Festejar ou não? Os Globos de Ouro são o teste ao escândalo sexual em Hollywood

A cerimónia é já no próximo domingo e Hollywood está dividida sobre os casos de assédio e abuso sexual.

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Preparações para a cerimónia de 2017 REUTERS/Mario Anzuoni

O tapete vermelho está a ser desenrolado, o champanhe está no gelo e as estatuetas estão prestes a serem entregues. A cerimónia dos Globos de Ouro é já este domingo e é a primeira depois de conhecido o escândalo de abuso e assédio sexual que começou com Harvey Weinstein, mas que se alargou a outras figuras da indústria cinematográfica.

“Este é um problema que é palco central em Hollywood e vai reflectir-se nos espectáculos associados aos prémios”, declara Tom O'Neil, fundador do site de apostas GoldDerby.com. Actores e cineastas que já foram grandes apostas noutras temporadas, desta vez foram evitados por quem aposta nos que vão ganhar os prémios.

Além disso, recorde-se que as mulheres já planearam vestir-se de preto nesta noite, uma forma de assinalarem o seu protesto contra o que se passa na indústria; e pelo menos uma festa pós-cerimónia foi cancelada para que o investimento que seria feito reverta a favor da defesa legal das alegadas vítimas de assédio ou agressão sexual. 

Depois dos Globos virão os prémios do Screen Actors Guild, ainda este mês de Janeiro, que serão apresentados só por mulheres. Já em Março chega a cerimónia dos Óscares e ainda não se sabe para que lado vai pender a apresentação.

“Todas as pessoas com quem falei dizem que querem aproveitar a oportunidade para dar visibilidade e atenção a estes temas, em vez de simplesmente glorificar uma única profissão”, conta Michelle Williams, candidata ao Globo de Ouro por Todo o Dinheiro no Mundo.

Recorde-se que mais de 30 homens acusaram Kevin Spacey de assédio e mais de 70 mulheres fizeram alegações contra o produtor de filmes Harvey Weinstein. Mas não são os únicos: o actor Dustin Hoffman e os comediantes Louis C. K. e Jeffrey Tambor estão entre dezenas de outras celebridades, além de políticos e empresários que foram acusados de crimes sexuais.

Weinstein negou ter tido relações sexuais que não fossem consensuais, Spacey pediu desculpas a um dos homens que o acusou, mas sofreu consequências, ao ser apagado do filme Todo o Dinheiro do Mundo e expulso da série House of Cards. Hoffman e Tambor negaram as acusações e C. K. admitiu uma má conduta no passado.

Mas Hollywood também está dividido e a questão do abuso e assédio não é consensual. Em Dezembro, Matt Damon foi criticado por dizer que não se pode confundir um apalpão com uma violação; e mais recentemente Rose McGowan acusou Meryl Streep de permanecer em silêncio sobre o alegado comportamento de Weinstein, obrigando Streep a negar as acusações. A actriz apelou ainda à união das mulheres.

“Isto está a tornar-se uma batalha mutuamente destrutiva em Hollywood e eu acho que eles estão todos muito nervosos”, classifica Pete Hammond, colunista do site Deadline.com.

“Eu sempre vi esta temporada de prémios como uma pequena bolha perfeita onde tudo é mágico e bonito porque são filmes. Eu acho que o que agora percebemos é que [a indústria] tem os seus próprios problemas sobre os quais tem de trabalhar”, analisa, por seu lado, Emily Gordon, guinista do filme Amor de Improviso.

No domingo, todos os olhos estarão em cima de Seth Meyers, o anfitrião da noite dos Globos de Ouro, e no modo como ele navegará durante uma celebração que tem, inevitavelmente, um elefante na sala. “Ele vai ter um trabalho impossível: não pode ignorar o problema que se está a passar em Hollywood e não é algo que faça rir”, conclui Tom O’Neil.

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