Altice pondera venda de torres de telecomunicações em Portugal

A Altice vai separar as actividades nos Estados Unidos e na Europa. Em Portugal, a empresa garante que não muda nada, mas admite vender torres de telecomunicações e diz-se empenhada no negócio da Media Capital

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Alexandre Fonseca é o presidente da PT/Altice Nuno Ferreira Santos

Já não é só o oceano Atlântico que separa a Altice USA da Altice NV, a cabeça do grupo Altice, sediada na Holanda. Depois de ter anunciado em Novembro que a redução do endividamento estava no topo da agenda (o que inclui a venda de activos não estratégicos, como algumas das torres de telecomunicações que a empresa tem em Portugal), o multimilionário franco-israelita Patrick Drahi tirou mais um coelho da cartola para apaziguar os investidores e travar a derrocada em bolsa das acções: o anúncio da separação entre a filial norte-americana Altice USA (que reúne as operadoras de cabo Suddenlink e Optimum) e o resto do grupo Altice.

A operação permitirá a cada um dos negócios “focar-se mais nas oportunidades de criação de valor nos respectivos mercados e assegurar maior transparência para os investidores”, justificou a empresa, a propósito da operação que se espera que fique concluída até ao final do primeiro semestre.

Mas a leitura que fazem vários analistas é que uma das principais finalidades do movimento é a de preservar a actividade norte-americana do mau momento da operação europeia e impedir que as acções da Altice USA cotadas em Nova Iorque (que caíram cerca de 35% nos últimos seis meses) continuem a ser contaminadas pela desconfiança face aos títulos da Altice NV, cotados em Amesterdão, que no ano passado perderam quase metade do valor em bolsa.

Por outro lado, a cisão da Altice USA dará a esta empresa maior flexibilidade para participar em movimentos de consolidação nos Estados Unidos.

Os termos da operação de cisão (que esta terça-feira se traduziu numa subida dos títulos tanto nos Estados Unidos como na Europa) incluem o pagamento de um dividendo de 1500 milhões de dólares a todos os accionistas da Altice USA (com recurso a financiamentos da operadora de cabo Optimum), o que significa que a Altice NV irá receber 900 milhões de euros.

Destes, 625 milhões serão usados para reduzir dívida e 275 milhões ficam no balanço. Além disso, a Altice USA também irá recomprar acções próprias num montante de dois mil milhões de dólares (cerca de 1660 milhões de euros) uma vez concretizada a separação.

A Altice NV será transformada em Altice Europe e dentro desta passam a estar três sub-holdings: a Altice France (onde fica o negócio de media e telecomunicações da SFR), a Altice International (onde cabe a PT Portugal/Meo e a israelita Hot, mas também a empresa de publicidade online Teads e algumas unidades da Altice Technical Services) e nasce a Altice Pay TV.

Grupos diferentes, gestões diferentes, mas, claro, um mesmo accionista maioritário: Patrick Drahi, que será o presidente do conselho de administração nas duas operações. Na Europa, a presidência executiva estará a cargo do financeiro do grupo, Dennis Okhuijsen, mas fica claro na apresentação divulgada pela empresa que a seu lado na cadeia de comando – e não abaixo – está o português Armando Pereira, co-fundador da Altice, que liderará as operações da Altice Europe, incluindo, claro, a operação portuguesa.

A Altice nota que Armando Pereira “vai continuar como presidente executivo da SFR”, mas também será “conselheiro de estratégia para todas as operações da Altice USA”. Nos EUA, a presidência executiva caberá a Dexter Goei, que terá como presidentes Hakim Boubazine e Charles Stewart. Quer Goei, quer Okhuijsen devem reportar a Drahi.

Venda de torres e empenho na compra da Media Capital

Foi Okhuijsen quem afirmou na terça-feira, numa conversa telefónica com jornalistas, que em Portugal o plano de alienação de activos não estratégicos está limitado à venda de torres de telecomunicações. É “a única coisa que estamos a ponderar em Portugal”, afirmou o gestor, citado pela Lusa. “Estamos muito comprometidos na compra da Media Capital”, adiantou também.

As alterações no grupo não vão ter impacto no dia-a-dia da Meo, assegurou o presidente da empresa, Alexandre Fonseca, num email enviado na terça-feira aos trabalhadores. “Ao autonomizar a Altice USA do grupo Altice, não só promovemos uma maior clareza e simplificação, como alinhamos melhor o nosso foco na liderança e no desenvolvimento dos mercados locais”, sublinhou o presidente da PT, num email a que o PÚBLICO teve acesso.

Teremos “maior capacidade de entregar valor acrescentado aos nossos clientes, a todos vós, colegas da Altice, e aos nossos accionistas”, prosseguiu o gestor, afirmando que a reorganização do grupo “não altera em nada” o “foco estratégico” ou a “actuação quotidiana" na PT/Meo.

“Eu, o Patrick e o Armando confiamos na excepcional trajectória da nossa operação em Portugal, continuando o caminho do investimento em Infra-estruturas, em serviços e em conteúdos”, finalizou o gestor.

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