Ir mais longe, e levantar mais peso, com um empurrão da tecnologia

A CES serviu de palco a muitos aparelhos para o mercado da saúde e desporto.

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Amadores e profissionais, muitos atletas recorrem à tecnologia Kim Hong-Ji / Reuters

A tecnologia já se infiltrou há muito no desporto – a edição de 2018 da CES é mais uma demonstração do fenómeno. Este ano, a Consumer Electronics Show, uma das maiores feiras de electrónicos do mundo que acontece anualmente em Las Vegas no início de Janeiro, dedicou mais de 450 metros quadrados ao exercício físico.

É a primeira vez que há uma zona própria dedicada ao tema. Chamado Sports Zone, o espaço reuniu várias das tendências para o futuro: desde passadeiras eléctricas que custam milhares de euros, a GPS que cabem no sutiã, ou personal trainers de ouvido. De acordo com dados recentes da associação que organiza a CES  – a Consumer Technology Association  –  este mercado de aparelhos electrónicos dedicados à saúde, fitness e desporto deve atingir as 49,3 milhões de unidades vendidas em 2018.

Um GPS que se leva ao peito

Os desportistas amadores já podem ter métricas detalhadas dos seus jogos. Por 229 euros. O SPT 2 é um pequeno sensor de 28 gramas que vem num aparelho para pôr ao peito feito de nylon – à primeira vista parece uma espécie de sutiã de desporto que pode ser usado por homens. Esconde, no entanto, um GPS, giroscópio, acelerómetro e magnetómetro capazes de avaliar a distância, localização, intensidade e impacto de várias actividades físicas.

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A SPT 2 dirige-se aos desportistas amadores

Está a ser desenvolvido pela Sports Performance Tracking, uma empresa australiana que vende equipamento para monitorizar o desempenho de atletas profissionais. “Embora jogadores ao nível amador também dediquem horas e horas aos treinos, muitos não têm os recursos para monitorizar o seu esforço e como é que podem melhorar”, justificou o presidente da SPT, Will Strange, em comunicado.

O  aparelho transmite toda a informação para a plataforma GameTraka, que a disponibiliza na Web (não é preciso instalar qualquer aplicação móvel para ter acesso). É possível ver a velocidade máxima atingida durante um jogo, o tempo que se passou em determinadas áreas do campo, ou as alturas em que se estava mais cansado. 

Levantar pesos para ganhar o jogo

A marca de realidade virtual Black Box VR criou uma máquina de desporto para treinar a resistência física num ambiente de realidade virtual. O conceito foi inspirado por torneios de eSports.

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Fazer exercício torna-se num jogo Black Box VR

Colocam-se os óculos de realidade virtual da HTC, e os controladores são conectados a uma máquina de musculação. No mundo virtual – em que se está a correr por um campo de batalha para invadir a torre inimiga – exercícios como agachamentos desbloqueiam ataques de magia com os elementos da natureza. Para manipular o fogo é preciso fazer exercícios ao nível dos ombros, para usar o poder do vento é preciso treinar o peito, e para influenciar a água é preciso mexer as pernas. 

Quando a bola arbitra o exercício

A 3Pigs é uma startup sul-coreana que fabrica vários acessórios de desporto que vêm com sensores. Em Seoul, é conhecida pelas bolas Woaz disponíveis para diferentes modalidades. As de basebol, por exemplo, têm o mesmo tamanho e peso que uma bola tradicional, mas vêm com um sensor IMU (do inglês Inertia Measurement Unit) que dá informação sobre a velocidade, orientação e forças gravitacionais de um aparelho ao utilizar uma combinação de acelerómetros e giroscópios.

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As bolas funcionam entre seis a oito horas entre carregamentos 3Pigs

Estas bolas funcionam com bluetooth 4.0, são resistentes à água, e duram entre seis a oito horas entre carregamentos. A informação é toda registada numa aplicação móvel (disponível em Android e iOS). Em Maio, a empresa quer lançar o Woaz Plus, um disco – que poderá ser colocado numa pulseira de braço – e dá informação sobre o desempenho do utilizador quando está a correr, au a andar de bicicleta.

Usar os ouvidos para correr melhor

Há um par de auriculares para melhorar a postura durante uma corrida. Vêm da Soul Electronics. Os modelos – o Run Free Pro Bio e o Blade – usam sensores que avisam o utilizador quando se está a encurvar ou a correr mal, de modo a ajudar a evitar lesões. Fazem-no ao monitorizar a cadência (passos por minutos), a oscilação do corpo, a curvatura da cabeça, a consistência da actividade, entre outros. A informação é dada por um "personal trainer digital" que interrompe o que o utilizador está a ouvir para lhe dizer como corrigir a postura. Além disso, os dados são todos transferidos para uma aplicação móvel disponível para iOS e Android.

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Os Blade vêm com Bluetooth 5 Soul Electronics

Ambos os auriculares são à prova de água – incluindo suor –, e funcionam até oito horas entre carregamentos. Os Blade, que são a versão mais cara, têm ainda um monitor de batimento cardíaco. Chegam ao mercado na Primavera, por cerca de 125 euros e 210 euros, respectivamente.

A passadeira de 4000 dólares

A Tread é um ginásio, com vários clientes regulares, disfarçada de passadeira eléctrica. O aparelho custa 4000 dólares (cerca de 3350 euros), mas vem com um ecrã HD de 32 polegadas e aulas virtuais diárias de instrutores profissionais em Nova Iorque. É a grande diferença face a outras passadeiras premium com um ecrã que já existem no mercado. Em vez de filmes e séries, o objectivo da Tread é projectar aulas virtuais colectivas que motivem o utilizador a cumprir os seus objectivos. As pessoas "ligadas" à passadeira podem ver o esforço dos outros participantes no ecrã e competir pelo primeiro lugar. 

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Os instrutores dão as aulas em directo de um estúdio em Nova Iorque Peloton

O aparelho é uma criação da Peloton, uma empresa que quer provar que se pode ficar em forma dentro de casa, com a ajuda da tecnologia e das redes sociais. Além da passadeira, o conjunto Tread inclui um tapete para treinar a flexibilidade, conjuntos de halteres para treinar força, uns auriculares e um monitor do batimento cardíaco. Porém, é preciso dar 39 dólares por mês para ter acesso às aulas virtuais. Para atrair consumidores, a empresa aposta em instrutores que são vistos como pequenas celebridades ao partilhar parte da vida na Internet. Tem funcionado. A empresa diz que 95% dos utilizadores que compraram o modelo anterior, uma bicleta chamada Bike, continua a pagar as subscrições.

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