Só auto-cultivo da planta permite pleno acesso dos doentes, diz associação

A vaporização, o processamento em alimentos para ingestão, a preparação de chás ou mesmo óleos para administração sublingual ou transdérmica, são algumas alternativas ao consumo fumado de cannabis, aponta a Associação Cannativa.

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A associação defende o autocultivo de cannabis, mas sublinha que este deve estar sujeito a receita médica Reuters/STRINGER

Uma associação defensora da legalização da cannabis considera que só o auto-cultivo da planta para fins medicinais, ainda que sujeito a receita médica e licença, consegue garantir o pleno acesso dos doentes às várias estirpes da cannabis.

A associação de Estudos Sobre Cannabis, Cannativa, divulgou esta sexta-feira um comunicado, "em resposta ao parecer da Ordem dos Médicos" conhecido na quinta-feira, no qual entende que só o "autocultivo para fins medicinais (...) conseguirá garantir o pleno acesso dos pacientes às mais variadas estirpes da cannabis, indicadas em diferentes tipos de patologia, oferta que as farmácias não conseguirão suprir".

É, contudo, considerado que o auto-cultivo de cannabis deve estar sujeito a receita médica, atribuição de licença e fiscalização pela associação, que se apresenta como defensora da legalização da cannabis para todos os fins.

A Cannativa julga ainda que o auto-cultivo "é também a única via que permite que os doentes deixem de recorrer ao mercado negro e não tenham que pagar os preços exorbitantes que se verificam na República Checa e na Alemanha, por exemplo". "Todos os países que legalizaram a cannabis para fins medicinais e não previram o auto-cultivo para consumo próprio estão agora a braços com graves problemas de acesso e de entupimento dos tribunais, que no limite acabam por fazer jurisprudência e conceder licenças especiais aos pacientes que realmente necessitam", indica o comunicado.

A associação julga também que a questão de fumar cannabis para fins medicinais "vem desviar a discussão do âmbito científico para o âmbito moral, prejudicando assim um debate importante".

Contudo, segundo argumenta o parecer da Ordem dos Médicos, a questão sobre a cannabis fumada deve ser encarada com cautela, pelos potenciais riscos para a saúde pública e porque "nenhum país europeu autoriza actualmente a cannabis fumada para fins médicos".

A Associação Cannativa lembra que existem várias alternativas ao consumo fumado de cannabis, como a vaporização, o processamento em alimentos para ingestão, a preparação de chás ou mesmo óleos para administração sublingual ou transdérmica. "Um paciente que sofra de doença de Parkinson, que tenha espasmos ou convulsões, prefere vaporizar as flores e obter o efeito terapêutico em poucos segundos do que consumir cannabis por via oral e esperar até uma hora para obter o mesmo efeito", refere o comunicado da associação.

No parecer divulgado quinta-feira, a Ordem dos Médicos assume que há várias situações em que há forte evidência da eficácia da cannabis, mas dá precisamente o exemplo do Parkinson ou da esquizofrenia como áreas em que ainda não existe evidência dos efeitos.

A Cannativa lembra que "tem contacto diário com pacientes que recorrem ao uso de cannabis medicinal, incluindo crianças com epilepsia, que são obrigadas a viver na ilegalidade, alimentando redes de tráfico, prejudicando o seu estado de saúde e criando obstáculos à investigação científica". Por isso, apela para que se regulamente com urgência o acesso à cannabis para fins terapêuticos.

A Cannativa foi constituída no ano passado e, no seu site, apresenta-se como uma associação que reúne "especialistas dos mais diferentes quadrantes" entre consumidores e não consumidores, "desde activistas a profissionais da saúde, passando por cientistas, políticos, agricultores, juristas, estudantes, jornalistas e utilizadores de cannabis terapêutica".

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