “não existe nenhum tipo de indicação de que tenha propriedades cancerígenas”.

Em resposta a uma pergunta feita pelo deputado do Partido Ecologista “Os Verdes” José Luís Ferreira, o ministro garantiu que nas mais de 500 obras que estão a decorrer em escolas de todo o país “estão a ser respeitados os regulamentos” tanto na remoção do amianto como nas demais questões de segurança.

“Este Governo não deu quaisquer indicações, sugestões ou recomendações para se pouparem em materiais ou para se utilizarem materiais que são perigosos ou que ponham em risco a saúde das nossas crianças, dos nossos docentes e de todos aqueles que trabalham nas nossas escolas”, afiançou o governante.

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